Entenda por que algumas pessoas enjoam ao pegar estrada e como se prevenir
Se você é do tipo que não consegue pegar a estrada sem passar mal, saiba de antemão que de nada resolve segurar uma chave, cheirar limão ou a palma da mão, por exemplo. Tudo isso é mito. No que se refere a enjoo e tontura, o que realmente tem comprovação médica é que esses sintomas podem ser causados por problemas digestivos, de equilíbrio ou mesmo por um desencontro de informações capaz de confundir os sentidos e desestabilizar nosso organismo.
Quando a causa tem relação com o estômago, pode ser que a pessoa comeu ou ingeriu bebida alcoólica em excesso antes de viajar e esteja com um quadro de indigestão, que pode se intensificar com o movimento do veículo. Se vomitar, pode sentir ainda mais tontura devido ao esforço excessivo, desidratação e diminuição súbita da frequência cardíaca, que culmina em queda da pressão arterial.
Quem sofre de labirintite ou não está acostumado com veículos em movimento também está sujeito a passar mal. A explicação é que os líquidos que existem dentro do labirinto, no ouvido interno, e que são responsáveis por manter nosso equilíbrio, começam a se movimentar sem o corpo entender o porquê, já que está parado, sem mexer nenhum músculo.
"Para que o corpo se oriente, ele recebe informações da visão, do tato, do ouvido e que são concordantes. Quando não há concordância, ocorre então uma reação chamada cinetose, daí a presença desse mal estar", explica Rodrigo Noronha, cardiologista da BP - A Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Em todo caso, se sintomas como os já mencionados forem frequentes, é preciso investigar a causa e ficar atento se a pessoa também apresenta tontura desassociada de problemas com equilíbrio. "Se não houver relação com o labirinto, pode se tratar de alguma alteração no cérebro. É preciso ficar atento também a algumas alterações neurológicas de alarme, como perda aguda de força, de sensibilidade, de motricidade, de consciência e desorientação", complementa Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista do Hospital Sírio Libanês (SP).
Vômito e remédios para enjoo
Diante de uma indigestão ou quando ocorre uma confusão dos sentidos, o cérebro, sem entender o que se passa com o organismo, acaba interpretando a situação como de perigo e tem como reação espontânea forçar o estômago a botar para fora o que eventualmente pode tê-lo prejudicado.
"A náusea pode ou não levar ao vômito, mas, geralmente, essa sensação prevalece e vem acompanhada de outros sintomas, como suor frio e impressão de desmaio", esclarece Gabriela Cilla, pós-graduada em nutrição clínica funcional pela VP Consultoria.
Quem costuma passar mal em viagens pode se prevenir com medicamentos que possuam princípios ativos como o dimenidrinato, que é antiemético (evita a emese, ou vômito) e antivertiginoso. Gestantes, idosos e crianças só devem tomar medicamentos para enjoo com prescrição médica, que também é recomendada quando o paciente já teve alguma reação adversa grave.
Na dúvida, evite se automedicar, pois alguns medicamentos podem não só mascarar doenças como provocar graves efeitos colaterais. A reação extrapiramidal, por exemplo, embora possa aparecer, em menor escala, associada a substâncias para combater náuseas, como a metoclopramida (Plasil) e a bromoprida (Digesan), causa espasmos musculares, faz os olhos virarem, prejudica a fala e a capacidade de engolir e pode colocar até mesmo a vida do paciente em risco. Esses efeitos passam assim que essas substâncias saem do organismo.
"E se eu esquecer o remédio?"
Para não sentir enjoo nem tontura, os especialistas recomendam a precaução, como evitar álcool, refeições pesadas e difícil digestão e alimentos que possam provocar algum desconforto ou mal-estar durante a viagem.
"O consumo de cafeína e enérgicos também pode estar associado a excesso de palpitações e contribuem para o refluxo, levando à indução ou uma piora das náuseas e vômitos", adverte o cardiologista Noronha.
Ele acrescenta que para prevenir a queda de pressão e também a desidratação, deve se beber bastante água, mas não durante uma crise de náuseas, para não distender o estômago e piorar o quadro.
Sentar no banco da frente do carro e ficar o mais parado possível, olhando algo estável como o horizonte também ajuda a equilibrar os estímulos contrários que o corpo recebe, porque os olhos acabam acompanhando o movimento e o percurso da viagem, esclarece Nakandakari, que vai além: "Respirar profundamente, abrir bem os olhos e evitar ler e manipular o celular também ajuda a minimizar a discordância entre os sentidos e consequentemente os sintomas", diz.
Para a nutricionista Gabriela Cilla, se existem alimentos que aumentam as náuseas e devem ser evitados, como os fermentativos derivados do leite e doces, existem aqueles que contribuem para afastar o mal-estar.
Ela recomenda antes da viagem a ingestão de líquidos claros, como água de coco, chás e caldos para manter a hidratação e alimentos frescos, como raspadinhas, sorvetes leves e salada de frutas, em especial as mais ácidas, como limão e abacaxi.
"Frutas cítricas são ricas em ácido fólico, que estimula a formação de enzimas digestivas, favorecendo o esvaziamento gástrico e diminuindo o surgimento de enjoos. Embora não seja cítrica, a banana, por conter potássio e vitaminas do complexo B também ajuda", conclui Cilla.
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