Vacina contra gripe está em falta; por que ela é importante nesse momento?
Resumo da notícia
- Tomar a vacina da gripe é importante para evitar que dois vírus respiratórios circulem ao mesmo tempo na população, dizem especialistas
- A alta procura já esgotou estoques em clínicas particulares; a campanha do Ministério da Saúde começa no dia 23 de março
- Públicos de risco, como idosos e imunodeprimidos, devem ter prioridade na aplicação das doses
- É importante evitar aglomerações, manter distância entre as pessoas nas filas e higienizar as mãos sempre, evitando o contato com o rosto
Em tempos de pandemia do novo coronavírus, a recomendação médica é que as pessoas tentem manter o calendário de vacinação em dia, dentro das possibilidades. Uma das vacinas mais importantes da temporada é a da gripe, que previne a contaminação pelo vírus influenza, entre eles H1N1 e H3N2.
Velho conhecido do sistema de saúde, o influenza costuma circular no Brasil com mais intensidade a partir de março (embora, em 2020, já tenha sido registrado desde janeiro).
De acordo com um recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, a última temporada no Brasil teve um saldo de mais de quatro mil mortos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) causado pelo vírus. Nos EUA, de acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), a última temporada de Influenza provocou 390 mil internações e mais de 20 mil mortes.
O medo em contrair a doença em pleno estado de emergência por conta do coronavírus, no entanto, aumentou a procura pelas doses de forma inesperada. Na rede particular, segundo a reportagem de VivaBem apurou, em muitas clínicas as vacinas já esgotaram; na rede pública, a imunização começa no dia 23.
O governo do estado de São Paulo firmou parceria com farmácias privadas para a aplicação da vacina contra a gripe gratuitamente. A vacinação será prioritária aos idosos, com 60 anos ou mais, público considerado mais vulnerável ao covid-19. "Até mil farmácias da capital, por meio de acordo com a Abrafarma, farão vacinação a partir de 13 de abril", disse o governador João Doria.
Por que é importante tomar a vacina?
Para começar, a vacina da gripe é importante para evitar que você se contamine com outro vírus potencialmente perigoso. "Isso vai evitar que duas epidemias aconteçam juntas e ainda facilitar o diagnóstico de quem desenvolver a covid-19, que possui sintomas semelhantes", afirma Raquel Muarrek, infectologista da Rede D'Or.
Segundo ela, existe também a possibilidade de que as duas infecções aconteçam juntas, já que o combate a um dos vírus direciona forças para essa batalha, enfraquecendo a resposta imunológica a outros patógenos caso eles entrem no corpo ao mesmo tempo.
O influenza também é conhecido por provocar complicações respiratórias graves em pacientes imunodeprimidos, idosos e pessoas com outras doenças —exatamente o público vulnerável ao novo coronavírus.
"Estar imunizado também garante menos casos que necessitem de cuidados intensivos, aumentando os leitos para quem adquirir a nova doença", explica Gonzalo Vecina, ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e presidente do Instituto Horas da Vida, que presta atendimento médico para a população carente.
Ela protege contra o novo coronavírus?
Não. A vacina da gripe protege apenas contra o vírus influenza (e alguns subtipos mais comuns). "Não há nenhuma evidência científica até agora que indique que o corpo tem uma resposta imunológica ao novo coronavírus por conta da vacina da gripe", enfatiza Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
A especialista reforça, no entanto, que a vacinação auxilia no controle epidemiológico e no tratamento dos pacientes que serão contaminados com a covid-19. "Com as pessoas imunizadas contra a gripe, temos um vírus respiratório a menos circulando pela população causando sintomas semelhantes ao mesmo tempo", afirma.
Quem deve tomar a vacina primeiro?
Embora a busca pelas doses tenha aumentado muito, é importante que os grupos mais vulneráveis tenham prioridade no atendimento. Isso significa reservar vacinas para idosos e pacientes imunodeprimidos. Grávidas e crianças também estão no grupo de risco do influenza, embora, pelo que sabemos até agora, não estejam tão vulneráveis ao novo coronavírus.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde recomendou, em notificação, que as secretarias estaduais e municipais vacinem o maior número de pessoas do público-alvo, estabelecendo medidas para assegurar que isso seja feito sem causar um aumento no risco de transmissão do novo coronavírus.
Essa também é a orientação da Secretaria de Saúde do estado de São Paulo para os municípios, que são os responsáveis por aplicar a vacina. De acordo com Núbia, diretora de imunização da Secretaria, a campanha terá três etapas: a primeira, priorizando os idosos acima de 60 anos e profissionais da saúde; a segunda, focada em professores e portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos; e a terceira para crianças, gestantes e demais públicos.
Ela reforça que, além de mais espaços para evitar aglomerações, é preciso também investir em mais profissionais para o atendimento ao público. "O organizador da fila, por exemplo, precisa ter condições de identificar aquele idoso que está com uma doença respiratória, ou mesmo com febre, e retirá-lo da fila para avaliar sua saúde e se tem condição de receber a vacina", explica.
E, assim como está acontecendo na rede privada, a expectativa é de que a procura pela vacinação na rede pública seja grande. "Há uma sensibilização maior a respeito da importância da imunização, até por falarmos bastante recentemente na campanha contra o sarampo", acredita. "As pessoas estão conscientes de que tomar a vacina agora ajudará a manter leitos vazios para quem precisar por conta do coronavírus", acredita.
Quais as recomendações para tomar a vacina de forma segura?
Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), afirma que as saídas de casa neste momento controlado devem ser feitas de forma organizada. "É preciso pensar em estratégias, como só levar acompanhante se necessário e evitar horários de pico", afirma.
Ela lembra ainda que as recomendações gerais de higiene continuam valendo: manter uma distância de pelo menos 1,5 metro das pessoas nas filas, manter as mãos sempre limpas com água e sabão ou álcool em gel e evitar encostar em maçanetas, botão de elevador e outras superfícies utilizando um lenço de papel.
A recomendação do Ministério da Saúde é que as secretarias criem justamente essa estratégia para evitar que os indivíduos mais vulneráveis possam se contaminar com o coronavírus enquanto aguardam a dose da vacina da gripe.
Para isso, recomendam colocar pessoas dos grupos vulneráveis em salas separadas dos demais grupos; criar postos móveis em áreas ventiladas e mais próximas da comunidade, como escolas e supermercados; e ainda aumentar o efetivo de profissionais de saúde, evitando grandes filas e aglomerações.
Sintomas e tratamento da influenza
A gripe inicia-se em geral com febre alta, seguida de dor muscular, dor de garganta, dor de cabeça, coriza e tosse seca. A febre é o sintoma mais importante e dura em torno de três dias.
Os sintomas respiratórios como a tosse e outros, tornam-se mais evidentes com a progressão da doença e mantêm-se em geral de três a cinco dias após o desaparecimento da febre.
Alguns casos apresentam complicações graves, como pneumonia, necessitando de internação hospitalar. Devido aos sintomas em comum, pode ser confundida com outras viroses respiratórias causadoras de resfriado.
Para evitar a gripe ou a sua transmissão também deve-se fazer uso de medidas preventivas como as contra o coronavírus: higienizar as mãos com água e sabão ou com álcool gel, principalmente depois de tossir ou espirrar; depois de usar o banheiro, antes de comer, antes e depois de tocar os olhos, a boca e o nariz; evitar tocar os olhos, nariz ou boca após contato com superfícies potencialmente contaminadas (corrimãos, bancos, maçanetas etc.).
O retroviral mais usado contra a gripe H1N1 é o oseltamivir, vendido comercialmente sob o nome Tamiflu. O ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta já salientou que esse medicamento não tem efeito contra o coronavírus.
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