Cerca de mil pessoas farão teste com hidroxicloroquina: "Brasil será útil"
Pesquisas com o medicamento hidroxicloroquina, amplamente usado no combate ao lúpus e à artrite reumatoide, aumentaram a esperança no combate à covid-19. Apesar de ainda não haver evidências conclusivas sobre a eficácia da droga, cientistas de diferentes países dedicam tempo e esforços ao estudo de seus efeitos em pacientes com o novo coronavírus.
É o caso do Brasil. Por aqui, pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio Libânes e BRICNet, uma rede que realiza estudos clínicos na área de medicina intensiva, juntaram esforços para encontrar respostas sobre a segurança e eficácia do remédio.
O VivaBem conversou com Otávio Berwanger, diretor de pesquisas clínicas do Hospital Israelita Albert Einstein, que respondeu as principais dúvidas sobre a pesquisa:
Como funcionará a pesquisa?
OB: O estudo será feito de forma colaborativa. Consideramos que não é o momento de uma instituição competir com a outra, mas se unir para conseguir resultados o mais rápido possível. Desenhamos um projeto que envolve centenas de pacientes — até agora, os estudos feitos são muito pequenos — e será dividido em três:
Coalização covid-19 Brasil I, que testará medicamentos em pacientes que não estão em estado grave mas apresentam sintomas como falta de ar leve, febre e tosse persistente. São aqueles casos que não podemos tratar em casa, mas que não requerem cuidados intensivos. Para essa fase, 600 pessoas serão testadas com três estratégias diferentes: um grupo receberá a hidroxicloroquina com a azitromicina, o outro receberá apenas a hidroxicloroquina e os últimos 200 não receberão nenhuma das duas drogas, apenas as outras terapias já usadas para controlar os sintomas.
Coalização covid-19 Brasil II, nosso primeiro projeto a ficar pronto e o que deve iniciar os testes primeiro. É voltado para 440 pacientes de maior gravidade, que necessitam auxílio com oxigênio e estão na unidade semi-intensiva ou intensiva. Dividiremos em dois grupos: um receberá a terapia combinada e a outra metade, só a hidroxicloroquina. Como são casos mais preocupantes, achamos melhor não ter participantes que não recebem pelo menos uma das drogas.
E o Coalização covid-19 Brasil III, em que avaliaremos a efetividade da dexametasona, uma medicação com ação anti-inflamatória, para 284 pacientes com insuficiência respiratória grave, que necessitam de suporte de aparelhos (ventilador mecânico) para respirar.
Qual é a diferença entre a hidroxicloroquina e a cloroquina? Por que a segunda não entrou nas pesquisas?
OB: São medicamentos com composições diferentes, mas muito parecidos em benefícios clínicos. Optamos pela hidroxicloroquina porque a droga tem um tempo de ação e perfil de segurança que parecem apropriados para serem testados nos pacientes, mas só os resultados poderão confirmar.
Também há estudos internacionais testando a cloroquina para pacientes com a covid-19.
Quando começarão os testes em pacientes?
OB: Acredito que os primeiros testes começarão nos próximos dias. O projeto foi montado em tempo recorde. Idealizamos em questão de dias o que geralmente é feito em seis ou até 12 meses. Agora, estamos em fase de aprovação —o que já conseguimos para o Coalização covid-19 Brasil II.
Quando teremos os primeiros resultados?
OB: Estamos nos esforçando para que seja o mais rápido possível e nossa expectativa é ter resultados em aproximadamente dois meses.
Também estamos atualizados com a literatura médica sobre o assunto e em contato com pesquisadores estrangeiros. Dependendo dos resultados que saírem antes, nosso estudo pode mudar.
Quais são os riscos do medicamento?
OB: Os efeitos adversos da hidroxicloroquina já são bem conhecidos. Ela pode causar danos no fígado, coração, alteração de visão... Por isso precisa ser aplicada em pacientes sem contraindicações e utilizada dentro de um protocolo de pesquisa muito rigoroso, com coleta de dados e controle de qualidade feito hora a hora.
Quantos hospitais estão envolvidos no projeto?
OB: Cerca de 70 hospitais em todas as regiões do Brasil. Estamos treinando profissionais da saúde para atuar no estudo e todos os pacientes serão atendidos por ótimas equipes.
O presidente Jair Bolsonaro diz que o Einstein o tem munido de informações sobre a droga. Qual o tipo de atualização que ele recebe?
OB: O governo está a par das atualizações do projeto como as parcerias estabelecidas, aprovações... Ainda não temos informações sobre a eficácia da droga.
Qual é a expectativa dos pesquisadores?
OB: Embora ainda seja impossível dizer se o medicamento funcionará ou não, estamos muito animados.
Com as pesquisas, estamos na mesma altura de outros países, talvez até um pouco à frente. Nossos resultados podem ajudar o mundo todo, temos confiança de que o Brasil será útil.
Como funciona o medicamento
O principal papel da hidroxicloroquina no organismo é controlar a infecção impedindo que o vírus se reproduza. Segundo Claudio Marinho, imunologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo), o remédio modifica o pH de vesículas que estão no interior das células, prejudicando a produção de partículas que um vírus precisa para se multiplicar.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.