Mitos contribuem com preconceito e estigma de quem sofre de epilepsia
A epilepsia é uma doença neurológica que afeta aproximadamente três milhões de brasileiros, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Sobre ela, persistem muitos mitos e informações erradas que contribuem para fazer crescer o preconceito e estigma em relação aos pacientes.
Hoje, 26 de março, é o Dia Mundial da Conscientização sobre a Epilepsia e a Agência Einstein conversou com o neurofisiologista Luís Otávio Caboclo, do Hospital Israelita Albert Einstein, sobre a enfermidade.
O que é a epilepsia?
A epilepsia é uma alteração temporária e reversível do cérebro, que ocorre a partir de descargas elétricas excessivas nos neurônios. Para ser considerado um quadro de epilepsia, a pessoa precisa apresentar crises epiléticas recorrentes. Os episódios podem se manifestar de diversas formas.
Manifestações como "desligar" rapidamente, distorções na percepção ou movimentos descontrolados parciais, perda de consciência, queda seguida de rigidez corporal, tremor e contração corporal podem ser características que se enquadrem em uma crise epilética.
Geralmente elas duram entre um a dois minutos. A partir de cinco minutos é recomendado a ida ao pronto-socorro. Depois de trinta minutos pode haver danos às funções cerebrais. A ida ao hospital também é recomendada se o paciente estiver pela primeira vez apresentando sinais da doença.
A epilepsia pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente em crianças e idosos. "Na infância, traumas no parto ou doenças metabólicas podem ser responsáveis pela epilepsia. Já em idosos, AVC e tumores", afirma Caboclo.
Tratamentos para epilepsia
Várias formas de epilepsia têm cura, especialmente as que afetam crianças. "Até os 12 anos elas param de ter qualquer sintoma", diz o neurofisiologista. Em adultos e idosos é necessário o uso de medicamentos. Cerca de dois terços das pessoas que utilizam remédios obtêm melhora importante.
O terço que não melhora, aproximadamente 600 mil pessoas no país, precisa ser submetido a cirurgias (neutralizam o foco das descargas elétricas). Em muitos casos, o uso do cannabidiol também é eficaz.
Composto químico encontrado na planta Cannabis sativa, o cannabidiol tem o seu uso legalizado para o tratamento de epilepsia desde 2015. Muitas pesquisas já demonstraram o benefício do composto para pacientes com epilepsia.
Um dos estudos mais recentes, feito em 2008 pela Universidade de Nova York, mostrou que dos 225 pacientes, 41,9% apresentaram diminuição de convulsões que ocorriam devido a uma rara forma de epilepsia.
Contudo, esse tratamento ainda é pouco acessível. "É um tratamento caro. É necessário importar o remédio, já que ele não é fabricado no país", ressalta Luís Otávio. Para poder trazer o medicamento de fora, o paciente precisa fazer uma declaração à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) relatando a necessidade, junto de um relatório produzido pelo médico.
Mitos e verdades sobre a epilepsia
- A epilepsia é uma doença contagiosa?
Por ser uma doença neurológica, a epilepsia não é transmitida via saliva do paciente. Em alguns casos mais raros, ela pode transmitir outras doenças infecciosas, por isso a recomendação é que quem está socorrendo tenha o menor contato possível com a secreção.
- Devemos impedir que o paciente engula sua própria língua?
Não há a possibilidade de a língua enrolar ou do paciente engoli-la. Em nenhuma hipótese podemos colocar nosso dedo, pelo risco de alguma lesão, ou qualquer objeto na boca, já que a ação pode causar lesões dentárias e nas gengivas.
- Como devemos agir no caso de uma crise epilética?
Durante uma crise é preciso colocar o paciente de lado para prevenir que ele sufoque com possíveis vômitos ou outras secreções. A cabeça não pode estar no chão, mas sim em uma superfície confortável como uma almofada. "É importante proteger o paciente, tirando de perto dele objetos que possam o machucar como sofás, cadeiras e mesas", completa o neurofisiologista do Einstein.
- Convulsão é a mesma coisa que epilepsia?
Não. A convulsão é um dos tipos de epilepsia. Ela é uma das formas de crise epilética mais intensas.
- Quais fatores externos podem influenciar em uma crise epilética?
Fatores como estresse, privação do sono, consumo exagerado de bebidas alcoólicas e produção excessiva de hormônios são alguns que podem resultar em uma crise.
- Uma pessoa com epilepsia pode ter uma rotina comum?
Sim. Pessoas que tenham crises controladas podem e são incentivadas a ter uma vida comum. Elas devem trabalhar, estudar, praticar esporte. Caso a pessoa esteja há mais de dois anos sem ter uma crise, pode dirigir.
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