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Como funciona a laqueadura? A cirurgia tem reversão?

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Imagem: iStock

Priscila Carvalho

Do VivaBem, em São Paulo

27/03/2020 04h00

Escolher não ser mãe ainda é visto com estranheza pela sociedade, já que mulher e maternidade são encaradas como ideias que andam juntas. Em alguns casos, um dos métodos usados para barrar uma gravidez indesejada é a laqueadura, cirurgia que promove a esterilização definitiva da mulher.

O procedimento costuma ser de baixa complexidade e dura cerca de uma hora. Em um dos tipos, as tubas uterinas, conhecidas anteriormente como trompas, recebem cortes no meio e têm as extremidades suturadas (amarradas) ou cauterizadas, impedindo que os óvulos entrem em contato com os espermatozoides.

Já em outro modelo, pode ser colocado um tipo de "anel" ou grampos, que comprimem as trompas obstruindo a passagem dos óvulos liberados do ovário para o útero.

Embora a cirurgia seja simples, segundo a lei 9.263/96, que trata do planejamento familiar, somente mulheres com mais de 25 anos ou com dois filhos vivos podem realizar a laqueadura no SUS (Sistema Único de Saúde). A mesma regra vale para o sistema privado.

Se a mulher for casada, precisa de uma autorização do cônjuge para realizar a cirurgia. Por curiosidade, em caso de vasectomia, a mulher também precisa conceder a aprovação ao parceiro para realizar o procedimento.

Já para quem é solteira, o procedimento também está disponível. No entanto, ainda existem barreiras colocadas pelos próprios médicos para fazer a laqueadura em mulheres maiores de 25 anos e sem filhos.

"O que ocorre é que a classe médica é um pouco preconceituosa e acha que a mulher irá se casar e mudar de opinião", explica Denize Ornelas, médica da família e comunidade, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Segundo a especialista, a medicina precisa olhar para o direito sexual da mulher. "Não deveria ter qualquer tipo de barreira, já que ela decidiu que não quer ter filhos. Ainda acham que a mulher poderá mudar de opinião e se esquecem de pensar que existe o direito reprodutivo dela", reforça a ginecologista.

Regras e protocolo

Rogério Bonassi Machado, ginecologista e presidente da Comissão Nacional especializada em anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que o procedimento tem regras e segue um protocolo. Normalmente, ao tomar a decisão, a mulher precisa informar que deseja fazer o procedimento 60 dias antes.

Ela passará por um acompanhamento multidisciplinar e terá o procedimento autorizado por dois médicos. Em alguns casos, é possível realizar a cirurgia durante a cesárea. "Nada é feito com a mulher fragilizada. Mesmo para quem já tem dois filhos, deve-se ter um acompanhamento antes da gestação", afirma.

Laqueadura precoce é indicada?

Não. Segundo os especialistas, um dos principais motivos para estabelecer uma idade "certa" para fazer a laqueadura é o arrependimento.

Muitas vezes, mulheres jovens e sem filhos podem mudar de ideia, optar por uma gestação no futuro e a técnica não pode ser a primeira ou a mais indicada para a contracepção.

"Existem outros métodos contraceptivos que podem ser considerados mais efetivos antes de recorrer à laqueadura. A mulher pode usar DIU, pílula, implante subdérmico. Por isso existe um limite de idade e regras para o procedimento", diz Aricia Giribela, ginecologista e membro do comitê editorial da Sogesp (Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo).

A laqueadura tem reversão?

Sim. Embora as chances de a mulher voltar a engravidar sejam menores (cerca de 5%), é possível reverter o procedimento. Isso porque, além de as trompas serem delicadas e pequenas, quanto mais tarde, menores são as chances de ela engravidar de forma natural. "Nesses casos já recomendamos a fertilização in vitro, já que é colocado o óvulo fecundado", reforça Machado.

Quando a laqueadura ocorre, a estrutura celular é comprimida e o tecido necrosa, gerando uma lesão celular. Para a técnica de reversão ocorrer, é necessário que o médico verifique se as estruturas celulares estão saudáveis para fazer canalização, que consiste em ligar novamente as extremidades das trompas. "Não é tão simples, por isso requer uma avaliação do médico, já que a laqueadura pode ocorrer ou não", diz Ornellas.