Coronavírus: sexo não turbina imunidade e aumenta risco de contaminação
O medo em torno da pandemia do novo coronavírus tem feito com que muitas fake news eclodissem na internet. Dessa vez, nem o sexo ficou de fora. Alguns textos circularam em sites e redes sociais dizendo que transar e se masturbar podem ajudar na prevenção do vírus —o que não é verdade.
As notícias falsas utilizam como argumento um estudo feito pelo Departamento de Psicologia Médica, da Clínica Universitária de Essen, na Alemanha. A pesquisa, publicada em 2004, fez um experimento com apenas 11 homens, que tiveram o sangue coletado antes e depois de se masturbarem. Os resultados mostraram que a atividade sexual e o orgasmo induzem o aumento na circulação de células específicas do sistema imune, chamadas NK, mas teve efeitos mínimos ou inexistentes no resto delas.
O estudo foi feito com uma amostragem muito pequena para concluir que o sexo melhora o sistema imune. Além disso, outras pesquisas já mostraram que a relação sexual não influencia na defesa do organismo.
Uma delas, publicada no periódico The Journal of Sex Research em 2017, examinou 32 mulheres saudáveis e concluiu que "a atividade sexual não tem um efeito universalmente positivo ou negativo na imunidade das mulheres".
Outra pesquisa, publicada no Psychological Reports em 2004, analisou 112 estudantes universitários e mostrou que tanto o grupo que fazia sexo três ou mais vezes por semana quanto o que transava menos de uma vez por semana tinham os mesmos níveis do anticorpo imunoglobulina A.
Isso significa que, não, o sexo não melhora a imunidade e muito menos protege contra a covid-19. "Ele apenas libera endorfinas que dão sensação de bem-estar e relaxamento", diz Adilson Westheimer, médico infectologista da APM (Associação Paulista de Medicina).
O problema é que as relações sexuais podem aumentar as chances de contaminação. Já se mostrou a possibilidade de transmissão por fezes, o que poderia fazer com que fossem cogitadas infecções pelo sêmen e por fluidos vaginais. Entretanto, ainda não existem estudos para comprovar.
O virologista Rômulo Neris, formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador visitante da Universidade da Califórnia, nos EUA, diz que não sabemos o suficiente ainda para afirmar ou descartar a possibilidade de transmissão sexual.
Segundo ele, um trabalho chinês descreveu uma paciente com covid-19 em Wuhan que testou positivo para amostra de epitélio anal. "Foi um evento raro, porque isso já tinha sido testado e dado negativo em vários outros indivíduos." Mas ele afirma que, ainda assim, não é descartável que nessas circunstâncias a exposição ao vírus poderia causar infecção.
Neris ainda conta que amostras de swab vaginal até agora deram negativo, "e isso provavelmente se deve ao fato de que o vírus depende de uma proteína chamada ACE2 para infectar células, e ela não é produzida na mucosa vaginal."
O infectologista Renato Grinbaum, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), afirma que é muito cedo para dizer se o vírus pode ser passado por vias sexuais. Mas a transmissão pelo toque é certa. Westheimer diz que o contato íntimo, seja ele pelo beijo ou por outros toques, são fatores comprovados que aumentam a chance de transmissão do coronavírus.
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