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"Meus pais foram do enterro ao hospital", diz irmã de vítima de covid-19

Maurício foi enterrado no último domingo (29) e pais seguem internados com covid-19 - Arquivo pessoal
Maurício foi enterrado no último domingo (29) e pais seguem internados com covid-19 Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Do VivaBem, em São Paulo

01/04/2020 10h11

"Ele é advogado". É assim, no presente, que Simone Suzuki se refere ao irmão Maurício Suzuki, 26, que morreu no último sábado (28) devido à covid-19 —doença causada pelo novo coronavírus.

Ela conta que a doença progrediu rapidamente e que tudo começou com uma tosse seca e sintomas semelhantes aos de uma gripe. Maurício chegou a procurar um hospital devido ao incômodo, mas naquele momento o médico disse que podia ser um resfriado e deveria ser tratado em casa.

"Ele procurou atendimento no hospital, mas fizeram apenas uma avaliação clínica. Não o examinaram nem nada", diz Suzuki.

Ao sair do local, ele preferiu ir para casa da irmã para ficar em isolamento e não correr o risco de os pais ficarem doentes —mesmo ainda sem saber se era coronavírus. Porém, mesmo tomando os remédios, a febre não passava.

"Voltamos ao hospital, onde ele foi submetido a um raio-X e tomografia, que identificou o quadro de infecção. O médico disse que era forte a suspeita de coronavírus, mas que os testes só eram feitos em pacientes graves", conta.

Maurício covid-19 - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Depois disso, ele voltou para casa e seguiu em total isolamento. No entanto, os sintomas pioraram e ele ficava sem ar, até andando dentro de casa. Procuraram novamente um hospital. Ele precisou ser internado e depois de alguns dias, foi intubado na UTI.

Segundo Suzuki, o médico informou que seu irmão era o paciente mais grave daquele momento no hospital. "Ele me disse que temia o que ia acontecer nas próximas horas. Os rins não estavam funcionando direito, sugeriram uma diálise, mas que também não era garantia de nada."

Nesse meio tempo, ela tinha ido para a casa dos pais, na tentativa de levá-los para uma visita ao irmão no hospital. Não deu tempo. Ela recebeu o telefonema do médico informando que Maurício havia sofrido uma parada cardíaca e morreu, antes mesmo de eles chegaram ao local.

Pais seguem internados com coronavírus

Mesmo estando em isolamento alguns dias antes de morrer, Maurício Suzuki teve contato com os pais, que também foram diagnosticados com coronavírus no último domingo (29). "Saímos do enterro direto para o hospital, porque eles também apresentaram os sintomas", conta Simone.

Hoje, eles continuam internados em um hospital da rede Prevent Senior e acompanham os sintomas. " Eles estão com um quadro estável. Apresentam apenas um cansaço respiratório, mas como não estavam se alimentando direito, vão continuar no hospital", diz.

O quadro está sendo monitorado e o tratamento é feito à base de cloroquina, remédio que é usado por pacientes que têm doenças autoimunes —como lúpus e artrite reumatoide—, e que segue tendo a sua eficácia estudada por médicos.

"Acho que eles estão com um grande vazio, mas estão lidando com a situação melhor do que eu imaginava. É bem triste, mas vamos pensar no melhor", desabafa Simone.

"Ele queria ser juiz"

Maurício sempre foi bem reservado, calmo e era o orgulho dos pais. Aos 26 anos, já tinha uma profissão estável, trabalhava como advogado e queria ser juiz no futuro. "Ele tinha muitos planos, sonhava muito. Ele estava na pós-graduação, o foco era chegar ao cargo de juiz", conta Simone.

A irmã relembra que durante toda a infância ele foi um menino que nunca deu trabalho e que sempre foi muito esforçado.

Mesmo trabalhando muito, ele ainda conseguia achar tempo para correr. E foi participando de provas de 5 km, 10 km e 21 km que ele encontrou um hobby e conquistou diversas medalhas.

"Ele se dedicou muito. Treinava nos parques, fazia academia, conciliava a corrida com a carreira. Era uma pessoa alegre, não tinha muita encanação. Sempre estava disposto, estava ali para ajudar."