Drauzio: 'Esquece sua vida normal, vai demorar muito tempo para voltar'
A desigualdade social é um fator que contribui para o contágio do novo coronavírus no Brasil, que demorará "muito tempo" para retomar os hábitos anteriores à pandemia. É o que afirmou hoje o médico e escritor Drauzio Varella no programa UOL Debate que discutiu o momento atual do vírus no país.
"Nós estamos pagando o preço da desigualdade social. Sempre encaramos isso com naturalidade. Vamos pagar o preço de termos construído estádios na Copa (do Mundo de 2014) que hoje estão sendo transformados em hospitais. Não sabemos como a epidemia vai se disseminar em um país com essa desigualdade social. Sabemos o que está acontecendo em países ricos. No Brasil, não, agora que nós vamos saber. E pode ser terrível", disse Drauzio, que ainda não faz previsões para que a população retome a rotina anterior à pandemia (a partir de 52min no vídeo).
"Tínhamos visão benigna da epidemia, mas estamos numa situação de guerra. Esquece a vida normal, ela não vai existir por muito tempo. Não vai ser normal porque não poderá ser. Daqui a quanto tempo vai acontecer? Não tenho ideia, ninguém tem ideia. Na prática, estamos aí, quando começou? Em dezembro, em janeiro sabemos de lá. Tem três meses, é impossível fazer previsões sobre o futuro", acrescentou o médico, defendendo o Sistema Único de Saúde (SUS) no combate ao novo coronavírus (a partir de 53min no vídeo).
"A realidade é muito dura. Ainda bem que temos o SUS, que todo mundo xinga, que não serve para nada. Imagina agora se não teria. Será que vai ter vaga para mim no (Hospital Albert) Einstein? E se não existisse o SUS, para onde eu iria?", questionou (a partir de 54min no vídeo).
Morro de medo quando veja as UTIs que conheci no Norte, Nordeste. É muito precária a assistência médica oferecida" Drauzio Varella
Em meio à mudança de rotina da população, profissionais de área médica defendem medidas como o isolamento social para evitar uma situação ainda mais perto do limite no sistema de saúde. Ainda assim, a pandemia vai aproximar hospitais da saturação — e as diferenças sociais do Brasil mais uma vez devem se fazer presentes neste momento.
"O confinamento e o isolamento social permitem à gente não ter nossa capacidade excedida. Hoje, nos ambientes a que tenho acesso, não estão saturados ainda. As projeções estão mais para o início da segunda quinzena de abril. A única forma de mitigar é o isolamento. Existe uma chance muito grande de o confinamento de duas semanas fazer com que a capacidade não seja excedida e o sistema não entre em colapso, pelo menos em São Paulo. Os dados estão mostrando que, no setor público, começou depois. A disseminação ainda não aumentou de maneira descontrolada", disse Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (a partir de 1h09min50seg no vídeo).
Melhor não pisar em tachinha ou ir para hospital nenhum. Já fui otimista, hoje não sou mais. Conheço um pouco da realidade espalhada" Drauzio Varella
"Temos vários Brasis. Aqui em São Paulo, tentamos lidar com essa situação. Os profissionais têm investido em cursos, testes, para que consigamos lidar de forma mais rápida. Lembrando que há uma carência diferente das grandes cidades e centros urbanos", exemplificou (a partir de 1h06min42seg no vídeo).
Além de Drauzio Varella e Sidney Klajner, a edição de hoje do UOL Debate reuniu Ester Sabino, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP; Paulo Chapchap, diretor geral do Hospital Sírio-Libanês; e Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz.
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