Em serviço de telessaúde, dúvida de quando ir a hospital aflige pacientes
O Núcleo de Telessaúde da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) está desde o dia 27 de março realizando atendimentos virtuais para pessoas com dúvidas ou suspeita de covid-19 —doença causada pelo coronavírus. A experiência em atender pessoas de todo o Nordeste, por chat ou vídeo, revelou que existe um tipo de questão que aflige quase todos os pacientes remotos.
Aracele Cavalcanti, enfermeira e doutora em ciências da saúde, atua no núcleo de Telessaúde e está na linha de frente dos atendimentos. A VivaBem, ela conta que a grande dúvida é: quando devo ir a um serviço de emergência?
"A maioria está com sintomas leves gripais, às vezes alérgicos, mas estão assustados sem saber qual o momento que devem procurar uma unidade de saúde", conta.
Cavalcanti explica que, nesse contexto, identifica dois tipos clássicos de pacientes: aqueles que querem ir a uma emergência, mesmo sem necessidade; e aqueles que não querem ir, mas precisam.
"Atendi um caso de uma senhora de 85 anos com sintomas gripais ou infecciosos: diarreia e vômitos persistentes há três dias. Solicitei que fosse imediatamente para a emergência. Também tinha desidratação e sonolência. Ou seja, as pessoas também têm esse problema reverso, ficam com o doente em casa muito tempo. Idoso de 85 anos com diarreia de hora em hora tem que ir para o hospital, não adianta fazer soro caseiro. Mas como é idosa, ficam com medo de levar para a emergência que pode estar cheia de coronavírus", relata.
Sintomas apresentados
Mas na maioria dos casos, os principais sintomas relatados coincidem com os da covid-19. "Eles falam de tosse, dor de garganta, sensação de febre, diarreia… a falta de ar é comum, mas geralmente leve. Têm pessoas que acham que estão com falta de ar, mas quando a gente vai perguntando, percebe que é uma falta de ar sem repercussão em nada, sem restringir rotina, mais na hora de dormir, compatível muito mais com distúrbio de ansiedade", diz.
Cavalcanti acredita que, se não houvesse serviços de atendimento à distância, as emergências poderiam estar sobrecarregadas. "Muita gente iria estar se expondo em unidades de saúde de forma desnecessária. O que tentamos passar para eles é uma segurança para tomar atitudes e as devidas orientações de proteção, sem ele precisar sair de casa", diz.
Como orientação, os teleatendentes sempre deixam recados para ficar atento ao que chamam de "sinais de alarme."
"Isso seria a piora dos sintomas. Alguns dizem estar com essa sensação de falta de ar quando vão dormir. Quando identificamos a dispneia mesmo, solicitamos ao paciente que vá à unidade de saúde mais próxima", diz.
"A partir das nossas perguntas, a maioria não acorda com falta de ar e consegue conciliar o sono e ficar bem, mas ficam preocupados. Também existem os que têm asma e falam de falta de ar, porém às vezes entraram em contato com alguma substância alérgena e percebem melhora com o broncodilatador que já fazem uso. Um ou outro atendimento vem caracterizado com sinais de alerta", completa.
Existe também quem procura o núcleo sem apresentar sintomas gripais, mas com algo que compromete o estado de saúde. "Nesse caso solicitamos que ele agende atendimento por videoconferência para que os profissionais avaliem de forma mais específica o manejo desses sintomas", explica.
Telemedicina liberada no Brasil
No último dia 19, o CFM (Conselho Federal de Medicina) encaminhou ofício ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informando a decisão de reconhecer a possibilidade de uso da telemedicina no país. A decisão vale em caráter excepcional e enquanto durar o combate à pandemia da covid-19.
Segundo com o documento encaminhado, a telemedicina pode ser exercida nos modelos de teleorientação, telemonitoramento (que possibilita, sob supervisão médica, que pacientes sejam monitorados em parâmetros de saúde e/ou doença) e teleinterconsulta (que permite a troca de informações e opiniões exclusivamente entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico).
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