Para especialistas, desinformação na pandemia é 'Rivotril que desampara'
O distanciamento social durante a pandemia do novo coronavírus reflete na saúde mental. Diante do volume de informações a respeito, não é raro que as pessoas se preocupem e sintam ansiedade. Mas como lidar com isso?
Para responder a esta e outras perguntas, o UOL Debate de hoje reuniu Carmita Abdo, psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da USP; Contardo Calligaris, escritor, psicanalista e dramaturgo; Vera Iaconelli, psicanalista e diretora do Instituto Gerar; Leandro Karnal, historiador e professor do Instituto de Filosofia da Unicamp; e Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP.
Para Calligaris, a situação é, de fato, "extremamente ansiosa". "As incertezas são ansiógenas. Quando vamos sair disso? Não sabemos", disse o psicanalista - que, no entanto, defende a informação de qualidade frente à covid-19.
"Não acredito que temos que atribuir nossa ansiedade ao excesso de informação. Claro que tem um efeito negativo, mas antes de culpar a imprensa ou qualquer outro tipo de canal, primeiro tem que pensar que está faltando grande parte da interação principal, aquela conversa com o cara da padaria de manhã. A produção de conteúdo corresponde a necessidade do mundo", acrescentou.
Já segundo Dunker, a informação deve ajudar a tranquilizar as pessoas.
"É uma incerteza que pode ser mitigada com informação, como curvas, procedimento de proteção, que são relativamente eficazes para combatermos o medo excessivo. O problema é que se transforma num pau para toda obra e a pessoa lida com angústias, complexo, a informação se torna contraproducente. Um Rivotril que te deixa menos eficaz e mais desamparado", afirmou, rechaçando a sedação diante das informações.
Vera, por sua vez, pede calma à população, sem pânico. "As pessoas ficam dando cabeçada, entrando nos loopings. São temas que precisam de um mínimo de calma, pensar na melhor possibilidade. Me senti compelida a responder tanto pela minha ansiedade quanto demanda excessiva", afirmou.
Carmita ressaltou o ineditismo da situação da pandemia em todo o mundo, o que gera incertezas. "A maioria de nós nunca passou por uma situação tão grave, tão tensa. Ouvindo falar, não são temas tão agradáveis: isolamento, tensão sexual, quarentena. Acaba criando um nível de ansiedade em qualquer um", analisou. "Todo dia tem assunto novo, todo dia algo acontece — vacina, não tem remédio, quem morreu. Essa situação é ansiógena a qualquer um. Viver dentro de um clima nada ameno, mas que vamos aprendendo a lidar na medida em que estamos vivendo."
Leandro Karnal reforçou que a informação de qualidade é bem-vinda em situações como a atual. "Não existe excesso de informação, mas sim informação, ruim", defendeu.
"Informação é sempre bom, mas temos que aprender a fazer perguntas: a quem interessa? Quem ganha com isso? Nunca prejudica alguém a pensar demais. Não é o carteiro o responsável pelo luto narrado no telegrama, mas a situação em si. A gripe espanhola, por exemplo, só foi intitulada assim porque a Espanha era a única que não sofria repressão. Não é excesso de informações, mas possibilidade crítica de informações. Quanto mais puderem ler e pensar, 'eu duvido o que o fulano disse' e puder verificar os dados, é bom. Precisamos de um bom ouvinte e bom leitor. As pessoas acreditam que a internet é uma produtora de verdade. Mais imprensa livre, mais argumentos, melhor", avaliou.
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