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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Tristeza na quarentena: como lidar com o sentimento de forma saudável

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Imagem: iStock

Lucas Vasconcellos

Colaboração para o VivaBem

09/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Tristeza é um sentimento saudável, ainda mais dentro do contexto atual
  • Se permitir vivenciar as emoções é um caminho para passar pelo isolamento físico
  • Redes sociais podem ser aliadas durante a quarentena, se bem usadas

Como você se sente hoje? A resposta para esta pergunta tão simples e corriqueira ganhou novas nuances nas últimas semanas, quando o Brasil adotou o isolamento social para combater a propagação do coronavírus. O período é de incertezas e sem garantia de volta à normalidade.

O que não faltam são opções para enfrentarmos o confinamento da melhor forma possível: exercitar-se, aprender um novo idioma, colocar séries e livros em dia, cozinhar pratos elaborados, fazer cursos. Parece fácil, já que temos mais tempo. Mas para alguns, a tristeza começa a ficar acentuada e já não há mais ânimo para preencher as horas do dia (veja algumas dicas para quando o ânimo falta).

E tudo bem não estar bem. Se permitir viver a tristeza e entender que cada um é um são caminhos para encarar esse cenário inédito. No entanto, é preciso estar atento para que esse sentimento não avance para algo mais grave.

"Dentro da cultura que vivemos, assumir algumas emoções é confundido com fragilidade. Parece que estar triste demonstra ser menos resiliente. Todo mundo sente essa dor, mas muita gente esconde", conta Saulo Velasco, psicólogo e professor na The School of Life São Paulo e Paradigma - Centro de Ciência e Tecnologia do Comportamento. "Cobrar-se para estar bem mostra o quanto, às vezes, nos cobramos demais. É preciso ser generoso consigo, se permitir chorar, estar desanimado", completa o especialista.

Um lupa sobre as emoções

Quando se fala de saúde mental, não é possível cravar uma única resposta —cada ser humano é um universo e encara as situações de uma forma. Certo é que precisamos vivenciar os sentimentos. E também ficar de olho para que a tristeza não nos domine e se transforme em algo mais grave. "É importante a gente lidar com o que sentimos, entender o porquê das emoções", considera Bruno Branquinho, psiquiatra e psicanalista do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Ele esclarece que apesar de não haver uma métrica para quando a tristeza deixa de ser algo saudável, algumas pistas podem indicar que a situação está fugindo do controle: "quando você não consegue trabalhar; deixa de fazer coisas que sentia prazer, como ler ou praticar atividades físicas; para de se cuidar (ficar só na cama, não tomar banho, se alimentar mal) são indícios", enumera.

Redes sociais devem ser aliadas

Basta entrar em alguma rede social para ver pessoas se divertindo. E para quem não está legal, o ambiente digital vira inóspito. "É preciso esclarecer que rede social não é vilã, o problema é como a gente usa. Tem gente que neste período está descobrindo coisas, fazendo aulas gratuitas e treinos, por exemplo. Em contraponto, há quem piore, pois surge o sentimento de não estar justamente aproveitando o tempo", diferencia o especialista.

Para essas pessoas, a recomendação é gerenciar o tempo de uso ou até mesmo apagar os aplicativos momentaneamente. "É hora de valorizar os contatos reais, por meio de ligações e videochamadas, que envolvam a troca e não somente a imagem", frisa Branquinho.

Um passo de cada vez

Ainda que não se possa cravar soluções, alguns hábitos cotidianos ajudam a minimizar a tristeza trazida por esse período. É hora de focar naquilo que se tem controle. Por isso, estabelecer horários para se alimentar, se exercitar e dormir são importantes. Separe também um período específico para ler sobre a covid-19 e busque se informar em veículos confiáveis - fuja de conteúdos alarmistas vindo de grupos de conversas virtuais. Procure também compartilhar o que sente com as pessoas que confia - se abrir não é sinônimo de fraqueza. Caso sinta necessidade, busque ajuda especializada - profissionais de saúde estão aptos a atender online.

Fontes: Bruno Branquinho, psiquiatra e psicanalista do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP; e Saulo Velasco, psicólogo, pós-doutor em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (USP) e professor na The School of Life São Paulo e Paradigma - Centro de Ciência e Tecnologia do Comportamento.