"Isolamento foi eficaz e SP achatou a curva", diz infectologista do HC
Em tempos de pandemia do novo coronavírus, a população tem assistido a conflitos entre política e ciência —não só no Brasil. Mas para especialistas, é importante ressaltar que as medidas de isolamento social têm sido eficientes no achatamento da curva de contágio da covid-19.
O assunto foi discutido na edição de hoje do UOL Debate. O programa foi gravado ontem em parceria com o Hospital das Clínicas e reuniu Douglas F. Nixon, médico e professor de Imunologia na Weill Cornell Medical College, considerado um dos maiores especialistas dos EUA em covid-19; Esper Kallás, infectologista, pesquisador e professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; e Drauzio Varella, oncologista que já trabalhou como professor em diversas instituições de ensino, além de ter realizado um trabalho sobre a prevalência do vírus HIV na população carcerária da extinta Casa de Detenção do Carandiru, que se tornou referência mundial.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) vem sendo alvo de diversas críticas oriundas principalmente de apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). No entanto, para Kallás, a postura paulista tem sido eficiente.
"Os números de São Paulo têm mostrado que o que foi adotado nas últimas duas semanas para três semanas surtiu efeito. A gente tem acompanhado a curva do número de casos que procuram os pronto-socorros, e notou que na última semana houve uma certa estabilização", disse o infectologista. "De que forma isso vai se comportar, não dá para prever. O que foi feito surtiu algum efeito protetor e nós precisamos aprender com a nossa experiência. O que foi feito e o que colhemos com as nossas ações para decidir o que vamos fazer daqui para frente."
Kallás lembra, no entanto, que as estatísticas no momento mostram o número de pacientes que procuram hospitais, e não necessariamente os casos diagnosticados com o novo coronavírus.
"Isso depende do teste, ele é limitado. Nós temos uma fila para trás. Esse número é baseado no número de pessoas que está chegando ao hospital com uma doença respiratória aguda grave, que é um indicador que não dá para esconder. E esse número estabilizou", acrescentou.
Problema social
Drauzio reforçou o discurso e apontou "os benefícios do isolamento social" no combate à pandemia. Para o médico, não é hora de baixar a guarda.
"O problema é que, quando você relaxa, demora a aparecer. Mesmo nas formas mais graves, as pessoas passam até sete dias até desenvolver sintomas. Você vai colher os benefícios um pouco para frente", disse Drauzio, lembrando a desigualdade social do Brasil como um obstáculo a mais no combate.
"O isolamento vertical não faz muito sentido do ponto de vista epidemiológico porque essas pessoas não moram sozinhas. Nós vamos pagar o preço da nossa desigualdade social: moradias mínimas, famílias inteiras que vivem dentro de um cômodo. Isso vai tornar a epidemia gravíssima", alertou.
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