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Ultraprocessados prometem falsa praticidade na quarentena: derrube 3 delas

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Imagem: iStock

Thiago Varella

Colaboração para o VivaBem

16/04/2020 04h00

Seja por falta de tempo para cozinhar, pela diminuição das idas ao supermercado ou simplesmente como compensação emocional pela sensação de estar preso dentro de casa, o período de quarentena para evitar a proliferação do novo coronavírus pode trazer outro risco a nossa saúde: o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados. Se você ainda não sabe o que são esses alimentos, entram na categoria de ultraprocessados refrigerantes, sucos artificiais, macarrão instantâneo, hambúrguer industrializado, refeições prontas congeladas como lasanhas e pizzas, bolachas e outras tantas guloseimas.

"Essas formulações são feitas para serem visualmente atrativas, ter aroma sedutor e sabores muito intensos ou mesmo 'irresistíveis', usando para tais finalidades combinações sofisticadas de flavorizantes, corantes, emulsificantes, edulcorantes, espessantes e outros aditivos que modificam os atributos sensoriais", explicou a nutricionista Maria Laura da Costa Louzada, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). É por isso que são tão tentadores quando a gente vai fazer compras no supermercado.

O problema é que esse tipo de comida traz pouco ou nenhum item in natura em sua composição. Além disso, como são ricos em açúcares, óleos, gorduras, amidos refinados e isolados proteicos, esses alimentos em excesso fazem mal à nossa saúde. "Sabemos que exagerar nos alimentos ultraprocessados está associado ao risco das seguintes doenças: obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, asma em adolescentes, inflamação da mucosa intestinal, depressão, alguns tipos de câncer e mortalidade por todas as causas", disse a nutricionista Renata Bertazzi Levy, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.

O problema é que nos últimos anos os alimentos ultraprocessados vêm ganhando espaço na dieta do brasileiro. Segundo a Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017/2018, divulgada no início do mês pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica), os ultraprocessados já são 18,4% das calorias totais adquiridas em casa pelos brasileiros. Em 2008/2009, eram 16%, enquanto em 2002/2003 equivaliam a 12,6%.

Para Levy, os alimentos ultraprocessados vêm ganhando espaço em quase todos os países do mundo. As explicações são simples. Esse tipo de comida é vendido pronto ou semipronto, reduzindo assim o esforço e o tempo investido na preparação de alimentos. Ele pode ser obtido com facilidade e abundância em lojas, supermercados, bancas de jornais e até farmácias, é fácil de ser transportado, pode ser armazenado por um período grande e ser consumido em qualquer lugar.

"Os alimentos ultraprocessados, ainda, são acompanhados por um marketing agressivo e permanente das indústrias que os produz, são comercializados em embalagens atrativas e coloridas", afirma a pesquisadora. Em tempos de quarentena, são muitos as aparentes "vantagens" para consumir os ultraprocessados. Mas, nem todas são reais. Os especialistas entrevistados por VivaBem derrubaram 3 delas:

1. Preço

Por causa da quarentena, muita gente foi demitida ou teve o salário cortado. Além disso, vários profissionais liberais estão deixando de ganhar dinheiro com seus negócios fechados. Isso significa que a renda de muita gente está menor. Por mais que o preço dos alimentos ultraprocessados tenha caído nos últimos anos, eles não são tão baratos assim.

"No Brasil, ao contrário do que o senso comum aponta, ter uma alimentação baseada em alimentos ultraprocessados custa mais caro do que uma baseada em preparações de alimentos in natura ou minimamente processadas, como arroz, feijão, mandioca e carnes, por exemplo", afirmou Louzada.

Isso ocorre, principalmente, devido a quantidade de porções que a preparação de alimentos in natura rende. Um pacote de macarrão instantâneo é mais barato do que um pacote de macarrão comum preparado com molho de tomate, mas o último oferece muito mais porções como rendimento, o que torna o preço por porção mais vantajoso.

No entanto, vale lembrar que esse cenário pode mudar. Um estudo brasileiro publicado em janeiro de 2020 mostrou que em 2026 essa lógica pode se inverter, e os alimentos in natura passarão a ter preço por quilo semelhante aos ultraprocessados, o que se torna um problema de saúde pública.

2. Rapidez e praticidade

Outra ilusão é a de os ultraprocessados são sempre mais práticos para quem está no corre-corre do dia-a-dia. Nem sempre cozinhar toma muito tempo. Quer dizer, é preciso planejamento.

Para a nutricionista Daniela Cierro, vice-presidente da Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), é preciso fazer um planejamento de cardápio, envolver toda a família que mora na casa, organizar a hora de preparo da refeição e, claro, fazer preparações que todos gostem.

"Não é preciso muito tempo. Se eu tiver bifes congelados no freezer e tiver de lavar uma salada e fazer um arroz, não vou levar mais do que 30 minutos. Se a gente for colocar numa panela um macarrão instantâneo com pozinho cheio de corante e aditivos e cozinhar um macarrão cabelinho de anjo, colocar na manteiga com um pouco de cheiro-verde, os dois vão levar praticamente o mesmo tempo de cozimento", afirmou Cierro.

3. Facilidade de armazenamento

Você deve estar indo menos vezes ao supermercado por causa da quarentena. Por isso, comprar alimentos frescos, como frutas e verduras, é sempre correr o risco de que estraguem com o tempo. Por outro lado, os ultraprocessados costumam durar bastante e, por isso, podem ser estocados.

Mas existem técnicas para armazenar verduras e legumes que prolongam a vida útil desses alimentos. Mesmo as frutas, depois de congeladas, servem para fazer doces, por exemplo. "Podemos sempre branquear legumes e verduras. É um processo em que a gente deixa o alimento entre 2 e 3 minutos na água fervendo e depois na água com gelo. Depois, é só embalar e levar no freezer. Dessa forma o alimento fica mais preservado", explicou Cierro. Veja mais dicas para conservar os alimentos por mais tempo em casa.