Covid-19: desaprendemos a conviver com direitos dos outros, diz sanitarista
A pandemia do novo coronavírus e as consequentes medidas de isolamento social fizeram com que as pessoas tivessem que se adaptar a uma nova em sociedade. Com este cenário, é necessário buscar direitos a todos, especialmente a serviços públicos de saúde.
É o que afirmou hoje Gonzalo Vecina Neto, sanitarista e professor da USP, no UOL Debate. O programa se dispôs a discutir o enfrentamento do colapso na saúde.
"Acho que está caindo a ficha do que é viver em sociedade. Desaprendemos o que é viver em sociedade, o que é conviver com o direito dos outros. E não é só nós: o mundo inteiro está passando. Nos últimos 15 ou 20 anos, o mundo quis equilibrar contas, e não salvar vidas", analisou Vecina.
"Temos que colocar a sociedade em condições de funcionar com acessos a serviços de saúde, alimentação, habitação; temos que construir modelo de bem-estar social, visível não só para a Europa, mas para o terceiro mundo também. Processo de financiamento e entrega. O SUS é capaz de construir essa sociedade da qual estamos atrás. Precisamos de epidemia e gente morrendo para isso. Espero que não esqueçamos", acrescentou.
A edição de hoje do UOL Debate reuniu ainda Amanda Montal, diretora da Emergência do ICHC (Instituto Central do Hospital das Clínicas); Ricardo Nicolau, diretor do Hospital de Campanha de Manaus; e Pedro Archer, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com Vecina, "o SUS não estava preparado" para atender a demanda que se exige dele em uma pandemia como a atual.
"Temos um número de leitos que, em tese, seria suficiente para atender a população brasileira olhando padrões europeus, mas são leitos de baixa complexidade. É muito inferior à necessidade. Tem 7,5 por 100 mil habitantes", disse o médico.
"Estávamos convivendo com isso, mas temos que aprender a reformular isso. Os maiores desafios — fora financeiramente, gestão —, temos que criar modelos de acesso ao secundário e terciário. Tem que haver regulação única em cada região, em cidades médias e grandes, tem municípios que concentram 80% da população. Temos que olhar para esse modelo de regiões, o sistema tem que se adequar a manchas populacionais. Eu espero que essa pandemia melhore o SUS", completou.
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