Covid-19 no Equador: "Buscaram o corpo do meu pai 2 dias após ele morrer"
Corpos espalhados nos banheiros dos hospitais, urubus pela cidade e um sentimento de devastação. É assim que descrevem o cenário alguns brasileiros e equatorianos que vivem em Guayaquil, uma das cidades mais atingidas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) no Equador.
Desde que a doença chegou ao país, diversas famílias têm tido dificuldade de ter atendimento em hospitais. Além disso, os preços estão abusivos nas farmácias, mercados e já atingem os serviços funerários. Antes da pandemia, caixões eram vendidos por cerca de US$ 800, agora, os preços chegam a US$ 2.000.
Os moradores relatam que a crise sanitária já existia no país e agora só se agravou. Diante de tantas incertezas, VivaBem conversou com um brasileiro e dois equatorianos que moram no local e contam como está a situação por lá e o que esperam do futuro.
"Buscaram o corpo do meu pai 2 dias após ele morrer"
Carlos Pazmiño Larreta, equatoriano e morador de Guayaquil
"A situação aqui é extremamente preocupante. Algumas pessoas estão voltando para as casas porque não conseguem atendimento em hospitais e centros de saúde. Às vezes, os corpos ficam espalhados nas ruas até serem retirados pelo serviço funerário. Minha família também foi atingida pela doença.
A esposa do meu pai apresentou os primeiros sintomas e, logo depois, ele começou a ficar doente. Foi muito rápido desde que ele descobriu a covid-19 até morrer. Ele começou a ter sintomas fortes numa quarta à tarde e morreu na madrugada de sexta. Minha família não chegou a ir a um hospital, porque tanto os particulares como públicos estavam colapsados e as pessoas começaram a morrer.
Ele não conseguiu fazer o teste, porque a doença se manifestou em poucos dias. Ele teve todos os sintomas, ficou com muita dificuldade para respirar e morreu em casa.
O mais triste é que buscaram o corpo somente dois dias depois de ele morrer. Durante esse período, ele ficou envolto em cobertas, até o retirarem de casa. Mesmo sendo bem chocante, considero que foi rápido, porque, normalmente, as pessoas estavam esperando pela retirada de algum familiar morto por até sete dias. O funeral do meu pai foi feito de maneira particular, sem ajuda do governo.
A verdade é que todas as pessoas no país estão desapontadas com as autoridades, a situação está crítica e não sabemos quando isso vai acabar".
"Há urubus voando pela cidade"
Francisco José*, brasileiro e morador de Guayaquil
"Moro aqui há 30 anos, vim muito novo para cá e nunca tinha vivenciado algo assim antes. Tenho visto muitos urubus sobrevoando a cidade, além de fumaça que sai do cemitério e do crematório ao redor dos bairros.
É muito difícil de conseguir um caixão, estavam fazendo caixão de papelão, mas por causa da chuva, e manutenção, não fazia muito sentido.
Para conseguir um caixão de madeira, algumas pessoas estão tendo que recorrer a vaquinhas ou outro tipo de ajuda de custo para comprarem e conseguirem enterrar seus familiares. Normalmente as pessoas demoravam dias até que as autoridades fossem buscar os corpos. Agora, esse número está diminuindo, mas ainda assim, continua lento.
Acho que está todo mundo chocado com essas mortes. Desde que começou, está tendo um rodízio para quem precisa sair com o carro. No caso do transporte público, só 'pega' os ônibus quem não consegue ir a pé aos mercados ou outros lugares."
"Estamos sendo atingidos com desabastecimento"
Edwin Benalcázar, equatoriano morador de Zaruma, cidade da província de El Ouro
"Aqui estão sendo adotadas as mesmas medidas de Guayaquil. A circulação de carros foi limitada, funciona como se fosse um rodízio e as pessoas não podem circular em locais públicos sem máscaras.
Mas a situação em relação à distribuição de alimentos em mercados e pequenas vendas está escassa, justamente porque muitos alimentos vêm de Guayaquil. Os locais estão ficando desabastecidos por causa dessa situação caótica.
Alguns locais estão trabalhando com a mobilidade reduzida, das 5h às 14h. Já os supermercados abrem das 7h às 12h30.
Isso também está sendo aplicado para as pessoas, que só podem sair das 5h às 14h. Algumas tentam vender máscaras nas ruas, legumes e frutas. É uma situação bem complicada e triste no momento."
*O nome foi trocado a pedido do entrevistado
**Colaborou Fran Mariotto
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.