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"É cedo para falar em reduzir quarentena em SP em 10 de maio", diz Vecina

De VivaBem, em São Paulo

28/04/2020 14h11

O Governo de São Paulo anunciou na última semana que pretende iniciar em 11 de maio um plano de retomada da economia, impactada pela pandemia do novo coronavírus. No entanto, o relaxamento de medidas de isolamento social pode ser prematuro na data escolhida.

É o que afirmou Gonzalo Vecina Neto, sanitarista e professor da USP, no UOL Debate de hoje. Segundo ele, talvez prolongar as ações de saúde atuais apenas até 10 de maio pode não ser o ideal.

"Não sei se no dia 10 de maio será o momento. Olhando para a curva epidêmica, aparentemente, a partir do dia 10 de maio estaremos entrando na decrescente, mas acho precoce falar em reduzir a quarentena, teremos que manter por mais tempo. Não dá para falar hoje — está meio nublado, acho que vamos continuar na quarentena. Temos que usar os dados que já temos", disse Vecina.

"O (exame) PCR identifica quem são os portadores. Não basta ter febre e tosse; tem que ter febre, tosse, com vírus na garganta. Tem que isolar quem tem o vírus. Se começar a decrescer a pandemia, aí sim faz plano. Os idosos, que têm maior risco, quem tem comorbidade, não devem interromper a quarentena. E outras atividades? Acho perigoso abrir restaurante. Tem que sentar olhando esses dados e fazer projeto. Tem que discutir a sociedade. Está todo mundo cansado de ficar em casa, não há dúvida, eu estou, mas sou grupo de risco, terei que ficar mais tempo", completou.

O UOL Debate de hoje se propôs a discutir como enfrentar o colapso no sistema de saúde provocado pelo coronavírus. Além de Gonzalo Vecina Neto, o programa reuniu ainda Amanda Montal, diretora da Emergência do ICHC (Instituto Central do Hospital das Clínicas); Ricardo Nicolau, diretor do Hospital de Campanha de Manaus; e Pedro Archer, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.

O sanitarista ainda lembrou que a covid-19 registra números mais preocupantes até aqui, o que exige cuidados especiais. Ainda assim, segundo ele, as medidas de isolamento têm sido eficientes no achatamento da curva de contágio, e inclusive para evitar outros contágios.

"Tenho trabalhado muito com hospital em São Paulo, e os com pronto-socorro pediátrico estão às moscas. Não temos as síndromes que acontecem com as crianças nesse período. As crianças não estão indo na escola, não estão trocando material biológico, não tem gripe, não levam para casa e não levam para a escola vírus que circulam todo ano. O isolamento está dando resultados importantes. A redução do número de pronto-socorro pediátrico mostra que está funcionando. Agora, vamos testar, espero abundantemente, e espero acompanhar melhor a pandemia", avaliou.

O ponto de vista foi semelhante ao de Amanda Montal. Para a diretora de Emergência do ICHC, "o isolamento tem se mostrado efetivo".

"Eu entendo que, enquanto não tivermos outras respostas, o isolamento é uma medida que temos que entender, e não é porque não colapsou o sistema que as previsões estavam erradas. Não colapsou porque seguimos isso de maneira precoce", afirmou, lembrando que o sistema de saúde vem recebendo muitas doações para enfrentar o cenário atual.

"Em relação à solidariedade, acho muito bom. O lado positivo é ver o tanto de pessoas que se mobilizaram para fazer dar certo. No HC, as doações estão sendo bem-vindas e muito importantes. Duzentos leitos (capacidade atual) com previsão de mais 100 nao seria viável sem a doação. Vão todas para o hospital, não tem taxa, e acho que tudo que foi falado deu para entender, todos estavam bem aliados na medida do possível."