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Covid-19: pacientes transplantadas têm boa recuperação no HC-SP

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Imagem: Istock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

29/04/2020 11h00

Três pacientes transplantadas de fígado tiveram alta no HC-FMUSP (Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) na última semana após tratarem a covid-19. Sem necessidade de intubação e com boa evolução, a equipe médica considerou os quadros como surpresas positivas.

"Ver a evolução dessas pacientes nos dá a confiança de que o transplante não traz uma falta de proteção", afirma Luiz Carneiro, chefe da divisão de transplantes do HC e docente na FMUSP.

Assim como indivíduos com doenças crônicas, como diabetes, esclerose múltipla e portadores do vírus HIV, pessoas que já tiveram um órgão transplantado são considerados imunodeprimidos (têm uma imunidade mais baixa), devido aos medicamentos que tomam durante a vida toda para que o novo órgão não seja rejeitado pelo organismo.

"Por fazerem parte desse grupo, não sabíamos como as pacientes —que se internaram mais ou menos na mesma época— reagiriam. Inicialmente, as três precisaram de cateter de oxigênio e ao longo do período de internação, fomos retirando, aos poucos, esse auxílio. Elas ficaram internadas por cerca de 10 dias, uma média comum", aponta Liliana Ducatti, médica-cirurgiã de transplante de fígado do HC-FMUSP.

Mesmo durante o tratamento contra a covid-19, as pacientes continuaram tomando seus medicamentos imunosupressores, já que interromper o uso das drogas pode levar à perda do órgão.

"Transplantado pega tudo, então, fui para o hospital logo que percebi"

Viviane Mariquito da Silveira de Araújo - paciente covid - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
A artesã e dona de casa Viviane Mariquito da Silveira de Araújo, 42, precisou fazer o transplante de fígado há cinco anos por conta da hepatite C, condição que causa inflamação no fígado e com a qual ela já nasceu.

Ao longo dos anos, a paulistana conta que teve várias infecções. "Apesar de não sofrer com doenças oportunistas como gripe e pneumonia, tive episódios como pedras nos rins e infecções urinárias. Hábitos de higiene, como o uso frequente do álcool gel, já faziam parte da minha rotina."

O pai de Viviane, um senhor de 72 anos, foi o primeiro a apresentar sintomas. Com tosse leve, ela o levou para tomar a vacina contra H1N1, mas, quando os sinais começaram a ficar um pouco mais fortes, ela já estava tossindo também.

"Como já sabemos que os transplantados costumam pegar diversos quadros, quando os primeiros sintomas da covid-19 apareceram, já fui logo para o hospital".

A internação da artesã ocorreu após cerca de duas horas do atendimento, e com boa evolução, não precisou ir para a UTI ou fazer uso do ventilador pulmonar.

"Minha insuficiência respiratória foi leve, mas a dor no corpo era insuportável. Parece que dói até os fios do cabelo. Ainda estou cansada, mas feliz de ter recebido tanto carinho da equipe médica e pronta para dar ainda mais valor às pequenas coisas da vida", afirma.

Médicos buscam entender relação entre transplantados e a covid-19

De acordo com Carneiro, professor da FMUSP, há a intenção de criar um estudo científico com as informações dos pacientes transplantados para entender se há uma relação entre a imunodepressão e uma melhor chance de cura da doença causada pelo coronavírus.

"Uma das teorias que já está sendo estudada em diferentes lugares do mundo é que as drogas imunomoduladoras consigam controlar a tempestade inflamatória, e por isso, os pacientes que as tomam não têm quadros tão graves", indica.

Essa "tempestade" acontece quando, confusas com a infecção do vírus, importantes células de defesa entram em atividade exaltada, combatendo tanto o inimigo quanto outras células saudáveis —prejudicando a defesa e causando danos a tecidos saudáveis.

Por enquanto, a relação é apenas uma teoria, mas os médicos do HC-FMUSP esperam poder analisar mais quadros e chegar a respostas que ajudem mais pacientes.

"Estamos montando um projeto e queremos começar o mais rápido possível. A ideia é fazer um estudo piloto e se tivermos bons resultados, podemos ampliar para o país", indica Carneiro.