Doença infantil rara pode estar relacionada ao novo coronavírus; entenda
Médicos do Reino Unido fizeram nesta semana um alerta para pediatras do mundo todo: algumas crianças infectadas com o novo coronavírus (SARS-CoV-2) desenvolveram o quadro da síndrome de Kawasaki, uma doença inflamatória pouco comum que acomete principalmente crianças entre um e cinco anos de idade.
A doença é conhecida por provocar uma inflamação no corpo que acomete principalmente os vasos coronarianos — um quadro chamado de vasculite. Quando evolui de forma grave, ela pode provocar a formação de aneurisma nas artérias, arritmia e infarto agudo do miocárdio.
O relato dos médicos britânicos foi reforçado por pediatras na França, que também notaram um aumento incomum nos diagnósticos da síndrome em crianças acometidas pelo vírus. Há relatos de casos em outros países da Europa também.
O que é a Síndrome de Kawasaki?
Também chamada de doença de Kawasaki, é uma vasculite (inflamação dos vasos) causada por um quadro inflamatório no corpo. A doença foi diagnosticada inicialmente no Japão, em 1967, por um médico chamado Tomisaku Kawasaki.
No entanto, sua causa permanece desconhecida. "É uma doença que pode trazer complicações graves, mas não temos ainda nenhuma evidência de onde ela surge", afirma Nadja Arraes, médica responsável pelo Ambulatório de Doenças Cardíacas Adquiridas na Infância e pela Enfermaria de Cardiopatias Congênitas no Adulto do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Especula-se, no entanto, que crianças geneticamente propensas a desenvolver esse tipo de inflamação tenham como "gatilho" uma infecção qualquer — como as provocadas pelos vírus respiratórios —, que gera essa reação inflamatória exacerbada.
Sintomas da doença de Kawasaki
Os principais sintomas são febre persistente e que não cessa mesmo com o uso de antitérmicos, irritabilidade, conjuntivite, lábios ressecados e rachados e ainda lesões na pele — o chamado "rash cutâneo", uma espécie de irritação que forma placas avermelhadas por todo o corpo. Outros sintomas que também podem surgir são dores abdominais e nas articulações, vômito, diarreia, alterações no fígado e neurológicas.
Existe tratamento?
Felizmente, a maioria das crianças costuma se recuperar bem da doença. A principal forma de tratamento é utilizando imunoglobulina humana, obtida por meio do plasma, que funciona como um imunorregulador. Em alguns casos, é possível também a indicação de uso de ácido acetilsalicílico.
De acordo com Fabíola Donato de Almeida, reumatologista pediátrica da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, a doença se apresenta em três fases: inicialmente, na fase aguda, os sintomas estão mais pronunciados. Na segunda fase, surgem outros problemas, como a dor abdominal e o vômito; é aqui que a maioria dos aneurismas se forma. Por fim, na fase assintomática, os sintomas desaparecem.
"O importante é que o diagnóstico seja feito antes do risco na formação de aneurismas, ou seja, ainda na fase aguda", afirma a especialista. É nesse momento que o tratamento costuma surtir mais efeito. O problema, no entanto, é que os sintomas costumam ser muito semelhantes aos de viroses comuns em crianças —e, por isso, o diagnóstico, que é feito apenas com exame clínico, costuma ser mais demorado.
Qual a relação com o novo coronavírus?
Por enquanto, o que se tem são relatos de médicos europeus que trataram crianças com a síndrome e também testaram positivo para o novo coronavírus. De acordo com Marco Aurélio Safadi, infectologista pediátrico do Sabará Hospital Infantil, o que chama mais a atenção é que esses pacientes apresentaram algumas reações fora do comum para quem tem a doença.
"As crianças foram diagnosticadas mas, mesmo com o tratamento padrão, que costuma ter bons resultados, o quadro inflamatório persistiu", diz o especialista. Ele lembra ainda que a covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, já é conhecida por provocar uma inflamação grave no organismo de alguns pacientes, incluindo nos vasos sanguíneos —o que poderia ter relação com o aparecimento da síndrome.
Recentemente, médicos do mundo todo passaram a relatar um aumento expressivo na taxa de coagulação de pacientes graves acometidos pelo novo coronavírus, justamente por conta da reação inflamatória exacerbada do organismo, que estaria afetando o sistema cardiovascular.
"Se a relação entre a inflamação provocada pelo novo coronavírus for estabelecida como um gatilho para a doença de Kawasaki, teremos evidências sólidas de que a doença é mesmo desencadeada por um agente infeccioso no corpo, o que é um avanço para o conhecimento sobre a doença", acredita o especialista.
Safadi reforça ainda que, embora a síndrome de Kawasaki seja um quadro delicado, não há motivo para os pais entrarem em pânico. "São poucos casos reportados, mas que servem para que os médicos fiquem alerta a mais essa possibilidade de diagnóstico em crianças", diz.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.