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Por que tendemos a consumir mais "comfort foods" no isolamento social

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Imagem: Shutterstock

Fábio de Oliveira

Da Agência Einstein

30/04/2020 10h24

O período de quarentena tem sido desafiador para muitos. Uma reformulação repentina no cotidiano obrigou milhões de pessoas a se confinarem em casa e manter distância de colegas de trabalho, amigos e familiares. Tudo para evitar a proliferação do novo coronavírus. Uma situação nova e repentina como essa pode gerar estresse e ansiedade. E a comida acaba virando uma válvula de escape.

Para usar uma expressão em inglês, são as comfort foods, aqueles alimentos que a gente procura ingerir para ficar mais relaxado — e, às vezes, isso acontece mesmo sem estarmos com fome. Não importa se é uma coxinha ou um pedaço de bolo de chocolate.

"Possuímos mais de uma forma de regular o que comemos", explica o nutricionista João Motarelli, assessor científico do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). "Podemos fazer escolhas de uma maneira mais consciente, por exemplo, ao optarmos por comer mais alimentos integrais ou reduzindo a quantidade de açúcar da alimentação", explica.

Mas, em momentos mais tensos, é comum buscarmos na comida uma válvula de escape. Em muitos casos, é algum alimento da infância cuja simples evocação faz encher a boca de saliva. "Essa ligação afetiva pode nos confortar diante do estresse." Não estamos atrás do nutriente, mas do bem-estar.

"É a fome emocional", define a nutricionista Gabriela Braga Bisogni, do Centro de Prevenção e Tratamento da Obesidade e do Programa de Reeducação Alimentar do Hospital Israelita Albert Einstein. "A pessoa acaba de realizar uma refeição, está saciada e ainda sente vontade de comer em busca de mais conforto alimentar." É diferente de quando nos alimentamos somente suprir a necessidade energética ou fisiológica do organismo.

Estando em casa e sob estresse, como atualmente, leva ao exagero na ingestão desse tipo de comida - é bom lembrar que os quadros mais graves da Covid-19 estão associado a outras doenças, como hipertensão, diabetes e obesidade, mas vale frisar que elas não vêm à tona de uma hora para outra. "Esse medo reforça o estresse e pode se tornar um círculo vicioso", conta Motarelli.

Em alguns casos é preciso checar se o indivíduo precisa de um acompanhamento psicológico para lidar com o problema. Ela ainda lembra que, além da alimentação, existem outras atividades que podem agregar bem-estar, como ver um filme, realizar uma chamada de vídeo com um amigo ou familiar, ler um livro ou praticar um exercício físico - há vários apps que disponibilizam treinos que podem ser feitos em casa e educadores físicos que estão orientando aulas online.

Para fugir dos exageros, outra estratégia importante é evitar estocar excesso de alimentos não saudáveis em casa. E nada de radicalismo: assim como não é bom comer além da conta, está longe de ser legal restringir por restringir alguma coisa do cardápio - isso pode ter um efeito oposto. A saída é o equilíbrio e bom senso no consumo alimentar. Um exemplo: a ingestão moderada de chocolate com mais de 70% de cacau na composição pode ser benéfica à saúde cardiovascular.