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Vírus da dengue não pode ser esquecido durante pandemia, diz especialista

Especialista alerta para o fato de que o vírus da dengue continua ativo e fazendo vítimas pelo Brasil - Getty Images
Especialista alerta para o fato de que o vírus da dengue continua ativo e fazendo vítimas pelo Brasil Imagem: Getty Images

Gabrielle Abreu

Jornal da USP

03/05/2020 13h23

Novas espécies de vírus foram identificadas em pacientes que apresentavam sintomas da dengue. Um dos microrganismos pertence ao gênero Ambidensovirus e foi encontrado em amostra coletada no Amapá. O outro, presente em amostra do Tocantins, pertence ao gênero Chapparvovirus.

Antonio Charlys da Costa, pós-doutorando da Faculdade de Medicina da USP e um dos autores do estudo, afirma que essas espécies nunca foram encontradas antes em humanos e foi possível identificá-las através da técnica de metagenômica viral.

Embora tenham sido encontrados em pacientes com sintomas de dengue, ainda não é conclusivo se os novos vírus desencadeiam sintomas ou se oferecem de fato risco para a população. Mas a descoberta de novos microrganismos pode ser um alerta para a importância de se estudar e analisar novos vírus que podem, por exemplo, ajudar na identificação de doenças não reconhecíveis.

"Essa descoberta pode trazer alguma luz para os diagnósticos não resolvidos, ou seja, para aqueles pacientes que tinham alguma suspeita de alguma arbovirose e os testes deram negativos. Você tem mais opção de buscar causadores de doenças, entendeu, isso também daria mais força para pessoas procurarem mais vírus diferentes aqui no nosso país", afirma o pesquisador em entrevista à Rádio USP, que pode ser ouvida na íntegra clicando aqui.

Em um período em que estamos enfrentando a ameaça mundial do coronavírus, o Brasil, país com histórico de epidemias virais, precisa estar sempre atento com os novos e também com os antigos vírus, como, por exemplo, o da dengue, uma das arboviroses que podem ser invisibilizadas pela pandemia.

"Ela [a pandemia] veio acompanhada com um quadro de extrema gravidade, com uma letalidade que não é desprezível e é natural que o mundo inteiro desenvolva esforços no sentido de controlar essa doença. Um problema que acontece é que, simultaneamente à ocorrência da covid-19, outras doenças continuam ocorrendo, dentre elas, a dengue", explica o professor Expedito Luna, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto de Medicina Tropical.

Nas primeiras dez semanas deste ano, o Brasil registrou ao menos 332.397 casos de dengue, segundo dados do último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde até o dia 7 de março. Em 2020, a atenção deve ser redobrada porque o pico da doença coincidirá com o da covid-19 e o da gripe influenza, previstos para maio.

"O pico de ocorrência de dengue no Brasil costuma ser no mês de maio, então, até a semana do dia 12, ou seja, que é mais ou menos o meio do mês de março, o Ministério da Saúde já nos informava 450 mil casos prováveis de dengue no Brasil, ou seja, caminhamos para mais um ano epidêmico", alerta o especialista.