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Coronavírus: medir a temperatura em aeroportos e supermercados é eficaz?

Medir temperatura em locais públicos não é uma medida considerada efetiva pela OMS para controle do novo coronavírus  - iStock
Medir temperatura em locais públicos não é uma medida considerada efetiva pela OMS para controle do novo coronavírus Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

04/05/2020 11h30

Desde o surgimento do novo coronavírus (Sars-CoV-2), no fim de 2019, uma das medidas tomadas por muitos países para tentar controlar a propagação do vírus foi usar a medição de temperatura de pessoas circulando em locais públicos —como aeroportos e entrada de supermercados— para tentar localizar um possível novo foco da doença.

A questão provocou polêmica já que não há consenso se a medida é de fato eficiente para ajudar a detectar casos de infecção. Países como China e Itália adotaram a medida, enquanto Alemanha e Israel se posicionaram publicamente contra a prática.

No Brasil, alguns estados passaram a usar a medida em viajantes nos aeroportos para tentar conter o vírus. Agora, a medida está sendo aplicada na entrada de supermercados e até condomínios residenciais (para a entrada de prestadores de serviços), por exemplo.

Mas, afinal, medir a temperatura é um método efetivo?

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a medida não é recomendada porque, além de não ter respaldo científico, a prática, sozinha, não é eficiente para impedir a propagação do vírus.

Isso porque indivíduos infectados podem estar na fase de incubação da doença e não apresentarem sintomas —mesmo já sendo capazes de transmitir o vírus.

"Além disso, essas medidas requerem um investimento substancial para um retorno pequeno", afirma a entidade em sua página de orientações sobre o novo coronavírus.

A recomendação é seguida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que concorda que a medida é pouco eficaz e ainda aumenta o risco de provocar aglomerações no caso dos aeroportos. Estima-se que menos de 10% dos casos de covid-19 sejam identificados dessa forma.

De acordo com o infectologista João Prats, infectologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, a medição é uma forma de tornar a identificação de casos objetiva.

"Hoje, dependemos de a pessoa dizer que tem os sintomas ou procurar ajuda para saber que ela está doente", afirma.

No entanto, a medida tem algumas falhas. Além de possivelmente não detectar quem estiver na fase assintomática da doença, nem todos os doentes vão apresentar febre.

"Além disso, o termômetro utilizado para esse trabalho geralmente usa raios infravermelhos para não encostar na pele da pessoa. E eles são conhecidos por apresentar variações na medição", explica.

Na opinião do especialista, seria mais sistemático associar o dado da temperatura a outras informações, como um questionário perguntando sobre a presença ou não de outros sintomas suspeitos para quem está chegando de viagem, por exemplo.

"Do contrário, seria gastar tempo e recursos financeiros em uma ação que tem pouco retorno", avalia.