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Como as filas na Caixa põem em risco esforço coletivo com isolamento social

Fila na porta da agência da Caixa na praça da República, centro de São Paulo - Lucas Borges Teixeira/UOL
Fila na porta da agência da Caixa na praça da República, centro de São Paulo Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para VivaBem, em Maceió

06/05/2020 04h00

Nas últimas semanas, filas gigantescas se formaram na porta de agências da Caixa Econômica Federal de todo o país por pessoas em busca de informações ou do saque do auxílio emergencial de R$ 600. A situação preocupa médicos ouvidos por VivaBem.

Para eles, essas filas chegam a colocar em risco parte do grande do esforço que tem sido feito pelas pessoas com os decretos estaduais e municipais de isolamento social.

"Essas filas anulam [os benefícios do isolamento], sim, porque a gente tem de evitar aglomeração, que é a situação mais grave de todas", afirma Ricardo Martins, pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da UnB (Universidade de Brasília).

Mas não culpo essas pessoas, elas são vítimas, entendo-as perfeitamente.

Diante da situação, muitos estados buscaram a Justiça para obrigar a Caixa a organizar as filas e evitar aglomerações. Na sexta-feira, o governo de Pernambuco conseguiu uma liminar condenando a caixa a marcar horários e abrir em horários estendidos.

"A situação é completamente inadequada. Teria de arrumar uma maneira de pagar sem gerar aglomeração. Não estamos tomando uma medida inteligente ao juntar pessoas —nem todas com proteção— muito próximas uma das outras. A forma como estão fazendo torna a situação perigosa", completa Martins.

A preocupação também está na disseminação dessas filas por quase todo o país, o que favorece uma proliferação rápida do vírus —especialmente em cidades mais pobres e que as pessoas dependem mais do auxílio.

Fernando Rosado Spilki, presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia), explica que o perigo se torna ainda maior por conta do tempo prolongado que as pessoas ficam nessas filas. "Isso merece atenção e, na medida do possível, deve ser evitado", diz, fazendo uma série de sugestões: "[São precisos] cuidados de organização, distanciamento entre as pessoas, uso de máscaras e, se possível, organização de turnos de atendimento e pré-agendamento seriam úteis."

Ar livre não evita

Fila da Caixa - Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo - Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo
Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo

Apesar de as agências não permitirem o acesso de muitas pessoas ao mesmo tempo para evitar aglomerações em um ambiente fechado, a ideia de que você está protegido do lado de fora é um erro.

"Mesmo que seja ao ar livre, é uma aglomeração. Basta alguém doente ali no meio da fila falando, conversando, que ocorrerá transmissão fatalmente", explica Fernando Maia, professor de doenças infecciosas da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

No Maranhão —onde quatro cidades, entre elas São Luís, entraram em 'lockdown" nesta terça-feira— o governo destinou 200 bombeiros para ajudar na arrumação das filas para evitar aglomeração.

Segundo Léa Melo, superintendente de epidemiologia e controle de doenças da Secretaria de Saúde do Maranhão, essas aglomerações podem resultar em risco, inclusive, às pessoas que estão em casa e acabam sendo contaminada pelo familiar que vai até à agência.

"A transmissão [do novo coronavírus] é rápida, e as aglomerações advindas destas filas vão favorecê-la. Com isso, novos casos poderão atingir direta ou indiretamente pessoas de grupo de risco. Ou seja, não só haverá um aumento da incidência, como também da letalidade", diz Melo.

Ela ainda lembra que uma das características do novo coronavírus é a fácil proliferação. "E as aglomerações propiciam uma disseminação mais rápida, atingindo um grande número de pessoas, proporcionando maior demanda aos serviços de saúde que já estão no seu limite", conclui.