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Mães e médicas contra covid-19: 'em casa, trago perigo para perto deles'

A cardiologista Flávia Barros com sua família e enfrentando o coronavírus no dia a dia do hospital - Arquivo pessoal
A cardiologista Flávia Barros com sua família e enfrentando o coronavírus no dia a dia do hospital Imagem: Arquivo pessoal

Nathalie Ayres

Do VivaBem, em São Paulo

10/05/2020 14h27

Todos falam sobre o "novo normal", e esse domingo (10), Dia das Mães, é um exemplo de data comemorativa com mudanças causadas: pessoas afastadas de suas mães devido ao isolamento social necessário diante da pandemia. Ou, mesmo que presentes na mesma quarentena, mas tomando cuidado para não se abraçar, principalmente se uma dessas pessoas precisa sair de casa e pode ter entrado em contato com o novo coronavírus.

A situação, no entanto, se torna mais grave quando se é, além de mãe, uma profissional de saúde na linha de frente contra a covid-19. É o caso da cardiologista Flávia Barros, mãe de três crianças de 12, 10 e 7 anos. Ela trabalha em um hospital em Petrópolis (RJ) e atenderia no Hospital de Campanha da cidade, mas está se recuperando de uma infecção com o novo vírus.

Desde o dia 16 de março meus filhos não saem de casa. Estudam em casa, o que também tem sido novo e desgastante para mim. Tentam estar protegidos. Mesmo assim o perigo está bem perto deles: eu, sua mãe Flávia Barros, cardiologista e membro da Socerj (Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro)

Mudanças na rotina da família e distância

Para essas famílias tão próximas do vírus, a solução tem sido impor um isolamento parcial dentro de casa, usando máscaras mesmo depois de se higienizar, brincando com os filhos de forma mais distante fisicamente e nada de abraços, carinhos e contato físico. Flávia optou pelo afastamento total dos filhos, usando máscara em casa e brincando com eles de longe.

A também cardiologista Thatiana Baltazar, que atende trabalha em um hospital no Rio de Janeiro e tem dois filhos pequenos, Marina de 3 e Luigi de 8 anos, optou por seguir próxima deles, mas seguindo um processo de higienização meticuloso ao chegar em casa: "tiro a roupa e sapato antes de entrar. Enquanto eles ficam pulando pedindo beijo, saio correndo e entro no banho enquanto eles ficam do lado de fora puxando assunto e me contando como foi o dia", relata.

Fernanda Perrone e o filho Pedro (5 anos) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fernanda Perrone e o filho Pedro (5 anos)
Imagem: Arquivo pessoal
Já Fernanda Perrone, membro da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e mãe de Pedro de 5 anos, ficou um tempo levando o filho para casa dos avós, até que precisou se afastar totalmente do pequeno. "Fui remanejada para trabalhar no Hospital de Campanha, acabei pegando outros plantões de covid-19 e como o risco de contaminação é grande, deixei meu filho sob os cuidados dos avós e do pai e ficarei sem ele até que tudo isso passe", conta a médica.

Mães e também filhas

O afastamento dessas mulheres de suas mães também é difícil, principalmente por que muitas delas estão em grupo de risco. Esse é o caso de Thatiana, cuja mãe tem diabetes e hipertensão, duas doenças relacionadas ao aumento da letalidade da covid-19. Por isso, elas têm se mantido fisicamente afastadas.

Já Flávia enfrenta uma dificuldade maior: a mãe foi diagnosticada com Alzheimer há 10 anos, e o afastamento físico torna tudo mais difícil. "Como mãe estarei plena. Como filha talvez já não consiga mais... A memória já não mais consegue conectar a minha pessoa à minha mãe. O afastamento que foi necessário nos últimos meses, parecia tão pequeno, mas foi capaz de levar a pouca lembrança que ela tinha de mim", lamenta.

Sacrifício e motivação

Thatiana Balthazar com os filhos Luigi (8 anos) e Marina (3 anos) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thatiana Balthazar com os filhos Luigi (8 anos) e Marina (3 anos)
Imagem: Arquivo pessoal
Apesar de tantos sacrifícios, diferentes e semelhantes, todas essas mães carregam consigo a certeza de que estão fazendo sua parte nesse cenário terrível. "A força para persistir vem deles, da família, do amor pela profissão, da vida que salvamos, do conforto que conseguimos promover. Vem inclusive da derrota, que nos derruba por segundos, mas que aumenta a nossa gana de vencer o próximo round da luta", reflete Flávia.

Para Fernanda, ser mãe na pandemia é justamente ter medo de pegar e passar a Covid-19 para o filho, mas também encarar tudo com mais disposição exatamente porque ele existe. "É valorizar os abraços e os beijos que ele dá num momento em que tivemos que banir abraços e beijos", conta.

Tudo isso vai passar, e quando terminar quero ter a certeza que cumpri meu juramento, fiz o meu melhor como médica e com isso meus filhos terão muito orgulho da mãe deles Thatiana Baltazar, cardiologista e membro da Socerj (Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro)