Chocolate e culpa: sentimento nos leva a comer mais, como sair dessa?
Embora a Páscoa tenha acontecido mês passado, chocolate é um item que sentimos vontade de comer o ano inteiro, e não só ele! Rico em açúcar, gordura e carboidrato —combinação que espanta quem está de dieta ou os ortoréxicos (pessoas obcecadas por comida saudável e exercícios físicos) —, o chocolate não é nenhum inimigo. Mas ele, assim como outros alimentos tidos como ruins (refrigerantes, bolachas recheadas, entre outros), causa a sensação de culpa em quem come.
"A culpa, em menor ou maior grau, respinga em todos. A gente tem conhecimento do que deve comer, mas nossas escolhas não são tão racionais e incluem outros fatores, como o emocional", conta Clarissa Hiwatashi Fujiwara, nutricionista e coordenadora de Nutrição da LOI (Liga Acadêmica de Obesidade Infantil) do Ambulatório de Endocrinologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Síndrome Metabólica).
Já de algum tempo, a nutrição trabalha novas formas de acolher o paciente —é a chamada nutrição comportamental. A ideia é tentar tirar das pessoas o remorso que se coloca na comida. Um dos pilares da alimentação, como salienta Fujiwara, é que ela deve ser prazerosa. E que prazer há quando se coloca tanta carga negativa ao comer? "Não estou dizendo que as pessoas devam almoçar e jantar chocolate, pois em excesso faz mal para a saúde, causa indisposição, mas dá para conciliar", afirma a profissional.
Segundo o psicólogo e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin, a cobrança extrema que temos com nós mesmo nos faz sofrer. Ter momentos especiais, como a Páscoa, Natal e aniversários, fazem parte da vida e nos fazem bem.
O problema é que sentir-se culpado por comer um chocolate pode causar justamente o reverso: a privação causada após a culpa pode causar frustração, que acaba sendo resolvida com mais chocolate, em quantidades maiores. Estamos encarando um verdadeiro círculo vicioso
Por que é tão fácil se descontrolar?
É provável que você não conheça e nem tenha ouvido falar de alguém que tenha mais prazer comendo pepino do que chocolate. A resposta está em como certos alimentos interagem com nosso cérebro. E isso não é exclusividade do doce: batatas fritas, fast foods, sorvetes e outros alimentos ricos em sódio, gorduras ou açúcar também entram no processo que explicaremos a seguir.
Funciona assim: no cérebro há um sistema chamado límbico, que é responsável pelas emoções. Dentro desse sistema tem uma espécie de centro de recompensa. E aí entra o chocolate e outros alimentos palatáveis, que ativam a área, liberando dopamina, o neurotransmissor do prazer. Logo, o corpo associa o chocolate a um momento gostoso —e é por isso que desejamos um doce com mais intensidade do que desejamos uma salada de folhas, por exemplo.
Além da questão fisiológica, existe a cultural, que diz respeito ao valor que damos a um produto. Bombom é uma maneira de presentear alguém. Sorvete, como vemos nos filmes, é um aliado para afogar as mágoas. Ou seja, utilizamos esses itens para obter bem-estar emocional.
Redes sociais potencializam a culpa e excessos
Para quem está de dieta, faz parte da cultura associar esses alimentos ao chamado "Dia do Lixo". A expressão, comumente difundida por aí através de influenciadores fitness, já coloca uma carga de sofrimento no alimento —que aliás, não é lixo. Associe a isso às redes sociais e você tem uma fórmula quase perfeita para sofrer ao comer um pedaço de chocolate. Vale lembrar, que essas plataformas não são inimigas. A gente que precisa se policiar sobre como as usamos.
"É importante escolher o que seguir. Algumas pessoas têm corpos quase inalcançáveis para a maior parte da população. E para chegar àquela estética, pagam um preço que pode ser muito alto. Seguir perfil assim, ignorando que não somos robôs, pode não ser o que você precisa agora. Esse sofrimento psíquico pode gerar mais compulsão —e toda compulsão tem por base o perfeccionismo", explica Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês (leia mais aqui sobre unfollow terapêutico).
Dicas para não entrar nesse ciclo de excessos e culpa
- Não deixe de comer o que quer, mas busque viver aquele momento com o alimento (mindful eating). Coma com tempo, atenção (deixando de lado o celular e outras telas, por exemplo), deguste para sentir a textura do que está ingerindo (confira aqui 13 dicas para comer com mais atenção)
- Se você está em dieta e escapou, vida que segue. Você não é um fracassado por isso. "Alimentação é equilíbrio e você precisa se flexibilizar, não se tratar com tanto rigor", aconselha Fujiwara.
- Busque se dar outros prazeres que não só a comida: conversar com alguém, organizar suas coisas, dormir bem e fazer um planejamento alimentar, entre outros.
- A comida não deve ser muleta emocional. "É preciso olhar para dentro, entender os sentimentos e o porquê da uma compulsão", sugere o psicólogo.
- Busque informações sobre alimentação em locais confiáveis e com profissionais gabaritados.
- Vá atrás de profissionais de saúde para auxiliar você, tanto no emocional quanto no físico. "Quando você se entende um pouco melhor, consegue controlar os impulsos", recomenda Busin.
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