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Fisiculturista descobre gravidez 9 dias antes do parto: "Nenhum sintoma"

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

17/05/2020 04h00

A fisiculturista e estudante de educação física, Carla Vital, 30, engravidou do filho Enzo em maio de 2017, mas só foi descobrir a gravidez oito meses depois, mais precisamente nove dias antes do parto, em janeiro de 2018. Nesse depoimento, ela conta que não teve nenhum sintoma e que, por causa da musculatura abdominal rígida, a barriga só cresceu na última semana de gestação

"Em 2017, a ideia de ser mãe estava totalmente fora dos meus planos. Estava focada na preparação de uma competição de fisiculturismo que aconteceria em janeiro de 2018. Treino há 16 anos e há quatro sou fisiculturista.

Meu namorado, Adriano, também é fisiculturista e meu personal trainer. Fazia 1 hora de musculação de segunda a sábado e 1h30 de exercícios aeróbicos —esteira, transport e bike— divididos em três períodos de 30 minutos.

Treinava pesado, chegava a colocar carga de 150 kg em cada perna no leg press.

Minha alimentação era a base de proteínas, vegetais e quantidade reduzida de carboidrato. Às vezes, chegava a comer apenas 50 g de carboidrato por refeição. Tomava seis litros de água e suco natural. Além disso, tomava vários suplementos, whey protein, BCAA, glutamina, termogênico e polivitamínico.

Troquei a dieta, mas abdome permaneceu inchado

Na fase final da preparação para a competição, fiz várias dietas para secar o corpo. Eu e o Adriano percebemos um bom resultado na parte superior, mas notamos que o abdome não estava 100%, ficava sobrando um pouco de barriga.

Além do treino e da dieta restritiva, usava cinta para afinar a cintura praticamente o dia todo.

Trocamos a dieta umas duas vezes para ver se a barriga secava, mas com o tempo percebemos que meu abdome começou a inchar. Inicialmente, achei que fosse retenção de líquido.

Como o inchaço não melhorou, fui ao ginecologista. A essa altura, já pensei que podia ser um mioma ou algum outro problema mais grave. Fiquei preocupada. Passei no médico, ele me perguntou se haveria a possibilidade de estar grávida, eu disse que não.

Disse que estava sem menstruar havia um ano, mas comentei que isso era comum no meu caso porque minha menstruação era desregulada, às vezes ficava meses sem descer. Tomava anticoncepcional, mas quando não fiquei mais menstruada parei de tomar. Comentei que já tinha falado isso para minha médica e ela falou que poderia ser algum distúrbio hormonal.

Para descartar a gravidez, ele pediu para eu fazer um teste. Fiz e, para minha surpresa, deu positivo. A enfermeira disse: 'Parabéns mamãe, você está grávida. Você já precisa marcar a primeira consulta com o obstetra para começar o pré-natal'.

Entrei em desespero, comecei a chorar de nervoso e disse que era impossível, o resultado estava errado.

Não tinha sintomas: enjoos, vômitos, dores

Fiz mais quatro testes e todos deram positivo. Contei para o meu namorado e ele ficou pasmo. Estávamos todos os dias juntos por causa dos treinos e ele também não notou nenhuma mudança no meu corpo.

No dia seguinte, ele me acompanhou no primeiro e único ultrassom que fiz. Imaginei que, como estava sem barriga, estivesse grávida de um, no máximo dois meses. Para o meu espanto, o médico disse que eu estava grávida de oito meses, com 34 semanas de gestação. Entrei em estado de choque.

Comecei a chorar, disse que não estava preparada para ser mãe. Não bastasse saber da gravidez e que eu estava quase parindo, também não consegui saber o sexo do bebê. O Enzo estava com a perna fechada na hora do exame.

Descobri a gravidez no dia 18 de janeiro de 2018, o Enzo nasceu nove dias depois, no dia 27. Foi uma semana e pouco de loucura na minha vida, uma reviravolta total. Minha primeira ação foi tirar a cinta, acredito que não senti ele mexer por causa disso.

Mudei minha alimentação, passei a comer arroz, feijão, carne e a ingerir nutrientes mais ricos. Mudei meu treino, fazia exercícios leves e suspendi o uso de alguns aparelhos.

Morava com a minha mãe o meu irmão, só contei a novidade para eles e para familiares mais próximos. Montei o quarto do bebê no meu e tive de fazer o enxoval às pressas. Como não sabia o sexo, comprei cores unissex, mais peças brancas e amarelas.

Não deu tempo de fazer ensaio, chá de bebê, nada. Nessa uma semana minha barriga cresceu, apesar de ter curtido pouco tempo, achava minha barriga linda e maravilhosa. Me achava a mamãe fitness.

Ia para a academia e o pessoal ficava impressionado e perguntava: 'Como assim você está grávida? Sua barriga apareceu do nada'. Aí eu contava toda a história.

No dia 26 de janeiro minha bolsa estourou e fui para o hospital. Estava com 1 dedo de dilatação. Fiquei internada e me deram ocitocina para aumentar as contrações. O Enzo não estava encaixado, o médico fez uma manobra para virá-lo para ele ficar na posição cefálica. Foram 10 horas de trabalho de parto.

No dia 27 ele nasceu pesando 2,1 kg e medindo 45 cm. Na hora do parto eu perguntei ao médico: 'É menino ou menina, doutor?'. Ele ficou surpreso que eu não sabia o sexo. Fiquei feliz porque dizia que no dia que tivesse um filho, gostaria que fosse um menino.

Ao ver a carinha do Enzo, esqueci toda dor e sofrimento do parto, foi um momento mágico, uma explosão de alegria. Logo ele veio para o meu peito, e pude amamentá-lo. Caiu a ficha de que tinha me tornado mãe.

Postei uma foto do Enzo no meu Instagram e contei da minha descoberta tardia da gravidez. Muitas pessoas me parabenizaram, mas outras me criticaram, me julgaram, disseram que era mentira minha, que ele não era meu filho e era adotado. Ignorei esses comentários maldosos. Quem me conhece sabe da minha história.

Enzo nasceu bem e com saúde

Estar grávida sem saber foi algo complicado, porque coloquei em risco a minha vida e a do meu filho por causa dos treinos pesados, da alimentação restritiva, do uso da cinta e da falta de um acompanhamento pré-natal adequado. O Enzo poderia ter nascido desnutrido, com algum problema, mas a graças a Deus ele nasceu bem e com saúde.

Hoje ele está com dois anos e dois meses. Ele vai para a escolinha e à noite ficamos juntos. Me dedico ao máximo à minha família. Continuo a minha rotina de exercícios, treino por estética e saúde —recuperei meu corpo super rápido e voltei a treinar 30 dias após o nascimento dele.

Estou me preparando para um competição de fisiculturismo, mas sem surpresas. Dessa vez vou me apresentar diante de uma pessoa muito especial, meu filho".

O que é a gravidez silenciosa

A gravidez silenciosa ocorre quando a paciente só percebe a gestação tardiamente, já no terceiro trimestre. São casos raros que podem acontecer em mulheres com ciclos menstruais muito irregulares ou obesas.

Mulheres com distúrbios hormonais podem, por vezes, ter ciclos menstruais muito longos, com intervalos de mais de seis meses, o que dificultaria a percepção da falta da menstruação, que é o sinal mais evidente do início da gestação.

Vários fatores podem provocar a irregularidade menstrual como, por exemplo, distúrbios hormonais, como síndrome dos ovários policísticos, aumento da prolactina, alteração de hormônios da tireoide, assim como excesso de atividade física, distúrbios alimentares (anorexia e bulimia) e uso de hormônios anabolizantes.

Os outros sintomas podem aparecer ou não, nada é obrigatório, pois há mulheres que têm náuseas, vômitos, dores, e outras que não sentem nada disso.

Estar grávida sem saber pode oferecer riscos ao bebê. A falta do pré-natal, bem como dos exames de sangue e ultrassonografias —que podem detectar problemas que podem ser corrigidos durante esse período— pode resultar em problemas graves tanto para a gestante como para o feto.

Como exemplos, podemos citar: infecções, diabetes gestacional, hipertensão, restrição de crescimento fetal e malformações fetais, entre outros.

Alguns fatores podem fazer com que a barriga não cresça o esperado, dentre eles, alimentação inadequada e tabagismo. O uso de álcool ou de drogas ilícitas podem resultar em restrição do crescimento fetal, o que pode provocar um crescimento menor do útero e, consequentemente, do abdome como um todo.

No caso de pacientes que praticam intensas atividades físicas, a musculatura abdominal muito rígida pode dificultar a percepção do crescimento uterino, assim como o uso frequente de cintas.

É pouco provável não sentir a movimentação fetal. Essa sensação aparece por volta de 20 a 21 semanas de gestação e vai se intensificando com o passar dos meses. Os motivos descritos acima podem ser responsáveis pela percepção mais tardia.

Além disso, adotar uma dieta restritiva e treinos pesados podem levar à dificuldade de ganho de peso do feto durante a gestação, assim como, eventualmente, a um trabalho de parto prematuro.

Fonte: Sergio Podgaec, ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e professor livre-docente da disciplina de ginecologia da FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).