Um brasileiro pode ser salvo a cada 4 minutos com isolamento, estima estudo
O isolamento social tem sido um dos assuntos mais discutidos na pandemia. Efetivamente, ele salva vidas? Era essa a resposta que os pesquisadores do CeMEAI (Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria) Paulo José da Silva e Claudia Sagastizábal queriam ter quando iniciaram um estudo matemático em colaboração com Tiago Pereira e Alexandre Delbem e que resultou em uma página que pode ser consultada pela população.
O grupo fez ajustes do modelo epidêmico Seir, que representa a taxa de replicação do vírus sars-cov-2, tentando descobrir se ela varia no tempo. A ideia era identificar tendências na evolução da taxa de propagação do vírus e consequente aceleração ou desaceleração da epidemia depois do início dos protocolos de distanciamento social que foram implementados a partir de 24 de março.
"Fizemos a análise para o País todo e depois especializamos os resultados para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão e para todas as grandes regiões do País", explicou Paulo Silva, que também é professor do IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica) da Unicamp.
Muito se discute sobre os reais números da pandemia no Brasil e no mundo, no entanto, os resultados da pesquisa estão baseados nos dados oficiais baixados a partir do site Observatório Covid-19 BR. "Esses dados sofrem de clara subnotificação e, assim, as nossas estimativas também seguirão subestimadas. Porém, acreditamos que mesmo assim é possível ter uma ideia da evolução da epidemia."
O estudo considerou vidas que seriam salvas com o isolamento social nos próximos 14 dias, a partir de 4 de maio, e concluiu que, "até o dia 19 de maio, seriam salvas 5.513 vidas, o que dá aproximadamente uma vida a cada quatro minutos", explicou o autor, lembrando ainda que a página atualiza as projeções automaticamente a cada dia. "Logo, os números simulados em 6 de maio irão mudar de acordo com a divulgação diária dos dados oficiais do site Observatório Covid-19 BR."
Paulo Silva comenta ainda sobre a análise feita levando em consideração estudos específicos para cada região do país.
"O distanciamento social parece ter sido efetivo quando consideramos o Brasil inteiro, mas vem perdendo força, o que é preocupante. Essa é a tendência no Sudeste, que concentra a maior parte dos casos e também no Centro-Oeste. O Norte e o Nordeste, que já possuem regiões onde o sistema de UTIs está acima da capacidade, parecem ter entendido a dimensão do problema e passaram a adotar um distanciamento mais efetivo. Na contramão está o Sul, que sofreu um forte pico de casos reportados recentemente com causas a serem estudadas", concluiu.
Claudia Sagastizábal, professora do IMECC, na Unicamp, comentou ainda sobre as curvas que de uma forma geral foram achatadas. "Objetivamente, esse estudo mostra a eficiência do isolamento e se torna preocupante quando analisamos os picos previstos pelo modelo Seir, que ainda são extremamente altos. Isso sugere que é imperativo que os governos busquem alternativas de controle da epidemia para que não enfrentemos colapsos nos sistemas de saúde em breve."
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