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Vacina de Oxford pode ser só parcialmente efetiva; entenda

Vacina que está sendo testada pela Universidade de Oxford levanta questionamentos sobre sua eficácia - Getty Images
Vacina que está sendo testada pela Universidade de Oxford levanta questionamentos sobre sua eficácia Imagem: Getty Images

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

19/05/2020 12h10

Era final de abril quando cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, anunciaram que tinham uma possível e promissora vacina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Batizada de ChAdOx1 nCoV-19, ela é feita a partir de uma versão enfraquecida de um vírus do resfriado comum que recebeu o material genético do causador da covid-19.

A razão pela qual o time saiu na frente na corrida por uma vacina é simples: eles já estudavam uma forma efetiva de imunização contra o coronavírus causador da Mers. Em uma entrevista à emissora CBS, Sarah Gilbert, professora de vacinologia da universidade, afirmou que isso dá segurança aos resultados dos testes: "Pessoalmente, tenho um alto grau de confiança sobre esta vacina, porque é a tecnologia que já usei antes".

Quando soube em janeiro que os cientistas chineses haviam identificado o código genético do novo coronavírus em Wuhan, ela quis testar a abordagem antiga, para ver se daria certo. "Nós pensamos: 'Bem, devemos tentar? Será um pequeno projeto de laboratório e publicaremos um artigo'", disse Gilbert em uma entrevista ao The New York Times.

Embora os testes em humanos já estejam acontecendo desde o início do maio, a publicação posterior do pre-print do estudo realizado com a vacina em macacos causou desconforto em alguns cientistas. Isso porque a análise mostrou que o vírus foi encontrado na mucosa nasal tanto dos macacos vacinados quanto dos não imunizados —o que poderia indicar que, de alguma forma, eles também foram infectados.

Vale lembrar que o estudo, publicado na plataforma bioRxiv, ainda não foi revisado por outros colegas cientistas, processo comum na divulgação de pesquisas científicas.

"Primeira vacina pode não ser a melhor"

Um dos especialistas que levantou a questão foi William Haseltine, ex-professor da Harvard Medical School que participou do desenvolvimento dos primeiros tratamentos para o HIV, em artigo publicado na revista Forbes. "Não houve diferença na quantidade de RNA viral encontrada nos macacos vacinados e nos não vacinados. O que indica que todos foram infectados", afirma.

No entanto, os próprios pesquisadores escrevem no estudo que isso provavelmente se deu por conta da alta dosagem de vírus inoculada nos macacos durante a testagem —uma situação que não reproduz a contaminação entre humanos da vida real. "Se uma dose menor resultaria em uma proteção mais eficiente no trato respiratório superior, isso ainda precisa ser determinado", afirmam.

O vírus, no entanto, não conseguiu atingir os pulmões nos macacos vacinados e estes também não desenvolveram nenhum sintoma da doença, indicando que há, sim, algum efeito protetor —e talvez indique que a vacina seja apenas parcialmente efetiva.

Para Natália Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, os questionamentos não invalidam a vacina. "Ainda são boas notícias", afirma. "Os pesquisadores confirmaram que ela gerou anticorpos nos animais e não apresentou efeitos colaterais, o que é bom, já que os estudos em humanos já começaram", diz.

Ela lembra ainda que, por conta do contexto da pandemia, a velocidade com que os cientistas estão analisando as possíveis vacinas é sem precedentes —e algumas etapas estão, sim, sendo puladas, o que pode resultar em imprecisões e algum risco.

"A primeira vacina contra o novo coronavírus não vai ser necessariamente a melhor, mas ela certamente será útil e continuará a ser estudada e aperfeiçoada. Elas ainda não estão prontas", acredita.

*Com informações de Gabriela Ingrid em reportagem de 29/04/2020.