Estudo americano mostra que pacientes com covid-19 tiveram AVCs mais graves
Pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine, nos Estados Unidos, analisaram o histórico de pacientes com covid-19 que sofreram AVC e concluíram que o problema se apresentou de forma mais grave do que em pessoas que não foram contaminadas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Publicado no periódico Stroke, o estudo lança um pouco mais de luz às informações até aqui coletadas a respeito das complicações vasculares causadas pela doença.
Recentemente, artigos médicos foram publicados mostrando que o risco aumentado para a formação de coágulos e tromboses tem sido cada vez mais frequente em pacientes que evoluem para a forma grave da covid-19.
Uma das possibilidades levantadas para o problema é que o novo coronavírus utiliza receptores chamados de ACE2 para entrar no corpo humano. Esses receptores são geralmente encontrados no endotélio —uma espécie de tecido que reveste vasos sanguíneos (como artérias e veias) e a parte interna do coração e que tem influência no controle da coagulação do sangue.
Isso explicaria o aumento nos casos de AVC em pacientes abaixo dos 50 anos, sem histórico de problemas cardiovasculares e que contraíram a doença, uma hipótese reforçada agora com o novo estudo, realizado com pacientes de hospitais em Nova York e Long Island.
No entanto, há boas notícias: a análise mostrou também menos de 1% dos pacientes hospitalizados com covid-19 sofreram AVC. O dado contrasta com as taxas observadas em outros pequenos estudos conduzidos na Itália e na China, em que o número de pacientes que sofreram do problema variava entre 2% e 5%.
Como o estudo foi feito
Para a investigação, os pesquisadores americanos usaram o histórico médico de 32 pacientes que sofreram AVC entre 3.556 pessoas que foram tratadas por covid-19 nos hospitais da NYU Langone. Esses dados foram comparados com pacientes admitidos no mesmo período com o mesmo problema, mas sem a infecção pelo vírus. Também foram utilizados dados de pacientes admitidos há um ano, antes de a pandemia começar.
O resultado foi que os pacientes com covid-19 desenvolveram um quadro mais severo que os outros sem o vírus. O tipo mais comum de AVC foi o chamado criptogênico —uma forma em que o local do bloqueio sanguíneo não é encontrado mesmo após diversos exames.
Eles também notaram que a mortalidade desse grupo infectado foi maior: enquanto, durante o período do estudo, 63% deles morreram, apenas 9% dos não infectados evoluíram para óbito. Entre os pacientes do ano anterior, 5% morreram.
A descoberta sugere que os AVCs dos pacientes com o novo coronavírus são diferentes do comum e provavelmente têm relação com o aumento da taxa de coagulação sanguínea observada nesses pacientes. "O estudo revela que o uso de anticoagulantes pode ser importante na tentativa de reduzir a severidade não usual dos AVCs em pessoas com covid-19", avalia o Shadi Yaghi, professor assistente do Departamento de Neurologia na universidade NYU Langone Health e um dos autores do estudo.
Danos neurológicos
Conforme a doença avança pelo mundo, novos relatos a respeito dos problemas causados pelo novo coronavírus começam a surgir também. Além do risco aumento para AVC, outros sintomas neurológicos começaram a ser relatados —como a perda de olfato e paladar, que se tornaram relativamente comuns em pacientes infectados.
Outros casos também já mostraram a ocorrência de encefalite (inflamação no cérebro) e pacientes que desenvolvem um quadro de Síndrome de Guillain-Barré ou de enxaqueca refratária —neste último caso, desenvolvida após a recuperação da doença e com indicativos de aumento da pressão intracraniana.
Estes quadros foram observados pelo neurologista Marcus Tulius Silva, coordenador do Serviço de Neurologia do Complexo Hospitalar de Niterói (RJ) e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Segundo ele, já é possível notar, por exemplo, que pacientes intubados após complicações do novo coronavírus possuem uma agitação psicomotora maior do que o normal.
"É mais uma evidência de que, diferente de outros vírus respiratórios, o Sars-CoV-2 tem grandes chances de invadir o sistema neurológico", afirma. Ele ainda lembra que, embora ainda existam poucos casos sobre problemas neurológicos, eles servem de alerta aos médicos. "É preciso estar mais atento que o normal e buscar ativamente pelos sinais de que esse acometimento pode estar acontecendo", avalia.
O especialista está à frente de um estudo, em parceria com o Complexo e a Fiocruz, para avaliar pacientes brasileiros da covid-19 que desenvolveram esses quadros neurológicos. O projeto, que já está em andamento, prevê a avaliação das pessoas em 30, 60 e 90 dias. "A ideia é entender o que acontece após a alta, como é a vida após a recuperação da doença", afirma.
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