Pai solo, ele teve gêmeos gerados por sobrinha: "Realizei meu sonho"
O mais novo de dez irmãos, o mineiro Anderson Franco Neves se acostumou a estar sempre rodeado de familiares. Com o passar dos anos, ele assistiu a família crescer: seus irmãos tiveram filhos e até os sobrinhos alongaram a árvore genealógica, dando a ele o título de tio-avô.
Apesar da alegria de ter uma família cada vez maior, para Anderson, algo importante ainda faltava. Ele tinha o sonho de ser pai. Homossexual e solteiro, ele pensou em adoção, mas seu maior desejo era ter um filho biológico.
Em 2015, quando tinha 39 anos, Anderson abriu o coração para a família e, conversando sobre as possibilidades, uma de suas irmãs ofereceu o útero "emprestado", para gestar um bebê com o espermatozoide do irmão e o óvulo de uma doadora anônima.
Após algumas tentativas frustradas de FIV (fertilização in vitro), outra irmã topou o procedimento, mas também não teve resultados. "Foi quando uma sobrinha se solidarizou e iniciamos todo o processo com ela novamente. Foram cinco anos e três familiares, mas finalmente ela engravidou", conta.
Como funciona a barriga solidária
As normas para realização do acordo de barriga solidária são estabelecidas pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e estabelecem regras como a de que a cedente do útero deve ter parentesco de no mínimo quarto grau com um dos pais da criança (ou, se for mais distante, necessita a autorização do Conselho Regional de Medicina) e não deve haver envolvimento econômico.
De acordo com o médico ginecologista Edson Borges Júnior, especialista em reprodução humana pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) e diretor científico do Fertility Medical Group, a fertilização in vitro, método comumente usado para as famílias que escolhem este caminho, é relativamente simples. "Consiste na união do espermatozoide com o óvulo em ambiente laboratorial para formação do embrião que depois é introduzido no útero", explica.
No entanto, o preço médio da técnica é alto. De acordo com Borges Júnior, quem deseja fazer a FIV, independentemente da razão, desembolsa um valor entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
Ambas as partes também precisam passar por uma avaliação psicológica e assinar um termo de compromisso —se a mulher que cede o útero vive em união estável, seu parceiro(a) também precisa consentir.
"Engravidar foi a forma de demonstrar gratidão ao meu tio"
Jamile Herfran tinha 17 anos quando seu tio começou as tentativas. "Disse que se ele esperasse até meus 18 anos, eu poderia gerar, mas decidiu começar com as minhas tias. No fundo, já sentia que o processo seria comigo", conta.
Aos 21, Jamile tomou a decisão de ir em frente com a ideia da barriga solidária. Ela, que sempre foi próxima de Anderson, conta que seu tio apoiou a família em vários momentos e essa foi sua forma de retribuir. "Ele esteve comigo quando meu pai, ausente, não ficava ao meu lado, e gestar seus bebês era algo que só eu poderia fazer por ele", diz.
Na época, ela namorava o homem que é hoje seu noivo, e conta que teve total apoio dele. "Ele sabia que eu já vinha me preparando para o momento há anos e me sentia pronta."
Ela também teve apoio de uma psicóloga, com quem já se consultava regularmente desde os 19 anos. "Meu conselho para quem pensa em fazer o mesmo é certificar-se de que você tem uma rede de apoio muito bem estruturada e ter a total consciência de que as crianças não são suas. Na minha cabeça, eu tinha certo de que eu era como um 'forninho'".
"Sinto que foi uma experiência maravilhosa para mim, como mulher. Senti o que é gerar outras vidas e foi muito importante para o meu amadurecimento. Não sei se quero ter filhos biológicos, mas adotar, com certeza", diz.
Hoje, Jamile conta que tem uma relação de carinho especial com os primos, mas não os vê sempre.
"Não existe uma forma única de construir uma família"
Para Anderson, ser pai dos gêmeos Fernanda e Eduardo, hoje com três anos, é uma emoção muito grande. "Mudou minha vida completamente. Quando descobri que eram gêmeos então, quanta alegria! Minha sobrinha fez um chá revelação para mim", lembra.
O empresário conta que sempre teve grande apoio da família e amigos ao buscar seu sonho. "Resolvi encarar essa responsabilidade sozinho porque sabia o que queria, não existe uma forma única de construir uma família. Minha mãe tinha 74 anos não podia me ajudar a gerar. Mas ela mora comigo, ajuda e a família traz muita alegria, dizem que as crianças vão dar mais 10 anos de vida para ela", afirma.
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