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Aplicativo auxilia no controle de transtornos de compulsão alimentar

Aplicativo foi testado por pesquisadores da Icahn School of Medicine, nos Estados Unidos, e apresentou resultados animadores - DrangoImages/Istock
Aplicativo foi testado por pesquisadores da Icahn School of Medicine, nos Estados Unidos, e apresentou resultados animadores Imagem: DrangoImages/Istock

Fábio de Oliveira

Agência Einstein

10/06/2020 12h26

Um estudo publicado no periódico científico American Journal of Psychiatry demonstrou a efetividade de um aplicativo para smartphone que associa o trabalho de coachs de saúde (profissionais que ajudam o paciente a compreender seu quadro) e a telemedicina para tratar os sintomas de transtornos de compulsão alimentar — um distúrbio de ansiedade caracterizado pela necessidade de comer mesmo quando se está saciado.

"O principal gatilho é a restrição alimentar", diz o psiquiatra Eduardo Aratangy, do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, nos Estados Unidos.

No sistema organizado pelos pesquisadores, os coachs de saúde foram treinados pelo pesquisador principal para aplicar a terapia cognitivo-comportamental por telefone nos pacientes. O método psicoterápico é focado em dois aspectos. O primeiro é o comportamento: o que a pessoa faz, as circunstâncias que desencadeiam as ações e como podem ser modificadas. O segundo, o cognitivo, diz respeito às crenças, associações e ideias que podem ser distorcidas por emoções negativas.

Um exemplo disso é o indivíduo que tem baixa autoestima, recebe uma notícia ruim ou vive um dia estressante e, buscando conforto, recorre à comida. O trabalho consiste na quebra desse ciclo por meio de técnicas que auxiliam na identificação e mudança dos pensamentos gatilhos e suas respectivas respostas comportamentais.

As sessões envolveram seis etapas sequenciais voltadas ao treino do paciente para o automonitoramento, adoção de alimentação regular (três refeições / dois lanches), de atividades alternativas à compulsão alimentar, resolução de problemas e prevenção de recaídas. A primeira sessão durou 60 minutos. As subsequentes, de 20 a 25 minutos.

Os agentes de saúde encerraram a participação após doze semanas. Depois, os participantes tiveram acesso ao manual com orientações e ao aplicativo Noom Monitor, criado para auxiliar a adesão às recomendações da terapia cognitivo-comportamental. Eles foram orientados a usarem o programa até alcançarem remissão. Por meio do app, o paciente monitora suas respostas ao tratamento e as informações são acompanhadas pelo coach de saúde.

A pesquisa comparou os resultados de 52 semanas de uso do app com o atendimento convencional, que incluía consulta psiquiátrica tradicional. Ao todo, contou com 225 participantes que tinham sido diagnosticados com compulsão alimentar periódica ou bulimia. Os pacientes que utilizaram o aplicativo relataram maior redução nos dias de compulsão alimentar (cerca de três dias a menos por mês) e alcançaram maiores taxas de remissão (56,7%) do que o grupo que não seguiu nenhum tratamento específico para transtorno alimentar (30%).

Algo semelhante também foi verificado em comportamentos compensatórios, como uso de laxante ou excesso de exercício, sintomas de transtorno alimentar (preocupação demasiada com o peso) e comprometimento clínico. "O aplicativo amplia o espectro de tratamento ao monitorar o paciente e usar como base a terapia cognitiva comportamental, tratamento que traz mais resultados e efetividade neste tipo de transtorno", diz o psiquiatra Alfredo Maluf, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A eficácia do sistema deverá ser testada em uma base maior de pacientes. Se confirmada, servirá como nova opção de tratamento para um transtorno, que afeta cerca de 5% dos brasileiros.