Pessoas com cortisol alto têm 42% mais risco de morte por covid, diz estudo
Até o momento o novo coronavírus e a covid-19 estão rodeados por especulações e dúvidas, mas estudos científicos têm tentado cada vez mais construir novos conhecimentos sobre o tema. Um estudo feito pelo Imperial College London (Inglaterra) e publicado na revista científica The Lancet Diabetes & Endocrinology, por exemplo, percebeu uma relação entre níveis altos de cortisol —conhecido por ser o hormônio do estresse — com um maior risco de mortalidade ao contrair a covid-19, o que pode indicar uma relação entre a sensação e a doença.
Como o estudo foi feito
- O estudo analisou 535 pacientes ingleses admitidos com coronavírus em três grandes hospitais-escola em Londres (Charing Cross, Hammersmith, and St Mary's) entre 9 de março e 22 de abril (com acompanhamento em 8 de maio);
- Foram excluídos aqueles que tivessem condições que pudessem afetar seus níveis de cortisol, como hipoadrenalismo ou tratamento simultâneo com glicocorticóide sistêmico;
- Primeiramente, o estudo percebeu elementos já conhecidos: pessoas com mais de 75 anos e com condições como diabetes, hipertensão, atual diagnóstico de câncer, doença renal crônica ou doença cardiovascular apresentavam maior risco de mortalidade;
- Mas os cientistas notaram também que pessoas com a concentração de cortisol duas vezes maior tinham um aumento de 42% no risco de mortalidade, mesmo após o ajuste por idade, presença de comorbidades e exames laboratoriais;
- Pacientes com covid-19 cuja concentração inicial de cortisol era igual ou inferior a 744 nmol/L apresentaram sobrevida média de 36 dias, já aqueles cujo valor de cortisol era superior a 744 nmol/L tiveram sobrevida média de 15 dias --os níveis de cortisol normais costumam ficar entre 100 e 200 nmol/L.
Então sentir estresse piora os riscos da covid-19?
Não necessariamente. De acordo com o endocrinologista Madson Queiroz de Almeida, presidente do Departamento de Adrenal e Hipertensão da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), é sabido já que uma doença grave causa no corpo um estresse chamado de fisiológico, que é capaz de aumentar as concentrações de cortisol —e isso não tem necessariamente uma relação com se sentir nervoso ou cansado diante de todo o cenário atual. Esse aumento do hormônio, na verdade, representa uma defesa inicial do organismo e tem por finalidade desencadear alterações no metabolismo, no sistema cardiovascular e imunológico que irão preparar o corpo para a infecção ou fator que esteja causando esse estresse.
Portanto, essa descoberta na verdade nos traz um possível novo biomarcador da gravidade do coronavírus. E ainda sim, há ressalvas. "Vale ressaltar que o valor de corte estabelecido de cortisol precisa ser validado em diferentes métodos de dosagens e em outras séries de pacientes. Além disso, os níveis de cortisol e o seu impacto na mortalidade devem variar de acordo com o tempo que o exame é coletado após a internação", indica Almeida.
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