Telemedicina: "Em casa, recebi diagnóstico, tratamento e muita atenção"
Depois de uma noite mal dormida, com vômito e enjoo, a pedagoga Lenir Aparecida Rodrigues Cordeiro, 64 anos, amanheceu com dor de garganta. Como está no grupo de risco da covid-19, ela ficou com medo de ir até um hospital e se expor ao novo coronavírus. Então, decidiu usar um serviço de telemedicina que uma amiga havia compartilhado em um grupo no Whatsapp.
"Mandei mensagem na sexta-feira e, na segunda, já estava com a minha consulta agendada. Eu sentia dificuldade para comer. Era como se eu engolisse a comida e ela parasse no peito. O médico foi superatencioso e fez uma série de perguntas. Recebi o diagnóstico de esofagite, ele passou um medicamento e, desde então, estou bem melhor", conta Lenir.
Regulamenta pelo Ministério da Saúde devido à pandemia, a telemedicina tem sido importante para reduzir o número de pessoas que buscam atendimento em hospitais e clínicas, se expondo ao coronavírus. Com isso, nos últimos meses surgiram muitas ferramentas que oferecem serviços de saúde online —algumas delas acessíveis para grande parte da população.
No início de junho, por exemplo, o UOL lançou o UOL Med. Com planos a partir de R$ 12,90 por mês, além de descontos em medicamentes, consultas presenciais e exames clínicos com preços bastante acessíveis, o UOL Med oferece consultas por vídeo, garantindo segurança durante a pandemia.
Outra ferramenta criada este ano é a Nilo Saúde, usada por Lenir para descobrir a causa de sua dor de garganta. Focada na saúde da população acima de 50 anos, a plataforma foi lançada em janeiro mas, durante a quarentena, passou a oferecer acompanhamento médico e psicológico gratuito. Uma opção importante nesse momento de isolamento, em que muitas pessoas estão com a saúde mental abalada.
Sozinha em seu apartamento por conta da pandemia, Lenir estava se sentindo especialmente solitária porque ia comemorar seu aniversário longe das amigas. Por isso, também iniciou o acompanhamento psicológico à distância.
"A psicóloga foi supersensível, me deu várias ideias para comemorar a data e sugeriu fazer uma festa por videoconferência. E foi ótimo! No dia do meu aniversário, inclusive, ela e o médico que me atenderam enviaram um vídeo de parabéns. Fiquei superemocionada com esse carinho", conta Lenir.
Segundo Victor Marcondes, um dos fundadores da Nilo, mesmo em pouco tempo, o atendimento online já se mostrou eficaz para o tratamento de sintomas físicos, como dores, e psicológicos, como ansiedade, tristeza e estresse. "A telemedicina é aliada nesse momento em que cuidar da saúde física e mental deve ser prioridade", diz Marcondes.
Telemedicina não só para covid-19
Os sintomas não precisam estar diretamente relacionados com o novo coronavírus para uma pessoa receber teleatendimento, como foi o caso de Lenir. Ela nunca tinha feito consultas online e gostou da experiência, tanto pela atenção que recebeu do médico como da comodidade de não ter de sair de casa, enfrentar trânsito, perder tempo aguardando na recepção etc.
"O médico fez a consulta com muita calma e atenção. Fiquei mais de 40 minutos conversando com ele. E não precisei me deslocar. Faço acompanhamento com muitos médicos e às vezes preciso ficar embaixo do prédio, por não ter espaço na sala de espera. Acho que as consultas virtuais são uma excelente opção", afirma.
A médica Denise Gobo, psiquiatra e membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), concorda. Ela começou a atender via telemedicina desde a regulamentação do atendimento remoto e afirma que a interação à distância tem sido positiva.
"Achei que os pacientes fossem estranhar um pouco porque, na psiquiatria, você precisa de um ambiente acolhedor para poder falar sobre suas feridas e angústias. Mas agora atendo pacientes do Norte e Nordeste, que antes precisavam vir até São Paulo para ter tratamento. A pandemia fez a medicina evoluir", acredita.
Obviamente, existem entraves. Segundo Gobo, eles surgem principalmente em especialidades em que o toque é fundamental para confirmar alguns diagnósticos —como dermatologia, ginecologia e ortopedia. Porém, nesses casos, o paciente pode fazer uma triagem online e, se o médico achar necessário, vai solicitar uma consulta presencial.
"Idosos também podem ter eventuais dificuldades com a telemedicina, pois muitas vezes possuem alguma dificuldade auditiva ou cognitiva para o entendimento de algumas perguntas, por exemplo. Por isso, é preciso avaliar cada atendimento caso a caso", afirma Gobo.
Entenda os serviços de telemedicina
O CFM (Conselho Federal de Medicina) define a telemedicina como o exercício da medicina, mediado por tecnologias para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças, lesões e promoção da saúde. A conversa entre o profissional da saúde e o paciente pode ser em tempo real (síncrona) ou não (atendimento assíncrono).
Entre as possibilidades de atendimento à distância estão:
- Teleconsulta É a consulta médica remota. Deve ser feita com a presença do profissional da saúde e do paciente. Em casos que exigem longo acompanhamento ou de doenças crônicas (como diabetes), é recomendado que seja feita uma consulta presencial em intervalos não maiores que 120 dias.
- Teletriagem O médico avalia os sintomas e direciona o paciente para um especialista ou assistência mais adequada (consulta presencial, por exemplo). Na teletriagem não há diagnóstico da doença.
- Telemonitoramento É o acompanhamento à distância de um paciente em tratamento, feito pelo médico com base em resultados de exames solicitados, dispositivos de monitoramento (um termômetro, por exemplo) ou avaliação de sintomas. Tudo pode ser feito sem a necessidade do paciente se deslocar até a unidade de saúde.
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