Pesquisadores da USP vão acompanhar saúde mental de jovens durante pandemia
Avaliar os efeitos da covid-19 na saúde de jovens e crianças de 5 a 17 anos é um dos objetivos do estudo Jovens na Pandemia, liderado pelo IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP). Ao longo de 12 meses, os pesquisadores querem caracterizar emoções e comportamentos desse público no contexto da doença que, até o fechamento desta reportagem, já tinha em torno de 466 mil mortes e quase 9 milhões de casos no mundo, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Os questionários foram disponibilizados no dia 17 de junho e, uma semana depois, já contava com 1.054 inscritos. "O ideal é que a amostra seja maior e mais ampla possível e que alcance diferentes extratos socioeconômicos", diz Guilherme V. Polanczyk, professor associado da disciplina de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
Quanto mais pessoas, mais dados teremos para trabalhar".
Para participar, não é necessário ter um quadro de ansiedade ou depressão em curso. O questionário inicial será respondido pelos pais. Depois de analisados, todos os voluntários receberão um retorno sobre o seu estado de saúde. "Aqueles que precisarem, serão encaminhados para psicoterapia no IPq", explica Polanczyk.
Saúde mental
O estresse emocional é um dos mais importantes fatores de risco preveníveis para transtornos mentais. Em um artigo publicado em maio no Jornal da USP, Polanczyk deu um panorama sobre como uma pandemia pode afetar os jovens. "Todas as crianças e adolescentes neste momento se deparam com situações que geram sofrimento. A limitação de não poder ir e vir, a restrição de espaço, não poder encontrar ou abraçar seus avós, não poder encontrar seus amigos, ter festa, viagens e campeonatos cancelados, o medo de ser infectado ou de ter seus familiares infectados, a interrupção do ensino presencial, a percepção que seus pais estão ansiosos, preocupados, irritados, as brigas, são todas as situações que geram estresse nesse momento."
O psiquiatra afirma que os sentimentos foram mudando ao longo dos dias, desde que a OMS declarou a pandemia de covid-19 em 11 de março deste ano. Segundo ele, as reações foram mais intensas no início. Depois, houve o período de adaptação à nova realidade e, essa fase, que é a que estamos vivendo agora, deixou as pessoas mais cansadas. "Não saber o que vai acontecer gera muita ansiedade", explica o psiquiatra. Os grupos de crianças com vulnerabilidade prévia - aquelas que já apresentam transtornos mentais, vivem na pobreza e em situações precárias de moradia - podem sentir com mais intensidade os efeitos do isolamento social.
Por isso, os pesquisadores acham importante haver uma intervenção médica e psicoterápica a partir dos 5 anos.
Nessa idade, a criança já tem uma compreensão maior do que está acontecendo, entende os riscos e sabe que a doença pode atingir pessoas próximas", diz o médico.
Durante o estudo, os pais serão orientados a reconhecer os sinais de estresse dos filhos, processá-los e passar para eles respostas que gerem segurança, acolhimento e aprendizado, por exemplo. Sintomas como ansiedade, estresse, irritabilidade, tristeza, insônia, além de agitação e desesperança, servem de alerta."Boa parte dos transtornos que acompanham os adultos começa na infância", explica Polanczyk . "Mas se os adultos também necessitarem de ajuda, serão encaminhados para tratamento."
Recentemente, os coordenadores da pesquisa enviaram à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) um projeto de teleatendimento para as crianças e aguardam um retorno da entidade.
Como participar
Os interessados deverão preencher o formulário no site da pesquisa e responder o primeiro questionário, que dura aproximadamente 20 minutos para ser preenchido. Os demais demandarão um tempo menor, em torno de 5 minutos. Além disso, as crianças serão convidadas a participar de um jogo via internet que avalia a flexibilidade do pensamento delas.
Após preencher os dados, os pais ou responsáveis receberão por e-mail informações sobre os comportamentos do filho comparados aos padrões na população. Essas informações serão exclusivas aos pais. Já os dados do grupo de crianças e adolescentes que respondeu à pesquisa serão divulgados, sem a identificação de qualquer participante. Mais informações: e-mail gvp@usp.br, com Guilherme Polanczyk.
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