Alergia à água causa urticária e afeta hábitos cotidianos como tomar banho
A água é essencial para manter a higiene, seja pessoal ou da casa. Tomar banho, escovar os dentes e lavar a louça estão entre as atividades cotidianas de qualquer pessoa. Esse líquido primordial em nossas vidas também faz parte das horas de lazer, quando nos divertimos ou nos exercitamos em uma piscina ou no mar. Porém, a quem tenha alergia ao tocá-la.
A urticária aquagênica é caracterizada pela reação alérgica quando em contato com a água, independentemente da temperatura. Causa vermelhidão na pele, inchaço e coceira intensa. As lesões são pequenas e desaparecem rapidamente, após 30 a 60 minutos.
A doença é rara, sendo mais comum nas mulheres —o porquê ainda não é conclusivo. Na maioria dos casos, surge durante a puberdade, por causa da imaturidade do sistema imunológico. No entanto, pode se manifestar na fase adulta.
A urticária
A urticária, de qualquer tipo ou causa, acomete entre 15% e 20% da população mundial pelo menos uma vez na vida. Pode ser desencadeada por alimentos, medicamentos, infecções virais, fatores ambientais ou doenças autoimunes, e se difere, sobretudo, pelo agente causador, pela intensidade e duração da reação alérgica e pelo período de tratamento.
É considerada aguda quando a lesão cutânea é leve e permanece no corpo por até seis semanas, e crônica, se persistir por mais tempo. Neste último caso, os sintomas da reação alérgica reaparecem constantemente, e o incômodo e o tratamento podem durar, em média, entre dois e cinco anos. E se divide entre induzida (causada por agentes externos, como água, frio, calor, sol, picada de inseto, pressão na pele) e espontânea (sem fator de origem).
Por ser do tipo crônica induzida, o alérgico à água deve evitar o contato com o agente causador. Mas como ter uma vida comum quando diagnosticado com urticária aquagênica? Calma! Não precisa fugir do chuveiro. A higiene pessoal está garantida, desde que procure um médico especialista e obedeça as recomendações.
A doença requer acompanhamento médico contínuo e ingestão de medicamentos, que serão ajustados conforme a resposta ao tratamento. Seguir a prescrição corretamente permite ao alérgico tomar banho todos os dias e até pegar aquela chuva inesperada.
Vale salientar que a urticária aquagênica é uma doença que se manifesta exclusivamente pelo contato prolongado com a água na pele. A ingestão do próprio líquido ou de alimentos que o contém não produz lesões no corpo do alérgico, nem mesmo as lágrimas que escorrem pelo rosto.
Predisposição genética
Existe uma predisposição genética para sofrer da doença (mas não obrigatoriamente hereditária), embora ainda não se tenha mapeado um gene específico que promova seu aparecimento. O fato é que, em contato com a água, o organismo do alérgico provoca uma reação ao identificar uma substância que ele considera estranha.
Como medida de proteção, o sistema imunológico produz anticorpos. Células da pele, diante do estímulo, liberam substâncias químicas, entre elas e de maior quantidade a chamada histamina, que causa dilatação dos vasos sanguíneos e, por consequência, vermelhidão, inchaço e coceira.
A cada exposição à água, o organismo forma novos anticorpos e a resposta alérgica se torna cada vez mais grave. Por isso, o acompanhamento médico e o tratamento, geralmente com anti-histamínicos, não podem ser interrompidos. Em casos leves e dependendo da resposta do indivíduo, o medicamento reduz e até anula os sintomas ao longo do tempo.
Já em quadros mais graves de urticária, é necessário o uso de corticoides, imunobiológicos ou imunossupressores. Por ser constante, duradoura e causar lesões profundas, a do tipo crônica pode ocasionar problemas interpessoais no trabalho, na escola e na família, além de piorar o humor e a qualidade do sono. Por isso, é aconselhável a assistência de uma equipe multidisciplinar.
O tratamento conjunto entre dermatologista, alergista e psicólogo resultará em uma melhor qualidade de vida e reduzirá o período terapêutico, já que o estresse estimula a liberação de histamina, ou seja, é um gatilho para o aparecimento de lesões na pele.
Reação ao frio ou ao calor
Outra curiosidade da alergia aquagênica tem relação com o diagnóstico. O teste de exposição é realizado com a água nas temperaturas quente e gelada. Desta forma, é possível identificar o agente causador das reações cutâneas.
O surgimento de urticas na pele somente após o contato com água gelada significa que o paciente, na realidade, tem urticária ao frio, e urticária colinérgica, no caso de teste positivo apenas com água quente. Se aparecerem placas vermelhas nos dois casos, aí, sim, é aquagênica.
A alergia ao frio ou ao calor é mais perigosa e exige mais cuidados que a aquagênica. Nos quadros graves, ao mergulhar em uma piscina com água gelada, a pessoa pode ter perda de consciência, devido à dilatação dos vasos sanguíneos e o aumento da pressão arterial, e sofrer um afogamento. Ou um edema da orofaringe e dificuldade de respirar ao ingerir uma bebida.
Existe, ainda, a coceira pós-banho, que se manifesta devido à diferença de temperatura entre as áreas interna e externa do boxe. Desaparece em cerca de 30 minutos e não causa urticária. Neste caso, basta se cobrir com toalha ao sair do chuveiro para manter o calor do corpo.
Alívio, nem sempre imediato
Alguns hábitos podem inibir o aparecimento de urticárias ou aliviar os sintomas. São medidas simples que trazem conforto e menos incômodo ao alérgico.
- Evite ingerir alimentos ou medicamentos e ter contato com agentes externos que já causaram anteriormente algum tipo de alergia;
- Siga o tratamento médico e tome os medicamentos indicados, sem interrupções;
- Tome banho morno ou frio;
- Não coce a área afetada;
- Relaxe, não se estresse;
- Modere no consumo de álcool;
- Use roupas confortáveis;
- Não se automedique.
Fontes: Flávia Gomes Pileggi, docente do Departamento de Medicina da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos); Paulo Ricardo Criado, coordenador do Departamento de Medicina Interna da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Régis de Albuquerque Campos, médico alergista e coordenador do Departamento Científico de Urticária da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) e Samar Harati, dermatologista do Hospital São Luiz Anália Franco (SP).
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