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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Sente dificuldade em pedir ajuda? Assumir que não está bem é ato corajoso

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Heloisa Noronha

Colaboração com VivaBem

09/07/2020 04h00

"Vai passar", "tudo tem seu lado positivo", "ser feliz é questão de escolha", "persista", "acredite mais em você"... Basta uma olhada rápida nas redes sociais —em especial no feed do Instagram, onde o movimento #goodvibesonly parece imperar — para ler frases como essas. E, num dia ruim ou em uma fase meio complicada, imediatamente experimentar uma sensação horrível de frustração e fracasso. Afinal, com tanto incentivo vindo de todos os lados, como não se sentir incrivelmente motivado, mesmo diante do contexto atual?

Tais expressões indicam, nas entrelinhas, que você tem que estar bem, resolver os seus problemas sozinho e que, caso não o faça, é um derrotado. O resultado dessa pressão travestida de autoajuda é que muitas pessoas acreditam que pedir ajuda é sinônimo de fraqueza, quando, na verdade, é o ato mais corajoso que podem fazer por si mesmas.

Para Elisa Zaneratto Rosa, psicóloga e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), vivemos um momento histórico que valoriza um movimento de incentivar as pessoas a acharem as respostas para tudo nelas mesmas. "Os efeitos dessa lógica são perversos, pois intensificam o sofrimento emocional e não consideram uma sociedade que sofre coletivamente. Há uma responsabilização do sujeito como único capaz por seus males e curas", avalia.

O conceito de empreendedorismo é a maior expressão disso, no ponto de vista de Rosa. "Num momento em que direitos trabalhistas são retirados e há uma queda expressiva do emprego formal, é cômodo que cada um busque por si só o seu sucesso, que dê conta disso e que, se fracassar, é porque não 'se esforçou' o suficiente", afirma a psicóloga, que pontua que não é só legítimo assumir que não está tudo bem, como desabafar e compartilhar as dores ajuda a dar sentido e compreensão a elas e a pensar caminhos de transformação coletiva.

Já Nikolas Heine, psiquiatra do Hospital 9 de Julho, em São Paulo (SP), acredita que reconhecer o próprio sofrimento emocional e pedir ajuda é uma das formas mais efetivas de conseguir resolver o problema. "É claro que existe a possibilidade de resolver um problema emocional se retirando do meio social e, dessa forma, acabar se 'revolucionando' em termos de sentimentos, valores e entendimentos dos acontecimentos que causaram o abalo. Porém, pedir ajuda a terceiros permite ter outras perspectivas da questão e de conseguir, de forma catártica, colocar sentimentos para fora e obter um alívio da sensação de estar sozinho, algo bem comum a quem está passando por um problema", observa.

Combate a crenças limitantes

Dificuldade para pedir ajuda - iStock - iStock
Muitas vezes acreditamos que devemos fazer tudo sozinhos, mas pedir ajuda não é sinal de fraqueza
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Segundo a psicóloga comportamental Denise Pará Diniz Romaldini, coordenadora do setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), pedir ajuda é um evento estressor para muita gente. "Na hora de solicitar um auxílio, seja ele financeiro, emocional ou pessoal, nosso sistema de crenças e valores costuma entrar em ação. E aí é preciso enfrentar dois problemas: a adversidade em si e a necessidade de precisar de alguém, que é bastante estressante", diz.

Ela argumenta que muitas pessoas deixam de pedir ajuda porque cresceram acreditando que "se virar por si mesmas" faz parte da sua capacidade e é um sinal de autoconfiança e sucesso. De alguma forma, elas aprenderam a ser perfeccionistas e acreditam que devem cumprir todas as demandas da vida sozinhas, sem colaboração ou apoio. "Cada um tem seus motivos para não pedir ajuda, mas é preciso entender o que há por trás dessa postura inflexível e se, for o caso, repensá-la. Trocar faz com que as relações interpessoais valham a pena, é algo positivo. E não é porque você pretende pedir ajuda que é alguém incompetente e que não vai conseguir se virar bem depois", comenta Denise.

Relações afetadas

Pedir ajuda - iStock - iStock
Contar com os outros em momentos difíceis fortalece nossas relações
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Há quem prefira fazer de conta de que não sofre, não se sente só, não precisa desabafar. Só que fingir que tudo está bem pode afetar a saúde das relações com amigos e familiares, segundo Angelica Capelari, docente do curso de Psicologia da Escola de Ciências Médicas e da Saúde da UMESP (Universidade Metodista de São Paulo). "É um fingimento que não se sustenta por muito tempo. E, ao vir à tona, pode provocar raiva ou decepção nos colegas pela falta de confiança e sinceridade", fala.

Se o indivíduo finge que está tudo bem quando atravessa uma situação difícil, acaba negando a quem lhe quer bem uma parte do que acontece com ele. Nega, ainda, a possibilidade de que o amigo ou o parente possam tentar mudar as circunstâncias
Nikolas Heine, psiquiatra do Hospital 9 de Julho

Romaldini lembra que pedir ajuda não significa passar para o outro a possibilidade de lhe auxiliar o tempo todo nem admitir uma espécie de derrota emocional. "Pense que você é capaz, mas nesse momento precisa do outro. Reconheça que tem capacidade, sim, em muitas coisas, mas nas circunstâncias atuais enfrenta limitações. Admitir tudo isso é um ato de coragem e, principalmente, uma atitude de superação de preconceitos. Vivemos em meio a tanta desconfiança na convivência social que se abrir para um troca tem muito valor. É um voto de confiança no outro e em nós mesmos, pois provoca uma aproximação", pondera a psicóloga.

"Ao pedir ajuda, seja de que natureza for, você se expressa. E, ao se expressar, passa a se organizar melhor, pois racionaliza o sentimento. Cobre-se menos", completa Romaldini.