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Com dois cistos no ovário, ela adiou cirurgia por pandemia e teve covid-19

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

15/07/2020 04h00

Com a pandemia do novo coronavírus ainda sem previsão para acabar, os médicos recomendam adiar consultas e até cirurgias eletivas, consideradas não emergenciais.

Mas quanto tempo os procedimentos podem esperar? Embora alguns quadros possam ser controlados com medicação ou apenas ficarem sob observação médica, outros pedem maior urgência. É o caso da profissional de relações públicas Juliane Dantas, 30, moradora de São Paulo.

Com endometriose, ela precisava retirar dois endometriomas (também chamados de cistos), um localizado em cada ovário, além de alguns outros focos espalhados pelo intestino. "No início de abril fiz exames para saber se poderia colocar o DIU (dispositivo intrauterino) e descobri que precisaria operar. Mas aí pensei: 'Como vou me internar em um hospital cheio de vírus? Moro com a minha mãe, que tem 73 anos, é diabética e tem pressão alta", lembra.

Mas o quadro de Juliane não deixava alternativa. "Até quatro centímetros é o tamanho aceitável para manter um cisto dentro do corpo. O dela tem quase nove centímetros e, por isso, há o risco de romper ou torcer, o que pode causar hemorragia interna e a levar a perder os ovários. Além disso, os focos oferecem perigo por poderem se aprofundar cada vez mais nos órgãos, levando a obstrução das vias urinárias ou do intestino, dor pélvica e infertilidade", explica Lídia Myung, professora de pós-graduação em ginecologia minimamente invasiva da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e médica de Juliane.

Além disso, os endometriomas causam incômodo. "Sinto bastante dor quando vou ficar menstruada e um pouco logo que termina. Fora desse período, sofro com pontadas de vez em quando", comenta a paulistana.

No meio do caminho, tinha um vírus...

Para que se sentisse mais tranquila, Juliane combinou com sua médica de adiar a cirurgia o máximo possível, deixando o procedimento para o dia 10 de julho, quando esperava que a situação da pandemia no país já estivesse mais controlada.

Juliane Dantas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Mas o medo de ser infectada pelo Sars-CoV-2 se tornou realidade mesmo sem ficar no hospital. Os primeiros sintomas --perda de olfato e paladar e dor de cabeça semelhante a quadro de sinusite-- apareceram no dia 11 junho.

"Não sei como peguei, porque saí pouquíssimas vezes de casa, somente para o necessário. Talvez em alguma ida ao supermercado. Fiquei preocupada que não daria tempo de me recuperar para a cirurgia", afirma.

A janela de um mês, no entanto, foi suficiente para que Juliane zerasse sua carga viral e a cirurgia correu bem. Ela foi testada pelo hospital três dias antes do seu procedimento, protocolo adotado pela BP para todos os casos cirúrgicos.

Adiamento de cirurgias deve ser avaliado individualmente

A decisão deve ser tomada sempre com base na avaliação médica. "Para além das cirurgias de câncer, que devem continuar, as demais indicações costumam ser as doenças que geram quadros de dor muito intensa, sangramentos ou que gerem risco para os pacientes", pontua Myung.

A médica alerta que o adiamento precisa seguir estratégias de acompanhamento intensivo dos pacientes e muita atenção aos sintomas. Doenças que geram quadros de dor intensa, como a endometriose e os cistos ovarianos, costumam oferecer menor proporção de risco, mas também não devem ser negligenciadas.

Para aqueles que não podem esperar meses pelo procedimento, mas assim como Juliane sentem medo de serem infectados, a ginecologista explica que a maioria dos hospitais capacitados para cirurgias estão preparados para receberem os diferentes casos.

"É tudo separado. O fluxo de quem vai fazer cirurgia, incluindo entrada, sala de espera e elevadores, é longe qualquer atendimento de emergência, inclusive de covid-19", esclarece.

Além disso, de acordo com Myung, é feito o teste para a covid-19 em todos os pacientes com cirurgias agendadas e quem passará por procedimento é orientado a ficar sete dias em confinamento absoluto para que não haja risco nesse intervalo de tempo.