Estudos mostram micro-tromboses em pacientes com covid-19 grave; entenda
Há algum tempo estudos têm relacionado a formação de trombos em pacientes com covid-19, sem entender bem como o novo coronavírus poderia formar esse problema.
Duas pesquisas recentes investigaram o assunto um pouco mais. Uma delas, publicada no final de junho na revista científica The Lancet, mostrou que alguns coágulos estavam espalhados por praticamente todos os órgãos.
Em entrevista à emissora CNN, umas das autoras do estudo, Amy Rapkiewicz, disse que os coágulos não estavam somente nos vasos sanguíneos maiores, mas também nos menores. "Nós esperávamos que estaria concentrado no pulmão, mas encontramos coágulos em quase todo órgão que examinamos na autópsia", disse.
Já um estudo brasileiro, por enquanto apenas em pré-print —ou seja, sem revisão por pares—, mostrou a formação de coágulos em pacientes mais graves. Feito por pesquisadores da FMUSP-RP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto), o trabalho científico foi realizado com 13 pacientes graves, dos quais 11 apresentaram a formação de micro-trombos.
"Nossa pesquisa ajuda a reforçar a participação da trombose de pequenos vasos como um mecanismo desencadeado pelo vírus. Este achado foi observado em estudos de necropsia, mas até então ainda não tinha sido demonstrado em pacientes vivos, como fizemos neste estudo", diz Carlos Henrique Miranda, um dos autores do estudo e docente da Faculdade de Medicina da USP- Ribeirão Preto.
Rodrigo Gomes de Oliveira, cirurgião-vascular do Hospital Vascular de Londrina e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), explica que a formação de coágulos ocorre por causa de uma "tempestade" de citocinas, na qual o corpo tenta se defender e libera diversos mecanismos de defesa, provocando uma inflamação exagerada.
Esse processo inflamatório exacerbado provoca a trombose de pequenos vasos, principalmente nos menores, e com isso ocorre uma piora não somente nos pulmões, mas também no fígado, coração e até extremidades do corpo.
"Existem mais de 40 estudos ligando o aumento de proteínas inflamatórias e inflamação intravascular. Essa interrupção do fluxo faz com o que o paciente piore e ataque regiões hepáticas, dos rins e do pulmão", explica o especialista.
Por que as extremidades menores podem ser mais atingidas?
Como existe um mecanismo de defesa do corpo, ele fecha os vasos das extremidades para preservar órgãos nobres como cérebro, coração, rim e fígado.
Como esses vasos também já sofreram fechamento por causa do mecanismo de defesa e aumento de citocinas, quanto menor, mais suscetíveis eles ficam para formar coágulos. Por isso pode ocorrer em áreas mais extremas, como língua, ponta dos dedos e nariz.
O que podemos esperar com essas descobertas?
Para Oliveira, os resultados mostraram que a covid-19 não é só ocasionada por um vírus que ataca o pulmão, mas é uma doença inflamatória, na qual a resposta do nosso corpo muitas vezes acaba piorando a situação clínica do paciente.
Embora ainda não exista uma vacina ou até um tratamento específico para o problema, o médico reforça que com esses resultados é possível investigar melhores maneiras de como combater o vírus. "Podemos tentar corticoides, anticoagulantes. Você acaba tendo um 'norte' sobre remédios e maneiras para combater a resposta inflamatória do coronavírus", conclui.
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