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'Ganhei quase 10 kg no isolamento só beliscando'; veja o que causa hábito

Débora Alves de Oliveira acaba comendo de pouquinho ao longo do dia, e ingerindo grandes porções de alimentos sem perceber - Arquivo pessoal
Débora Alves de Oliveira acaba comendo de pouquinho ao longo do dia, e ingerindo grandes porções de alimentos sem perceber Imagem: Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para o VivaBem

17/07/2020 04h00

A maquiadora Débora Alves de Oliveira, 28 anos, engordou quase dez quilos desde o início do isolamento social e boa parte desse peso a mais na balança se deve ao costume de "beliscar" comidas. "Eu como um doce e depois quero comer um salgado, mas então como o salgado e aí me dá vontade de doce (risos). Outro dia, comprei várias frutas na feira para evitar os doces, mas acabei comendo quase todas no mesmo dia, de pouquinho em pouquinho. Lá se foram três peras, uma caixa de morango e metade de um abacaxi", conta.

Muitos não sabem, mas isso tem um nome "nibbling" termo em inglês para o ato de ficar beliscando pequenas porções de alimentos. Ele é apresentado no Transtorno de Compulsão Alimentar, como um padrão alimentar de quem ingere comida diversas vezes ao dia, sem necessariamente estar com fome. "Acho que é ansiedade essa vontade desenfreada de estar mastigando o tempo todo e o isolamento social contribui muito para isso", diz Débora.

Clarissa Hiwatashi Fujiwara, nutricionista e coordenadora de nutrição da Liga de Obesidade Infantil do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) reforça que esse hábito de beliscar foi ainda mais estimulado no isolamento social. Ela cita uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em que, através de questionário online, observou-se dentre os 40 entrevistados, o aumento de peso no período de confinamento. "Foi relatado o maior comer em resposta ao estresse e ao estímulo ocasionado quanto ao alcance da visão de beliscos, principalmente após o jantar", relata Fujiwara.

Perda de noção da própria fome

Beliscar trabalhando - iStock - iStock
Pessoas que perdem a noção da própria fome são mais propensas a esse comportamento
Imagem: iStock

Esse costume alimentar pode acontecer em qualquer idade, porém é mais frequente em adultos. "Ele surge normalmente após dietas restritivas, em que a pessoa vai se privar de alguns alimentos e passa ter a falsa sensação de estar realizando uma dieta quando está comendo de pouco em pouco. Estas pessoas perdem a noção das sensações de fome. É muito difícil pessoas com este padrão comer ao ponto de passar mal", explica a psicóloga Valeska Bassan, especializada em Transtorno Compulsivo Alimentar e coordenadora do Ambulim (Programa de Transtornos Alimentares) do HC-FMUSP.

A especialista afirma que esse tipo de comportamento também é comum em quem se submete a cirurgia bariátrica ou ao uso de balão intragástrico. "Muitas vezes são pessoas que já tinham um padrão alimentar transtornado ou até mesmo tinham o diagnóstico de transtorno de compulsão alimentar. Com a redução da capacidade de ingestão de alimentos, passam comer pequenas quantidades de comida e com mais frequência, mantendo o transtorno de compulsão ou comer beliscador", diz ela.

O psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, também do Ambulim do HC-FMUSP, fala que usualmente o comer beliscador está relacionado a sentimentos de tédio, frustração e ansiedade. "Muitas vezes há dificuldade em identificar os sentimentos presentes, ou mesmo os possíveis fatores precipitadores, então beliscar aparece como um automatismo. Situações de ócio podem ser também facilitadoras", diz ele.

Inicialmente o tratamento para o problema consiste em orientação nutricional e até mesmo psicoterapia, quando há fundo emocional para o comportamento. Azevedo considera que na falha de resposta ao tratamento nutricional e psicoterápico, o uso de medicamentos pode estar indicado. "As escolhas seriam as mesmas utilizadas no transtorno de compulsão alimentar, e baseadas nos mecanismos de neurotransmissores, sendo a ação esperada a promoção de controle da impulsividade alimentar e promoção de saciedade. Alguns antidepressivos ou estabilizadores do humor podem ser utilizados", finaliza.

Dicas para reduzir os "beliscos" não saudáveis

Beliscar no trabalho - iStock - iStock
Não deixar os doces acessíveis é uma das dicas para freiar esse comportamento
Imagem: iStock

Fujiwara ressalta que esses beliscos são práticos de se consumir, porque são embalados em pacotes, fáceis de segurar com uma só mão, como o exemplo de biscoitos, salgadinhos, porções de amendoim, que não necessitam de descascar, ao contrário de algumas frutas ou refeições.

Considerando que a praticidade sugere a oportunidade de comer ainda mais é importante pensar como é a disposição dos alimentos na casa e a nutricionista indica algumas medidas para controlar o nibling:

  • Antes de ir beliscar algo, mesmo que seja saudável, pense se você realmente está com fome naquele momento. Espere um tempo antes de obedecer ao estímulo de ir comer algo, e veja se a vontade permanece;
  • Evite deixar o chocolate, biscoitos, balas disponíveis em locais fáceis, como bombonieres. Prefira guardá-los em armários fechados;
  • Pense na disposição dos alimentos na geladeira, colocando os mais saudáveis à vista e "escondendo" os menos saudáveis;
  • Repense a lista de compras, não negligenciando e incluindo opções de alimentos saudáveis como as frutas, que muitas vezes se encaixam nessas situações de refeições intermediárias;
  • Deixe as frutas menores em um local de fácil acesso na geladeira, já higienizadas e guardadas em sacos apropriados;
  • Já as maiores, você pode já deixar cortadas e acondicionados em recipientes próprios, também em um local visível da geladeira.