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Ele cuida do filho há 18 anos e perdeu casa: "Era a vida dele ou as contas"

Danilo e pai - Arquivo pessoal
Danilo e pai Imagem: Arquivo pessoal

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

19/07/2020 04h00

Há 18 anos, Luiz Antônio Azevedo, 65, dedica a maior parte do seu tempo nos cuidados com o filho. Hoje com 36 anos de idade, Danilo sofreu um acidente que o deixou acamado permanentemente em 2002.

"Ele estava na casa de amigos quando me ligaram e disseram que ele havia desmaiado. Até hoje não sei o que ocorreu, mas ele teve anoxia cerebral (falta de oxigênio no cérebro que resulta em danos irreversíveis). Demorou apenas 11 minutos para chegar ao hospital e já chegou praticamente morto", lembra o pai.

O jovem, na época estudante de jornalismo, ficou na UTI durante 28 dias e mais três meses no hospital tentando alguma recuperação.

Danilo - jovem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Para o pai, aceitar a condição do filho não foi fácil. "Demorou cinco anos para que eu realmente entendesse. Ele tinha 18 anos, estudava, trabalhava em dois lugares, era modelo e ia participar de uma novela, tinha recebido a carta naquela semana."

Quando recebeu alta para ser cuidado em casa, Danilo já estava com 38 kg a menos e apenas interagia pelo olhar e com sorrisos. "Sou divorciado e a adaptação foi muito difícil. No começo, alguns amigos ajudaram, mas aos poucos as pessoas foram sumindo", lamenta o pai.

Dois anos após o acidente, a família passou a receber a ajuda de Maria Teresa, uma cuidadora voluntária. "Ela foi essencial para manter o Danilo conosco. Além do tempo que é necessário dedicar, todo o cuidado é muito caro, e minhas reservas do meu trabalho de comerciante, venda do carro... Gastei tudo rapidamente", conta.

Dívidas levaram casa a leilão

Danilo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
No apartamento em Santos, litoral de São Paulo, além dos dois, vive também uma irmã idosa de Luiz. Pelos altos custos do tratamento em casa e períodos de desemprego, ao longo de anos, a família deixou de pagar parcelas de condomínio e IPTU, o que acabou levando o imóvel a leilão.

"Acertava uma parcela, atrasava três. Ou eu pagava as contas ou eu deixava meu filho vivo. Tentei acordo, passei por seis advogados... Mas no terceiro leilão, em 2019, meu apartamento foi arrematado por um preço absurdamente baixo", explica.

Hoje, Luiz conta que estão com ordem de despejo, que só ainda não foi cumprida pela situação da pandemia. A luta da família agora é encontrar um novo lugar para morar, e buscam, por meio de uma vaquinha online, a ajuda de familiares, amigos antigos de Danilo e internautas que conheceram a história.

"Apesar das dificuldades, meu filho é uma bênção, não é um problema. Cuido dele da maneira que eu posso e ainda está muito aquém do ele merece", diz o pai.

Um dos responsáveis pela vaquinha é Antônio Luiz Giardino, amigo de infância de Danilo e que ainda divide momentos com ele.

"É um rapaz que mesmo estando naquela situação, não nega um sorriso para ninguém. Antes da pandemia, eu ia na casa dele direto, mas agora nos falamos por ligações de vídeo. E continuo brincando com ele normalmente: lembro das nossas histórias, dos apelidos que ele me dava... Ele dá muita risada, dá para ver que se diverte", diz.

Além de conseguir arrecadar fundos para uma casa, Antônio diz que seu sonho é poder encontrar alguma tecnologia que permita que seu amigo se comunique de novo. "Se fosse um dispositivo para escrever, tenho certeza que eu leria 'porco branco', como ele me chamava na frente das meninas na adolescência. O Danilo sempre foi e continua bem-humorado", conta, rindo.

Danilo e amigo Twis - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal