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Coronavírus: o que faz do Brasil o lugar perfeito para testar a vacina

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Imagem: iStock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

20/07/2020 13h02

Há alguns meses, brasileiros se perguntavam quanto tempo demoraria para que uma vacina contra a covid-19 produzida no exterior chegasse aos países da América do Sul —e qual seria o lugar do Brasil na "fila de espera".

O cenário mudou e as expectativas aumentaram com as notícias das parcerias de governos estaduais com laboratórios estrangeiros, que permitiriam que duas vacinas em fase 3, quando são aplicadas em humanos, fossem testadas em solo brasileiro.

Por enquanto, estão previstos testes com a CoronaVac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e com a conhecida como "vacina de Oxford", criada pela universidade britânica com a farmacêutica AstraZeneca e estudada em parceria com a Fiocruz no Brasil.

Alta de casos é principal razão para testes no Brasil

Mas nem todos os fatores que fazem do Brasil o novo foco de interesse dos laboratórios são motivos de comemoração. O principal deles, de acordo com pesquisadores entrevistados por VivaBem, é a falha em diminuir a curva de contágio do novo coronavírus (Sars-CoV-2) de forma satisfatória. Já ultrapassados os dois milhões de casos, o país tornou-se o epicentro da pandemia no continente, e um dos primeiros colocados em números de casos no mundo todo.

"Na fase 3 dos testes, é necessário dividir os voluntários entre quem toma placebo e quem recebe a dose, e então expor essas pessoas à doença. Como aqui o vírus ainda está circulando muito, a condição é ideal para testagem", explica Natália Pasternak, microbiologista e pesquisadora do ICB (Instituto Ciências Biomédicas) da USP (Universidade de São Paulo).

A situação torna o Brasil mais interessante do que vários países desenvolvidos, inclusive a própria Inglaterra, local de criação da vacina de Oxford. "Isso por que o local já tem um número de casos em descendência. Como o vírus já não está circulando com tanta intensidade, poderia atrasar demais os resultados", esclarece Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas e pesquisador do Departamento de Microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

País conta com instituições consagradas

Em contrapartida, um ponto positivo destacado pelos pesquisadores é o fato de o Brasil contar com a tecnologia necessária. "O Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz, no Rio, e o Instituto Butantan, de São Paulo, são instituições robustas com tradição de fabricação, distribuição e campanhas de vacinas", aponta Pasternak.

A parceria, conforme explica a infectologista Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), significa um ganho enorme para a imunização dos brasileiros. "Surge a possibilidade de um acordo de transferência de tecnologia, o que possibilita que, uma vez que os testes comprovem a segurança e a eficácia da vacina, as doses sejam produzidas em território nacional."

Comunidade científica engajada

Na opinião da médica Melissa Palmieri, especialista em vigilância em saúde pelo Ministério da Saúde, outro aspecto é o comprometimento dos pesquisadores brasileiros. "Embora há anos os investimentos tenham faltado na área da pesquisa clínica, os profissionais brasileiros não deixaram de ter excelência. São pessoas apaixonadas pelo que fazem. Mais pautado pelo amor à ciência do que pelo envolvimento econômico. Isso contribui para que a comunidade científica veja com segurança a implementação dos testes aqui."

Confiança em vacinas

A compreensão da importância das vacinas também contribui para tornar o território mais interessante do que vários países estrangeiros, onde o movimento "anti-vax" (antivacina), tem mais adeptos.

De acordo com uma pesquisa publicada pela Wellcome Trust Global Monitor em 2018, na América do Sul, o percentual da população que acredita na segurança de vacinas é em torno de 68%, enquanto na Europa, o número varia entre 36% e 50%, dependendo na região.