Racismo piora saúde cognitiva de mulheres negras, mostra estudo
Um estudo publicado nesta terça-feira (21) pelo periódico Alzheimer's Association mostrou que a discriminação racial aumenta o risco de desenvolver estresse e problemas cognitivos em mulheres negras.
De acordo com a pesquisa, pessoas que sofreram mais com o racismo institucional tiveram 2,66 vezes mais chances de relatar um mau funcionamento cognitivo do que as mulheres que experimentaram o racismo com menos frequência.
"As descobertas não foram inesperadas, porque sabemos que os estressores estão relacionados à má função cognitiva, e as experiências de racismo são estressores muito grandes na vida dos afro-americanos", disse Lynn Rosenberg, um dos autores do estudo.
O trabalho científico contou com dados de 17.323 mulheres. Os pesquisadores queriam entender o que impulsionava as taxas mais altas de doenças entre as mulheres negras e o que melhoraria a saúde delas.
Mulheres que tinham em média 40 anos em 2009 responderam questionários sobre suas experiências no dia a dia e sobre o racismo estrutural. Muitas responderem que recebiam péssimo atendimento em restaurantes e lojas e eram tratadas como pessoas não muito inteligentes.
Elas também relataram experiências ruins em situações que envolviam circunstâncias incluindo trabalho, alugar ou compra de uma casa, entre outros.
Em 2015, mulheres de 55 anos responderam a um questionário por telefone sobre eventos recentes e tiveram que fazer uma pequena lista de itens, além de mostrar se tinham dificuldades para entender certas cenas de programas na televisão. Quanto mais as mulheres relatavam racismo em suas vidas, pior eram suas habilidades cognitivas.
O estudo mostrou que o efeito de experiências discriminatórias na parte cognitiva pode estar dentro do hipocampo, responsável pelo armazenamento do cérebro para memórias de longo prazo. Como essa parte do cérebro também regula a emoção e o estresse, ele possui uma alta concentração de receptores, que são os principais locais de ligação do hormônio cortisol —esses receptores detectam o estresse e comunicam o estado ao resto do corpo.
Discriminação e saúde do coração
O trabalho americano não foi o único a mostrar que a discriminação pode gerar consequências físicas e psicológicas. Uma pesquisa feita pela revista Hypertension mostrou que a discriminação sofrida por negros ao longo da vida pode estar ligada a problemas do coração, especialmente à hipertensão.
Segundo o estudo, os negros que relataram sofrer discriminação, em níveis médios e altos, apresentaram maior risco de desenvolver hipertensão, em relação aos que dissera sofrer menos preconceito.
Durante o período de acompanhamento, mais da metade dos participantes (954 ou 52%) desenvolveu hipertensão. Os voluntários que relataram sofrer discriminação ao longo da vida em níveis médios tiveram um risco 49% maior de desenvolver hipertensão, após considerar outros fatores de risco.
Dados brasileiros
No Brasil, uma pesquisa de saúde feita com 52 mil brasileiros sobre a saúde da população negra também mostrou um cenário desfavorável. O estudo chegou a ser retirado do ar pelo Ministério da Saúde.
O trabalho científico foi feito em 2018 e é intitulado como "Vigitel Brasil 2018 População Negra: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico".
Os entrevistados responderam um questionário sobre hábitos alimentares e de saúde. Em comparação com a população branca, a amostra apontou que "cenário desfavorável" para a primeira no caso do consumo de frutas e hortaliças (29,5 vs. 39,1% para a frequência de consumo regular de frutas e hortaliças e 20,1 vs. 26,7% para aquela de consumo recomendado), do consumo abusivo de bebidas alcoólicas (19,2 vs. 16,6%) e da avaliação negativa da saúde (5,2 vs. 4,0%).
Racismo amplia fosso social
Mulheres brancas têm uma vantagem salarial de 14% em relação às negras de mesma idade, escolaridade e estado de residência no Brasil. Em 2019, isso significava que, em média, as trabalhadoras pretas e pardas recebiam R$ 475 a menos por mês.
Além de expressiva, a desigualdade de rendimentos feminina por cor da pele aumentou em relação a 2012, quando era de 11,5%, o equivalente a R$ 364 mensais (descontados a inflação do período).
No caso dos homens brasileiros, os brancos ganham 13% a mais que seus pares negros com características demográficas e educacionais semelhantes. Esse percentual, que representava R$ 624 a menos recebidos pelos pretos e pardos por mês em 2019, oscilou pouco nos últimos sete anos.
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