Tia Má: "É impossível ser mãe de menina sem falar de machismo"
No Conexão VivaBem desta quinta-feira (23), Maíra Azevedo, a Tia Má, que já mãe de um menino, Aladê, de 12 anos, contou que será um desafio encarar a criação de uma menina.
"É impossível falar de ser mãe de menina sem fazer um recorte com a sociedade machista e patriarcal que a gente vive, ainda mais de uma mulher preta. Quando você faz um recorte de gênero e de raça é ainda muito mais cruel", disse.
A jornalista disse que muitas pessoas pensam apenas no lado do "mimo". "Ficam nessa coisa de criar a filha como a princesinha, do lacinho que eu vou colocar no cabelo, o vestidinho, mas quando eu penso em minha filha tenho que pensar na existência dela. Tenho que falar para a minha filha o tempo todo que a sociedade é machista. Explicar que, mesmo que ela tiver o mesmo comportamento do irmão, as pessoas podem julgá-la de forma diferente. Isso para mim é o maior desafio. Tentar explicar para minha filha que ela vive na sociedade machista patriarcal que pode, em vários momentos, objetificar ela. Isso para mim é o mais cruel".
Mas ela não nega que também está ansiosa pelo lado "frufru" da criação. "A sensação é que eu tenho que ter uma 'Mairinha', para eu poder fazer a minha minha miniatura, eu também tenho essas vontades. Todas as vezes que eu penso nela, lembro um pouco da minha infância. Fico querendo saber se ela vai ser parecida comigo. Porque eu gostava das brincadeiras de meninos e as pessoas não queriam. E eu acho que minha filha já chega em um momento melhor, onde a gente já entende que é brincadeira de criança. Ela vai poder brincar do que ela quiser brincar. E eu quero que ela queira brincar comigo também".
Frutos da pandemia
A infectologista Rosana Richtmann disse que, mesmo com as dificuldades do momento, as crianças sairão de uma forma diferente da pandemia. "A gente vê que as crianças já pedem para passar álcool na mão, para lavar as mãos. Acho isso fantástico, porque, mesmo que a pandemia vá embora, podem vir novos vírus, novos agentes, que vão de novo causar algum problema para nós. Esse aprendizado de que o que eu fizer posso influir na saúde do outro é fundamental", disse.
Segundo ela, hábitos saudáveis são assimilados quando se é criança. "Então, acho que a sua filha vai vir em um momento bastante interessante, que eu acho que até o próprio irmão vai ensinar algumas coisas que talvez sem a pandemia a gente não estivesse vivenciado", disse à Maíra.
A jornalista afirmou que também acredita que essas crianças pós-pandemia serão mais responsáveis. "Serão crianças que vão trazer para a gente uma luz para um novo caminho, porque elas já vão ter noção de que elas chegaram após superar o medo e a incerteza do futuro. Elas são o significado, a representação de que o futuro continua."
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