Botox parece diminuir sintomas da depressão, sugere estudo
A toxina botulínica, o famoso botox, geralmente é aplicado por meio de injeções para aliviar rugas, linhas de expressão em geral, enxaquecas, transpiração excessiva, entre outras coisas. O tratamento estético, até então, visava fazer pequenas correções com o intuito de promover o bem-estar, satisfação e levantar a autoestima, especialmente do público feminino. Entretanto, agora essa tecnologia parece poder aliviar os sintomas de depressão.
Um novo estudo, publicado hoje (30) na Scientific Reports, mostrou que milhares de pessoas que receberam injeções de botox em seis locais diferentes do corpo relataram a diminuição dos sintomas de depressão, em relação a outros tratamentos para as mesmas condições.
Atualmente, a injeção do medicamento está sendo testada em ensaios clínicos pela descoberta de sua capacidade de tratar a depressão. Todavia, podem ser necessários testes adicionais para determinar o melhor local e a dose para administrar o medicamento, especificamente, para o tratamento da depressão.
Como foi feito o estudo?
Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade da Califórnia usaram o banco de dados do FAERS (Sistema de Relatórios de Efeitos Adversos) da FDA —órgão regulatório dos EUA— para ver o que quase 40 mil pessoas relataram após o tratamento com botox.
Os relatórios cobrem o tratamento com botox por razões e locais de injeções diferentes, incluindo testa, pescoço, membros e bexiga. Após analisar os dados, a equipe aplicou um algoritmo matemático para procurar diferenças estatisticamente significativas entre usuários de botox e pacientes que receberam tratamentos diferentes para as mesmas condições.
Com isso, eles descobriram que a depressão foi relatada 40 a 88% menos frequentemente pelos pacientes tratados com botox, em seis das oito condições e locais de injeção.
"Esta descoberta é emocionante porque apoia um novo tratamento para afetar o humor e combater a depressão, uma das doenças mentais mais comum e perigosa —e é baseado em um corpo muito grande de dados estatísticos, em vez de observações em escala limitada", disse Tigran Makunts, pesquisador da FDA.
Os dados utilizados neste estudo, no entanto, não foram coletados com o objetivo exclusivo de explorar a associação entre uso de botox e a depressão. Além disso, os dados do FAERS representam apenas o subconjunto de usuários de botox que apresentaram efeitos colaterais negativos.
A equipe também excluiu relatos de pessoas que estavam tomando antidepressivos. Por isso, o uso de outros medicamentos prescritos e vendidos sem receita pode ter subnotificado alguns casos.
Portanto, segundo os pesquisadores, são necessárias mais pesquisas para determinar o mecanismo pelo qual o botox atua como antidepressivo.
Ruben Abagyan, PhD, professor de farmácia, e um dos autores do estudo, disse que ele e seus colaboradores levantaram algumas possibilidades que vale a pena investigar: o botox poderia ser transportado para as regiões do sistema nervoso central envolvidas no humor e nas emoções? Ou, como o botox é comumente usado para tratar condições crônicas que podem contribuir para a depressão, seu sucesso no alívio do problema subjacente também pode indiretamente aliviar a depressão?
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que mais de 264 milhões de pessoas em todo o mundo têm depressão. A depressão é frequentemente tratada com psicoterapia, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, inibidores da recaptação de dopamina-noradrenalina e/ou inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina. No entanto, essas abordagens são ineficazes para quase um terço dos pacientes.
É por isso que clínicos e pesquisadores estão explorando outras opções terapêuticas, incluindo terapia eletroconvulsiva, estimulação magnética transcraniana, infusões de cetamina e, mais recentemente, injeções de botox na testa.
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