"Só saí do efeito sanfona e perdi 54 kg quando tratei meu vício em comer"
Após tentar várias dietas sem obter sucesso, Eduardo Magalhães, 41 anos, resolveu entender sua relação com os alimentos e descobriu que tinha compulsão por comida. Em outubro do ano passado, com 137 kg, começou um tratamento junto com a esposa para emagrecer. A seguir, o gerente de produtos conta como venceu a obesidade:
"Na adolescência, aos 14 anos, bati a marca de 100 kg em uma pesagem na aula de educação física. Na época, eu fiz dieta com uma profissional e consegui emagrecer 13 kg. Depois, voltei a engordar e na época da faculdade cheguei a 120 kg. Fiquei assustado e voltei a encarar um regime.
Fazia muitos exercícios e cortei o jantar. Até funcionou e eliminei 28 kg, mas como a dieta era restritiva, não consegui seguir por muito tempo e recuperei todo o peso perdido e um pouco mais.
Em 2006, atingi 160 kg. Permaneci com esse peso por seis anos. Eu me sentia mal e não tinha noção de que era compulsivo, mas já tinha evidências de que a comida controlava minha vida. Em 2012, eu pesquisei para fazer uma cirurgia bariátrica. Nos exames, descobri que minha glicemia estava alta e tinha muita gordura no fígado. A médica me disse que, mesmo fazendo a bariátrica, para me manter dentro do peso saudável eu precisaria mudar meus hábitos alimentares e praticar exercícios físicos.
Como eu sabia que eu conseguia perder peso só com dieta, desisti da cirurgia e comecei um acompanhamento com uma nutricionista esportiva. Perdi 47 kg e um fator importante contribui para isso: na época, conheci minha atual esposa e o nosso casamento foi um estímulo importante para que eu emagrecesse. Porém, tive que mudar de Porto Alegra para São Paulo e, longe da nutricionista, acabei não dando continuidade à dieta e —adivinhe! — voltei a engordar.
No ano passado, alcancei 137 kg. Minha mãe veio me visitar em São Paulo. Fazia bastante tempo que a gente não se via e, ao nos reencontrarmos, mesmo que ela não tenha dito nada, senti que ficou preocupada com meu peso. Isso despertou um alerta em mim. Precisava fazer algo.
No trabalho, alguns colegas passaram a frequentar um espaço terapêutico e decidi experimentar. Não era apenas uma dieta com nutricionista, era um trabalho comportamental e psicoterapêutico que ataca a compulsão alimentar. Ali, descobri que tinha a mesma dependência de quem fuma, de quem bebe demais, de quem se droga. Mas, no meu caso, o vício era comer. Após a primeira consulta, ficou claro que tinha essa patologia e precisava tratá-la.
Eu descontava minhas alegrias e frustrações na comida. Estava triste ou estressado? Comia para aliviar o sentimento ruim. Se tinha uma conquista no trabalho, ia comemorar no restaurante. Comer me trazia um prazer enorme e tudo na minha vida girava em volta da comida. Mas eu nunca tinha percebido que era 'viciado' em comer.
Em outubro do ano passado, comecei a fazer terapia para me desconectar da comida e não depender dela para resolver questões emocionais. O tratamento tem três partes: abstinência, manutenção e controle. Na primeira, na qual acabei de sair, eu pesava tudo o que ia comer e também não comia carboidratos simples. Meu cardápio tinha muitas verduras, legumes e proteínas (carne, frango, peixe, ovo). No começo tive mais dificuldades para mudar o cardápio, mas agora estou bastante habituado.
Nesse período de pouco mais de nove meses, tive apenas uma recaída. Foi bem no começo da pandemia. Por alguns segundos, reduzi minha atenção e acabei comendo uma porção a mais do que devia. Isso comprovou que, durante o tratamento, é preciso atenção total para seguir a regra.
Também deixei de comer algumas coisas que me faziam perder o controle das porções, como churrasco, pizza e comida japonesa. Evito a exposição para não gerar gatilhos e ter recaídas. O único que não cortei totalmente foi a comida japonesa, mas faço trocas inteligentes. Em vez de sushi, que tem arroz branco, opto pelo sashimi.
Parei de romantizar a comida e fazer com que as relações sociais fossem em volta de refeições. Diminui consideravelmente as idas ao restaurante e comecei a criar outros hábitos. Troquei almoços e jantares por passeios no parque ou em museus, por exemplo.
A minha esposa me ajudou bastante e fez o tratamento comigo. Ela emagreceu 27 kg: de 85 kg, baixou para 58 kg. Desde 13 de março, estamos trabalhando de casa devido à pandemia do coronavírus. Para seguir a dieta, a gente prepara as refeições aos finais de semana para toda a semana. É uma técnica bem legal, porque dá uma certa segurança e evita deslizes ao ter de pedir comida da rua.
Em 19 de julho, bati a minha meta e cheguei a 82,5 kg. Agora, começa a fase de manutenção, de diminuir a velocidade de emagrecimento e não engordar mais.
Depois de perder 54 kg, já começo a notar os benefícios para o organismo. Antes, tinha apneia do sono e roncava muito, agora não tenho mais. Também tenho mais disposição para fazer as coisas do dia a dia e praticar exercícios. Até as divisões das tarefas aqui de casa eu percebi diferença. Antes eu era bem relapso e agora tenho um carinho todo especial para cuidar da nossa casa.
Também tinha muita dificuldade para comprar roupas. Antes, se precisasse comprar, nada me servia. Para ir em um casamento antes do tratamento, precisei comprar um terno. Rodei a cidade e quase não encontrei do meu tamanho, que era XXG. Agora, entro em uma loja e várias peças me servem, uso camisa tamanho M. Já as calças, usava 56 e agora sirvo em 42, 40. É uma sensação indescritível."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.