Vacina da Rússia: por que o registro sem concluir testes não é confiável
Deixando a comunidade científica global intrigada, o presidente da Rússia, Vladmir Putin, anunciou nesta terça-feira (11) o registro de uma vacina contra a covid-19, e afirmou que espera torná-la disponível à população em outubro.
Embora diversas pesquisas que tentam encontrar a imunização tenham acelerado etapas pela urgência da crise, o processo incomparavelmente veloz dos russos levantou dúvidas — e não à toa: pouco se sabe sobre os resultados dos testes.
Vacina não completou todas as fases de pesquisa
O medicamento foi desenvolvido pelo Instituto Gamaleya de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia, em parceria com o Ministério da Saúde e o Ministério da Defesa, e ainda não completou a fase 3 de estudos clínicos (de acordo com Putin, ela começou semana passada).
Essa fase é considerada crucial, já que prevê testagem ampla em humanos. "Não é aceitável que nenhuma vacina ou medicamento seja aprovado sem que sejam respeitadas todas as etapas. É baseado nisso que podemos dizer se um medicamento é seguro. É quando realmente vamos ver em um número maior de pessoas, não só a segurança mas a eficácia dessa vacina", afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Dados não foram divulgados
Diferentemente de outras candidatas, como a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, que teve os resultados de sua pesquisas publicados no conceituado periódico científico The Lancet, a criação russa não apresentou dados sobre os resultados das duas primeiras fases da pesquisa.
"Na fase 2 você já tem dados de segurança e efiácia com um número pequeno de pessoas. Na fase 3, a amostragem de testes aumenta, e depois a vacina ou medicamento é licenciado. Mesmo quando é colocado no mercado, ainda continua a vigilância de efeitos adversos Isso é importante também para garantir a segurança das pessoas. Sem dados das fases, a gente fica com uma interrogação enorme. Foge de todos os protocolos éticos e de segurança", analisa Ballalai.
Desconfiança pode afetar outras vacinas
De acordo com Melissa Palmieri, especialista em vigilância em saúde pelo Ministério da Saúde, a falta de transparência de dados pode repercutir negativamente em uma futura implementação da vacinação e levar o público a duvidar de outras candidatas.
"Em um momento no qual muitas vezes se coloca a credibilidade das vacinas em jogo, mesmo depois de tantas conquistas da ciência, o lançamento de uma vacina que não respeita as avaliações e fases corretas de pesquisa de novas vacinas antes de sua implementação populacional, pode levar a uma descrença generalizada com relação ao desenvolvimento das que estão assegurando esses preceitos. Colocar todas em um mesmo patamar é um grande risco", aponta.
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