Pesquisador da Fiocruz diz que vacina russa ainda é 'muito arriscada'
Batizada como "Sputnik 5", a vacina contra o novo coronavírus desenvolvida e registrada pela Rússia hoje ainda é "muito arriscada" e não apresenta "nenhum dado de eficácia", afirmou Júlio Croda, infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
"É importante que a ciência tenha seu tempo de avaliação, principalmente no que diz respeito à eficácia. Essa vacina russa foi testada em 38 participantes, ela é constituída de adenovírus em duas doses, uma dose inicial e após 21 dias outra dose com outro tipo de adenovírus", disse Croda em entrevista à GloboNews.
Então não existe nenhum dado de eficácia dessa vacina, é muito arriscado, é mais uma propaganda do governo russo no sentido de estar ofertando uma vacina que teoricamente não tem nenhum dado em relação à eficácia
Júlio Croda, infectologista
O infectologista e pesquisador explicou que a avaliação em apenas 38 pessoas configura um estudo de fase 1 de uma possível vacina. Para que a pesquisa avance para a fase 2, seriam necessárias centenas de pessoas. Na fase 3, a vacina deveria ser testada em milhares de voluntários.
Desta forma, os dados apresentados pela nova vacina russa seriam limitados em termos de segurança e resposta imune.
"É muito perigoso, porque leva a um problema também de comunicação. É a mesma história do 'Kit covid', quando você fala que existe uma vacina, a pessoa pode tomar e achar que está protegida, e a gente não tem nenhum dado em relação a essa proteção", explicou Croda.
Produção em setembro, promete Rússia
Falando em uma reunião do governo hoje, o presidente russo Vladimir Putin enfatizou que a vacina passou por testes adequados e se provou segura para uso. Autoridades do país disseram que profissionais da área médica, professores e outros grupos de risco serão os primeiros a serem vacinados. A produção em grande escala começará em setembro e a aplicação em massa pode começar já em outubro.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) indicou que está em contato com as autoridades russas sobre o andamento das pesquisas relacionadas com a vacina anunciada pelo Kremlin.
"A OMS pode recomendar que não seja utilizada, mas decisão final é sempre do país, o país tem autonomia", finalizou Júlio Croda.
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