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Equilíbrio


Priscila Fantin: "Pessoas falavam que minha depressão era frescura"

Do VivaBem, em São Paulo

11/08/2020 10h30

No Conexão VivaBem desta terça-feira (11), a atriz Priscila Fantin revelou que não teve muito apoio quando percebeu que não estava bem psicologicamente. "Antes de eu entender que estava com depressão, o que eu mais escutava das pessoas próximas é que eu estava de frescura, que não tinha motivo para estar do jeito que eu estava, que eu tinha tudo, tinha saúde, casa, comida".

Segundo ela, que foi diagnosticada com depressão em 2008, o relacionamento em que estava na época também não ajudou. "Infelizmente entrei em um relacionamento que só piorou a condição, porque me afastou muito dos meus familiares, dos meus amigos e me colocava em um lugar pior. Era pior para a minha autoestima, me enfraquecia ao invés de me fortalecer".

A atriz ainda contou que passou 10 anos fazendo psicoterapia e tentando entender o que aconteceu, mas que a chegada de Bruno Lopes, hoje seu marido, em sua vida, fez diferença no tratamento. "Eu aprendi a lidar com o meu estado, mas eu não estava ainda bem. Quando eu conheci o Bruno, ele teve um papel fundamental na paciência e no apoio de estar ao lado quando eu mais sentia dor, mais sentia necessidade. Muitas vezes a gente acha que a rede de apoio é dar colo, mas às vezes o colo faz com que a gente fique no mesmo lugar. Então, ele me deparava com a minha própria realidade, me mostrava as verdades, me ajudava a enfrentar os monstros internos. Isso foi fundamental para que eu realmente me conhecesse, conseguisse ter mais força interna".

"Ninguém é sozinho"

O psicólogo Lucas Veiga disse que a depressão pode ser melhor entendida ao colocar o ser humano como alguém que não se sustenta sozinho. A relação, não só com família, amigos, paceiros e colegas, mas com trabalho, cultura, arte é o que sustenta e o que dá um sentido à existência. Mas quando alguma dessas engrenagens falha —o que pode ser a perda de um emprego, de um relacionamento, a morte de alguém muito próximo, perdas materiais —, o indivíduo pode entrar em um quadro depressivo.

"Quando aquilo que dava contorno para o seu eu deixou de existir, essa experiência de fragmentação pode colocar a pessoa em uma situação muito difícil, que é de perda do sentido da própria vida. O sentido da vida está muito relacionado com aquilo que a gente estabeleceu para gente, como o que a gente é, o que a gente deseja e o que a gente gosta. E se isso está falhando, está fragilizado, é comum que a gente experimente uma perda de sentido", disse.

O resgate desse sentido vem justamente com novas conexões. Foi o que Fantin fez. "Comecei a procurar o que me preenchia e o que condizia com o meu novo eu, então novas amizades, um trabalho que eu e Bruno fizemos juntos e criamos juntos, que é uma peça de teatro que tem um cunho social".

Veiga disse que o processo de cura é como encontrar a ponte que reconecte aquele indivíduo a uma nova estrutura. "Ela consegue, a partir da rede de apoio, de terapia, amigos, trabalho, enfim, aquilo que mobiliza o desejo dela, criar uma outra forma de estar no mundo, com outras engrenagens de sustentação. E isso é a saúde, isso é um estado de saúde, quando a gente consegue sustentar o nosso desejo".