Egoísmo nem sempre é algo negativo: conheça o lado bom e como usá-lo
Resumo da notícia
- A ideia do egoísmo como negativo ou positivo é algo questionável --apesar de as pessoas estarem acostumadas a considerá-lo algo ruim
- Egoísmo universal é uma tendência geral de comportamentos dos indivíduos em se protegerem sempre em primeiro lugar
- Esse egoísmo universal pode até ter uma espécie de ?efeito colateral benéfico?, mas é essencial ter consciência da motivação dessas ações
Usar máscara ao sair de casa pode proteger você e, consequentemente, o outro. Ou seja, a atitude pode ser adotada em benefício próprio, mas acaba contribuindo com o coletivo. O mesmo acontece quando você evita aquela discussão no trânsito para não ser agredido e, de quebra, ajuda a diminuir a violência. São atitudes egoístas que acabam motivando uma ação positiva em prol do outro também.
"A ideia do egoísmo como negativo ou positivo é bastante questionável, se pensarmos sob uma perspectiva adaptacionista e/ou evolucionista", explica o psicólogo Ricardo Wainer, psicoterapeuta cognitivo-comportamental e professor titular do Curso de Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica Rio Grande do Sul). Afinal, o julgamento moral dos comportamentos dos indivíduos sempre deve ser levado em consideração dentro do contexto histórico, cultural, social e econômico em que ocorrem.
Entenda o conceito de egoísmo universal
A definição de egoísmo universal refere-se a uma tendência geral de comportamentos dos indivíduos em se protegerem sempre em primeiro lugar, o que está de acordo com o primeiro instinto básico de todos os animais, o de sobrevivência. Por isso, alguns comportamentos ditos egoístas são fundamentais para o organismo, sendo que neste caso, isso não coincide necessariamente com uma intenção de prejudicar o outro, mas sim em se preservar.
De acordo com Wainer, todos os seres humanos emitem comportamentos que podem ser considerados egoístas, no sentido que estão voltados ao seu interesse único. No entanto, em geral, o egoísmo está ligado às ações que o sujeito executa sem considerar a necessidade ou impacto dos demais. "Se isso é feito de forma consciente e com uma clara avaliação que fere regras sociais de convivência da cultura, temos a concepção de egoísmo negativo", define o psicólogo.
É importante ampliar a reflexão
Por isso, o psicólogo André Luís Masiero, docente na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) afirma que é preciso ter cuidado nessa avaliação. "Esse egoísmo universal pode até ter um lado positivo, uma espécie de 'efeito colateral benéfico', mas é essencial ter uma consciência da motivação dessas ações", expõe o especialista.
Ações aparentemente egoístas podem ser desinteressadas ou em benefício do outros, assim como o contrário também é verdadeiro. "Podemos falar em efeitos positivos se tivermos um equilíbrio e consciência entre as motivações para o altruísmo e o egoísmo", confirma o docente.
Em alguma área da personalidade somos egoístas. Entretanto, não há como mensurar um egoísmo normal ou exagerado. O parâmetro que se utiliza nas ciências psicológicas é o de analisar os prejuízos e sofrimentos que determinado comportamento ou pensamento causam ao próprio indivíduo e à coletividade. "É necessário que as estruturas culturais como a escola, as igrejas, as corporações e as famílias tragam essas reflexões e proporcionem o desenvolvimento de personalidades mais cooperativistas e mais empáticas", acrescenta Masiero.
Conotação moral ruim
Já a psicanalista Anne Lise Di Moise Scappaticci, professora da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) avalia que o termo egoísmo tem uma conotação moral que leva ao juízo de certo ou errado, bom ou ruim. "Penso que o termo correto do ponto de vista psicológico é o narcisismo, uma força de todo o ser humano para a sobrevivência de si mesmo e em última análise de sua espécie". E para a especialista, ainda assim, pode haver um lado positivo. "Pensar em si mesmo pode estimular a empatia quanto à necessidade de outras pessoas —de algo que é importante para você e deve ser importante para outro ser humano também", diz.
Na psicologia, Wainer defende que existem comportamentos disfuncionais quando estes geram prejuízo ou sofrimento ao indivíduo ou àqueles que o cercam. "Vemos essas características de funcionamento em indivíduos com transtornos de personalidade do tipo narcisista (se consideram especiais e não julgam que tem de agir em conformidade com as regras sociais) e tipo antissocial (que apresentam déficit na capacidade empática, e acabam por utilizar as outras pessoas como "coisas" na busca de seus interesses materiais)", informa.
Portanto, entende-se que todos podemos agir em algum momento restrito com as mesmas estratégias de enfrentamento que tais tipos de personalidade apresentam, mas em uma frequência e intensidade muito menores, sendo adaptativo naquele contexto. "É importante lembrar que todas as pessoas têm traços de personalidade que podem ser desenvolvidos de maneira melhor, por meio de psicoterapia, por exemplo, é possível passar por um processo de conscientização, de autoconhecimento e de aprendizado melhorando sua convivência, e até ampliando sua reflexão sobre tais motivações e ações", finaliza Masiero.
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