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EUA aprovam novo teste de coronavírus pela saliva: entenda como funciona

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Imagem: iStock

Nathalie Ayres

Do VivaBem, em São Paulo

16/08/2020 17h52

Durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) a testagem se torna uma aliada muito importante: quanto mais pessoas passarem pelo diagnosticado do vírus, maiores as chances de os governos e instituições de saúde saberem como está a disseminação do vírus. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que todos sejam testados, principalmente para encontrar e isolar os pacientes assintomáticos —importantes vetores na disseminação do vírus.

No entanto, no Brasil ainda temos apenas um índice de testagem de 63 para 100 mil de habitantes, o que é considerado baixo. Entre os entraves para a testagem está a grande necessidade de insumos e EPIs para fazer estas coletas e o alto custo que isso traz para o Estado. Um problema comum em outros países também.

Pensando nisso, pesquisadores de Yale decidiram trabalhar em uma testagem usando saliva, um teste que eles chamaram de SalivaDirect. E a técnica foi aprovada em caráter emergencial pela FDA (Food and Drug Adminstration) —órgão que atua como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Essa testagem é mais prática —mesmo que a análise do material precise ser feita em laboratório, a coleta pode ser realizada em casa, sem um profissional de saúde —, além de custar menos.

Até agora dois estudos sobre a técnica foram publicados em pre-print, ou seja, sem a revisão de outros pesquisadores de fora do estudo. A pesquisa mais recente saiu dia 4 de agosto. Os pesquisadores fizeram testes com diferentes materiais de diversos fornecedores —tanto os potes para coleta quanto os reagentes que detectarão o vírus. Dessa forma, ele pode ser adaptado a diferentes realidades em outros países ou a problemas de fornecimento de insumos, que costumam ocorrer no cenário de pandemia.

Em entrevista ao site da Yale, os pesquisadores chefes do estudo Nathan Grubaugh e Anne Wyllie afirmaram que não pretendem comercializar o método. Em vez disso, eles desejam fornecer um protocolo de teste simplificado para ajudar os mais necessitados.

Como funciona o teste de covid-19 pela saliva?

O teste é um PCR, como o que tem sido feito hoje no Brasil pelos laboratórios. Nele são buscados fragmentos do vírus nas células do paciente. No entanto, em vez de analisar amostras retiradas do nariz e da faringe, ele usa a saliva. A vantagem é que para fazer a coleta é só cuspir no potinho de amostra, algo menos invasivo. "Por isso não preciso de um profissional de saúde treinado para ajudar, a coleta pode ser feita pelo paciente", explica a dentista Débora Heller, professora da pós-graduação da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul), pesquisadora visitante do Hospital Israelita Albert Einstein e professora da University of Texas Health San Antonio (EUA).

Depois disso, a amostra ainda deve ser enviada ao laboratório, onde será analisada —do mesmo modo que os testes PCR feitos hoje no Brasil. Mas até esse processo é mais simples, já que a técnica desenvolvida pela Universidade de Yale não exige conservantes na coleta de amostra —eles perceberam que o SARS-CoV-2 é estável na saliva por períodos prolongados em temperaturas quentes — e a testagem é feita de forma diferente e mais rápida.

O teste é tão bom quanto o PCR feito atualmente?

De acordo com Heller, há estudos mostrando que o teste usando amostras de saliva é tão eficiente quanto as amostras retiradas do nariz e faringe, considerado o padrão ouro atualmente. "Eles parecem ser equivalentes: o teste de saliva apresentou de 66% a 92% de sensibilidade (dependendo do reagente usado) e uma especificidade alta, ou seja, quando ele acusa que o vírus está presente, é porque está mesmo", compara a especialista em saliva e testes clínicos.

Há outro ponto importante: por ser mais barato (tem um custo de cerca de 10 dólares por teste, o que equivale a R$ 54,27) ele pode ser aplicado em mais pessoas, inclusive os assintomáticos. "Como o estudo foi feito com o financiamento da NBA (liga de basquete norte-americana), portanto os jogadores estão fazendo os testes semanalmente, mesmo sem apresentarem sintomas", explica Heller.

Testagem por saliva seria muito útil no cenário brasileiro

Por enquanto o teste foi aprovado nos Estados Unidos, mas ele tem o potencial de ser bastante importante para o Brasil, já que nossos índices de testagem são ainda menores do que dos norte-americanos. "O custo baixo e a economia em EPIs, já que as coletas podem ser feitas pelo próprio paciente, tornam o teste bastante vantajoso para detecção em massa, que será cada vez mais necessária no cenário de reabertura econômica", considera Heller. Mas, para tanto ele precisaria ser submetido à aprovação da Anvisa, por isso, ainda não há como prever.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o índice de testagem no Brasil é de 63 para 100 mil de habitantes, e não 63 mil, como informado. O texto já foi corrigido