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Células nervosas de autistas diferem antes do nascimento, indica estudo

FotoDuets/iStock
Imagem: FotoDuets/iStock

Do VivaBem, em São Paulo

24/08/2020 13h26

Em busca de compreender a origem do autismo, um transtorno neurológico que influencia na capacidade de comunicação e interação social e costuma ser diagnosticado em crianças a partir de 18 meses de idade, cientistas têm realizado testes para rastrear o desenvolvimento pré-natal.

Agora, um novo estudo liderado por pesquisadores britânicos e publicado no periódico Biological Psychiatry indica que as células cerebrais de pessoas autistas se desenvolvem de maneira diferente das de indivíduos típicos, termo usado para caracterizar quem não tem a condição.

Como o estudo foi feito

  • Os pesquisadores isolaram amostras de cabelo de nove pessoas autistas e seis pessoas típicas e transformaram as células em células tronco pluripotente induzidas (do inglês, induced pluripotent stem cells, IPSC).
  • As IPSC são células de organismos adultos que, através da expressão de fatores de transcrição específicos, ganham uma característica bastante particular de célula embrionária. Elas retêm a identidade genética da pessoa.
  • Os autores examinaram a aparência das células em desenvolvimento em vários estágios e sequenciaram seu RNA para ver quais genes as células expressavam.
  • Após nove dias,os neurônios em desenvolvimento de pessoas típicas formaram "rosetas neurais", um indicativo de neurônios em desenvolvimento típico.
  • As células de pessoas autistas formaram rosetas menores ou não formaram nenhuma roseta. Além disso, os principais genes do desenvolvimento foram expressos em níveis mais baixos nas células de pessoas autistas.
  • Após 21 dias, as células de pessoas típicas e autistas diferiam significativamente de várias maneiras, sugerindo que a composição dos neurônios no córtex difere no cérebro autista e em desenvolvimento típico.
  • Em contraste com as diferenças vistas nos neurônios corticais, as células direcionadas para se desenvolver como neurônios do mesencéfalo -- uma região do cérebro não implicada na disfunção do autismo -- mostraram apenas diferenças insignificantes entre pessoas típicas e autistas.

Por que a descoberta é importante

Embora o estudo seja pequeno e necessite incluir mais participantes para apoiar as evidências, de acordo com John Krystal, editor-chefe da Biological Psychiatry, os resultados da pesquisa já indicam um caminho importante. "O surgimento de diferenças associadas ao autismo nessas células nervosas mostra que o quadro é formado muito cedo", afirmou, em release sobre a pesquisa.

Simon Baron-Cohen, diretor do Autism Research Center em Cambridge, e co-autor o estudo, acrescentou: "Algumas pessoas podem estar preocupadas que a pesquisaossa ter como objetivo prevenir, erradicar ou 'curar' o autismo. Essa não é a nossa motivação, e somos francos em nossos valores ao nos levantarmos contra a eugenia e valorizarmos a neurodiversidade. Esses estudos levarão a uma melhor compreensão do desenvolvimento do cérebro tanto em autistas quanto em típicos indivíduos."